domingo, 30 de outubro de 2011

[Conto] Sexta-feira 13 - Perseguição na Floresta (Débora E. Araújo)


Post especial de contos escritos pela equipe Dear Book durante a Semana de Halloween


"Sexta-feira 13 - Perseguição na Floresta" (Débora E. Araújo)

Bruna olhou para trás pelo que deveria ser a vigésima vez nos últimos cinco minutos. A sensação de desconforto poderia ser considerada de praxe para ela, que caminhava por uma rua deserta etão silenciosa quanto uma sepultura. Ela sabia que já deveria ser quas emeia-noite, mas seus amigos não pareciam se importar com isso.

— Ah, qual é, Bruninha! — disse Alam, o mais alto do grupo. — Agora já está virando paranóia! Até parece que tem um psicopata teperseguindo.

Daiane riu.
— Talvez ela esteja com medo das bruxas na sexta-feira treze — ironizou. Bruna classificava as pessoas em três categorias: pessoas interessantes, pessoas toleráveis e pessoas como Daiane. E o ego dela estava lá em cima desde o aniversário de dezoito anos, quando seu pai lhe dera um carro zero de presente.

Tão infantil.
— Rá, rá, rá! — ela falou. — O seu humor negro me encanta tanto, Daí! Combina com a sua alma de viúva-negra.

Daiane cerrou os olhos em sua direção. Quase podia vê-los soltando raiozinhos.

Guilherme, o que andava n aponta, abanou a cabeça. Mulheres.
— Não esquenta, Bruna. A Daiane sente um prazer sombrio em irritar outras pessoas.

Ele levou uma cotovelada. De todos ali, Guilherme era de longe a pessoa de quem Bruna mais gostava. Não só porque ele era totalmente educado, (e obviamente bonito), mas porque ele tinha aqueles olhos negros profundos como poços.

Mas, apesar de o comentário de Daiane ter sido totalmente maldoso, ela estava certa. Era sexta-feira treze, um dos piores dias para transitar durante a noite, principalmente àquela hora. E Bruna era o que se chama supersticiosa. Não, ela era ainda pior com essas coisas.
Dois dos colegas deles caminhavam mais atrás. Se era porque queriam privacidade ou porque estavam altos demais, ninguém poderia dizer. Talvez ambos.
O motivo de estarem tão tarde caminhando por aquele lugar tenebroso na verdade era uma confraternizaçãozinha num bar e restaurante chamado "Pimenta do Reino". Era um estabelecimento relativamente humilde, e muito mal localizado, mas a comida era ótima e por isso estava sempre cheio. O problema era que eles tinham que atravessar muitos quarteirões para voltar para casa e Daiane, a única que tinha um carro, havia batido na primeira semana, para o desgosto de todos. Então, eles caminhavam. No caminho, uma pequena reserva ambiental se erguia de um dos lados da rua.

— Por que a gente tem que dar a volta? Vamos andar o dobro do caminho! — queixou-se Daiane, como sempre a primeira a reclamar. — A gente podia pegar a trilha na reserva.

Bruna suspirou. A noite parecia sombria: a enorme lua cheia, normalmente grande e redonda no céu, com seu brilho prateado, estava encoberta por nuvens espessas desde que nascera.

— Nem pensar! — gritou Vanessa lá de trás, tão grogue que foi difícil entender o que dizia. — Pode ter cobraslá dentro! — ela arrastou a última sílaba.

— Sua medrosa! Se você prefere andar mil quilômetros, fique à vontade! Eu vou pelo atalho — respondeu Daiane.

Vanessa franziu o cenho, o movimento que a fez perder o equilíbrio e quase se estatelar no chão, porém ela seguiu o grupo em direção à reserva.

— Odeio andar à noite no meio de árvores assim — confessou Guilherme uma hora. — E ainda por cima andar numa floresta à noite, sexta-feira treze e lua-cheia...

— A lua nem está aparecendo! —respondeu Bruna, rindo um pouco tensa.

— Eu sei, mas mesmo assim é estranho. Me lembra aquele filme Lobisomem, onde o cara se transforma e arranca as tripas das pessoas. Ou A Bruxa de Blair.

Dessa vez Bruna riu de verdade.
— Você assiste filmes demais.Acho que está viajando!

Guilherme a olhou de esguelha.
— Pode admitir, você também está com medo. Eu não vou tirar sarro.

— É, estou. A Bruxa Malvada do Oeste pode vir me pegar. — disse Bruna.

— Pode deixar, eu te protejo — Guilherme respondeu rindo.

Bruna sorriu. Eles continuaram lado a lado até que o espaço entre as árvores se alargou.

— Olha só, agora dá para ver a lua — comentou Guilherme olhando para cima.

Bruna levantou a cabeça, assustada.
Ouviu-se um estrondo. Era forte o suficiente para ser um leão rugindo. Os seis pararam, em choque.

— Eu falei que não era uma boa idéia vir por aqui! — falou Vanessa. — E eu estava pensando em cobras, mas leões? Tô fora!

Daiane se irritou.
— Não seja ridícula! Leões soltos no meio de uma cidade?

O vento soprou, tão gélido que atingia a alma. As árvores, até então normais, balançaram fantasmagoricamente. Eles escutaram um barulho que parecia o de cães correndo pela reserva.

— Devem ser apenas vira-latas— arriscou Alam, entretanto era visível que havia dito isso mais para tentar se convencer.

— Tchau! Vocês podem ir no meio dos bichos selvagens sozinhos! — Vanessa, que já estava uma bêbadahistérica, deu meia volta e refez seus passos. Mauro, o rapaz com ela, seguiu a companheira enquanto os outros seguiam em frente.

Dessa vez, o barulho foi tão próximo que parecia estar ao lado deles. Passos, galhos quebrando e um estrondo como o de pedras sendo jogadas. Não, não era bem isso. Eram árvores sendodestroçadas.

Alam disparou na frente antes que qualquer um deles tivesse reação. E um grito soou, agudo e desesperado, e todos eles reconheceram imediatamente. Vanessa. Em seguida, outros juntaram-se aos dela, ambos esbaforidos e assustadores.
— Alam! — ganiu Daiane. —Alam, seu cretino! Espera!

Guilherme olhou para trás, decidido a ver o que tinha acontecido com os outros. Os gritos continuavam até que um ruído nauseante percorreu todo o espaço onde eles estavam. Pareciam panos molhados atingindo algo. E depois outro ruído — esse ele reconheceu. Era o mesmo som que escutara aos quinze anos, quando caíra de skate e quebrara a perna. Só que esse pareciam milhares de pernas sendo quebradas.

— Vanessa! — gritou ele. Olhou para trás para pedir a Bruna que não se separasse dele, mas ela já não estava lá.

Em pânico, não sabia para qual lado ir. Ele ainda podia escutar passos e rugidos e, um instante mais tarde, tudo voltou ao silêncio habitual. Ele escutou apenas um curto gemido, e o que poderia ser milhões de tecidos se rasgando. Um uivo alto e aterrorizante ecoou no silêncio temporário, e em seguida outros o acompanharam.
Aquilo era mal. Não, pior que mal, péssimo. Lobos numa reserva ambiental? Guilherme não conseguia parar de ver flashes do filme que falara antes. No entanto, ele tinha que achar Bruna. Ela estava em perigo.
Ele correu através dos galhos e dos troncos, cada vez mais rápido, sem encontrar nada. Chegou a pensar que talvez estivesse indo em círculos quando novamente ruídos de passos começaram a se aproximar, cada vez mais fortes. Ele continuava correndo. Sem pausa, sem pensar. Olhou um instante para trás e, quando se virou seu corpo estancou no lugar, rígido como uma pedaço de rocha.
Aquele monstro era a coisa mais horrível que já vira em toda a sua vida. Mais de dois metros, focinho longo e olhos como rubis. Um líquido negro à luz pálida que se derramava sobre a floresta escorria de sua boca enorme, caninos mais afiados que facas precipitando-se para frente.
Seu fôlego de morte bateu contra o rosto de Guilherme, e ele sentiu como se fosse desmaiar. A coisa, que estava sobre duas patas monstruosas, se levantou sobre as traseiras e avançou contra ele, que tentou fugir, rezando para ser rápido o suficiente.

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Algum tempo depois....

— Tem certeza que está bem? —perguntou Patrícia pela quadragésima vez.

— Estou, sério — Bruna respondeu, reservada.

Patrícia, uma das pessoas mais coração-mole de todo o universo, estava morrendo de preocupação com ela, com medo de que tivesse ficado traumatizada depois do ataque pelos cães no mês anterior, onde só sobreviveram Alam, Daiane e ela. Era Patrícia quem parecia ter sofrido com ele, porque sentia toda a pressão dos policiais do inquérito ao lado da amiga. Até recomendara um psicólogo para o caso de Bruna achar que precisava da ajuda de um profissional, embora ela afirmasse constantemente que estava ali para o que desse.

Elas caminharam até outra loja no shopping. Ideia de Patrícia, novamente. Ela achava que tinha que distrair a outra depois de tudo que havia acontecido. Elas entraram numa loja de acessórios chiques ao lado de outra de roupas.

— Já sei! Posso te comprar um presente! — disse alegremente.

Bruna suspirou, entediada. O que não daria para estar fora dali...

— Que tal esse colar? — disse ela para uma Bruna distraída demais para prestar atenção.

Patrícia foi colocar o colar no pescoço moreno dela, que afastou com a mão. E gritou.

— O que foi? — perguntou Patrícia, assustada.

— Nada — respondeu rapidamente, escondendo a ferida aberta e queimada, já enchendo de pus, feita pelo colar de prata.

10 comentários

  1. Gostei MUITO do jeito que vc escreve! ^^ E a sacada do final foi ótima, me pegou de surpresa UHAUHAUHUHA Parabens!

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  2. Carambaa, entrei em pânico só de imaginar o barulho dos galhos quebrando na reserva o_O Você escreve muito bem, eu amei o final do conto! Precisa de uma continuação *--* Rsrs

    Adoro esse clima sombrio de halloween ^^

    Abraços,
    http://leitorasanonimas.com

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  3. Muito bom,adorei!Queria uma continuação.

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  4. Muuito bom!
    Amei o final, haha
    concordo com a "Leitoras Anonimas": precisa de uma continuação! rs
    beijos, parabéns :D

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  5. OWWWWWWW! Muito bom! Fiquei muito tensa na parte da floresta! Muito bem descrito o suspense! e o final show de bola!

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  6. Caraca, muito bom!
    Você devia investir mais em escrever, tem talento!
    Curti bastante o conto! Muito interessante e cheio de suspense!

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  7. Interessante!
    Gostei da finalização. ^^
    Bjs.

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  8. Orgulho de ter sido a primeira pessoa a ter lido *------*
    Repetindo.. Adorei o conto! Totalmente Halloween!

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  9. Nossa, surpreendeu mesmo!! Escreve muito bem, parabéns! Adorei seu conto muito legal, eu nem imaginava!!!

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  10. Adoooorei adoorei!
    Parabéns!
    escreve mais pra gente ler !

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Ana Liberato