sexta-feira, 19 de junho de 2015

Resenha: "Middlesex" (Jeffrey Eugenides)



Livro - Middlesex

Por Yuri: Olá pessoal! Hoje a resenha postada é do livro Middlesex, escrito pelo autor Jeffrey Eugenides. Quando me perguntaram se eu gostaria de fazer a resenha do livro, eu aceitei, apesar de não ser o tipo de livro que eu costumo ler ou que me chama a atenção em uma livraria.

Aviso desde já que será uma resenha longa, mas devo fazer jus às 574 páginas de um livro bem escrito.

O livro é uma odisseia de Calíope Stephanides e a sua busca para entender a própria identidade e aceitar o próprio corpo. Como trata-se da vida do personagem, a melhor forma de entender Middlesex é por meio de um trecho inicial do livro, o qual descreve os acontecimentos mais importantes da jornada do personagem.
“Minha certidão de nascimento informa que me chamo Calíope Helen Stephanides. Minha carteira de habilitação mais recente (da República Federal da Alemanha) registra como meu primeiro nome simplesmente Cal. Joguei no gol de um time de hóquei, há muito tempo milito na Fundação Salve o Peixe-Boi, raramente frequento as missas da Igreja Ortodoxa grega e, na maior parte da minha vida adulta, tenho trabalhado para o Departamento de Estado americano. Como Tirésias, fui primeiro uma coisa, depois outra. Meus colegas da escola me ridicularizavam, servi de cobaia para médicos, me submeti às apalpações de especialistas e às pesquisas da Fundação March of Dimes. Uma garota ruiva de Grosse Pointe se apaixonou por mim sem saber o que eu era. (O irmão dela gostou de mim também). Certa vez um tanque de guerra me levou a uma batalha urbana; uma piscina me transformou num mito; abandonei meu corpo para ocupar outros – e tudo isso aconteceu antes de eu completar dezesseis anos.”

Confesso que demorei um pouco para engrenar a leitura e inicialmente achei a história bem entediante. O livro é divido em quatro partes: a história dos avós de Calíope; a história dos pais; a história de Calíope até a sua descoberta e por fim a vida pós descoberta e como ele lidou com o novo gênero sexual. Toda essa jornada foi contada para que o leitor pudesse entender como o “defeito” no quinto cromossomo foi passado de geração em geração até chegar em Cal.
“Pois agora, uma vez que já nasci, vou voltar o filme, fazendo meu cobertor rosa voar do meu corpo e meu berço sair de cena em disparada enquanto o cordão umbilical é reatado, e então eu solto de novo o grito na hora em que aquele ponto entre as pernas da minha mãe me suga para dentro. Ela volta a ficar gorda. [...] É quando saímos dos Estados Unidos e vamos para o meio do oceano, onde a trilha sonora soa estranha, tocada ao contrário. Surge um navio a vapor, e lá no alto, no convés, um bote salva-vidas curiosamente balança sozinho; mas aí o navio aporta, a popa primeiro, e de novo estamos em terra firme, onde o rolo de filme se solta do carretel, de volta ao começo...”

O que torna a leitura cansativa é o fato do livro ser bem descritivo, e no geral detalhes em excesso não me agradam. Como Middlesex é uma espécie de autobiografia de Calíope, muitas vezes alguma cena entra por associação de memórias.
“Detroit sempre foi uma cidade feita de rodas. Muito antes das Big Three e do apelido de Cidade dos Motores; antes que alguém, um dia, desse uns malhos dentro de um Thunderbird ou uns amassos num Model T; antes do dia em que um jovem Henry Ford pôs abaixo a parede de sua oficina porque, ao projetar seu quadriciclo, tinha pensado em tudo, menos em como aquele troço sairia dali; e quase um século antes que Charles King, numa noite fria de março de 1986, como se no leme de um barco, saísse guiando [...].”

Acho que com o trecho anterior deu para entender o que eu quis dizer com excesso de detalhes. Tudo isso e mais um pouco foi escrito porque Calíope lembrou de um acontecimento que vivenciou com o pai quando ia narrar a chegada dos avós nos Estados Unidos. No entanto, apesar da descrição prolongada, a linguagem do autor e a forma como o livro foi traduzido tornou a leitura bem poética.
“E, portanto, antes que seja tarde, quero registrar essa história de uma vez: essa jornada atribulada de um único gene através dos tempos. Canta, ó Musa, a mutação recessiva do meu quinto cromossomo! Canta como foi que ela floresceu, há dois séculos e meio, nas encostas do Monte Olimpo, enquanto baliam as cabras e caíam no chão os frutos das oliveiras. Canta a jornada por nove gerações, através da qual, invisível, ela ganhou o corpo no caldo contaminado da família Stephanides. E canta a Providência disfarçada em massacre que de novo pôs o gene em movimento, canta como, soprado feito semente, ele atravessou o mar até a América, onde singrou por nossas chuvas químicas e desceu à terra fértil do útero de uma mulher do Meio-Oeste, minha mãe.”

O que acelerou a leitura e me prendeu a atenção era como e quando Cal ia descobrir sua anomalia genética. Como alguém passa sua adolescência sem saber que é hermafrodita? Qual a sensação ao descobrir isso? Já imaginou se um dia você é menina e no outro descobre que é um menino? E acho que essa é a grande sacada do livro, conseguir mostrar como é viver tudo isso desde os olhos de uma criança que percebe que tem algo de diferente consigo mesma.

A descrição psicológica dos personagens foi escrita com muita perfeição. Foi muito fácil entender os sentimentos dos personagens, como a culpa da avó e a sensação de Calíope de não pertencer ao próprio corpo. Mesmo sendo uma realidade distante, pelo menos pra mim (não sei vocês, mas nunca conheci nenhum indivíduo hermafrodita), as dúvidas e os pensamentos de Cal eram tão reais que várias vezes me peguei pensando se o autor passou por isso.

Para quem está à procura de bons livros, eu recomendo Middlesex. Esse vale a pena ler.

Até a próxima!






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Ana Liberato