sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Resenha: “Eu Sou Malala – Como uma garota defendeu o direito à educação e mudou o mundo” (Malala Yousafzai & Patricia McCormick) (Edição Juvenil)


Tradução de Alessandra Esteche

Por Kleris: Oi, pessoal. Aposto que muitos por aqui só ouvem falar de quem é Malala pelos jornais e por conta do fatídico dia, em 2012, em que ela levou um tiro do grupo Talibã. Pois bem, nessa edição juvenil, conhecemos outras Malalas além tragédia, defesa pela paz e prêmios. 
— Não sei por que a Malala é famosa – ele disse a papai. — O que ela fez?Para o mundo, posso ser a Malala, a menina que lutou pelos direitos humanos. Para meus irmãos, sou a mesma Malala com quem eles têm vivido e brigado todos esses anos. Sou só a irmã mais velha.
Não quero que pensem em mim como “a menina que foi baleada pelo Talibã”, mas como “a menina que luta pela educação”, a menina que defende a paz, tendo o conhecimento como arma.

Malala viveu em meio ao caos de uma das cidades dominada pelo Talibã – grupo político islâmico rígido que se pauta em textos religiosos para determinar as regras de vivência (como corte a qualquer tipo de cultura ocidental, de eletrônicos, música, filme, cinema; as mulheres só podem sair se acompanhadas por algum homem da família e devem usar burcas para se esconder do mundo; e a educação deve ser direcionada somente aos homens, as mulheres só tem acesso enquanto crianças) e se utiliza de armas e ataques homens-bomba para fazer valer suas leis.

Por noites e dias, na região da Swat, os pachuns vivem junto do medo, das ameaças, dos ataques. Há dias em que há confrontos diretos com o Exército e há dias que o mínimo deslize faz com que as moças apanhem, sejam chicoteadas, humilhadas e levem tiros na rua simplesmente por irem ao mercado e não se aterem ao modo como estão usando seus véus – ou por não estarem com a burca – e, não bastando os absurdos dessas leis massacrantes, por insistirem em frequentar a escola. Os civis homens também não ficam atrás, morrem pela mínima ideia contrária. 
Mas ver essas mulheres batendo papo casualmente – os rostos radiantes de liberdade – era ver um mundo novo.

— Por que mandar uma filha para a escola? – os homens diziam. — Ela não vai precisar de educação para administrar um lar.

Eu nunca respondia aos mais velhos. Na minha cultura, não devemos desrespeitá-los – mesmo quando estão errados.
Mas eu via como a vida das mulheres era difícil, e ficava confusa e triste. Por que as mulheres eram tão maltratadas em nosso país?
  
Sendo eu uma ocidental, é muito louco de imaginar que sociedades, ainda neste século, sobrevivem assim. Não que eu não acredite, mas é triste pensar que às vezes temos tanto e arrumamos guerras na livre interação entre nós, enquanto do lado do mundo estouram-se Tvs para que a população não assista programas que não sejam de sua cultura, homens armados andam pelas ruas certificando-se que as mulheres sejam punidas por quaisquer mínimas razões e forçam as pessoas a acreditarem que as tragédias naturais (como terremotos, chuvas intensas ou secas) sejam culpa delas pelo simples ato de não obedecer aos preceitos de Alá.

O controle de fechar-se do mundo é tão grande que praticamente se volta a viver em outro século, mesmo entre tecnologias e conhecimentos. Na verdade, é isso, eles não querem que a população tenha conhecimento suficiente para derrubá-los, da mesma forma como operava a Igreja Católica nos séculos passados. Para Malala, essas leis não faziam sentido porque ela, como muitos de nós, teve acesso à escola, ela sabia reconhecer o que era fato e verdade no mundo por ter estudado diversas disciplinas que abriram sua noção de mundo, disciplinas como geografia, matemática, física, química. Mas para o Talibã, isso significou foi uma afronta. Uma afronta que, com o tempo e determinação da menina, virou assunto pessoal. 
Eu sabia que o que o mulá do rádio estava dizendo não era verdade. Um terremoto é um acontecimento geológico que pode ser explicado pela ciência, queria dizer a elas. Mas essas mulheres, muitas das quais não tinham estudado e haviam sido criadas para seguir os ditames dos líderes religiosos, estavam com medo. Quando mulá chorou, elas choraram também.

O pai de Malala era professor e diretor de uma escola. Por anos a fio, diversas escolas foram explodidas para impedir que a população fosse letrada, e Ziauddin foi quem lutou em manter a educação de pé, mesmo com a ameaças diretas à instituição e à sua família. Malala abraçou os ideais do pai e esteve junto nesta batalha diária.  
Meus outros crimes? Eu defendia a educação e a paz. Segundo o Talibã, eu defendia a educação ocidental, que era contra o Islã, na opinião deles. 
Amo a ciência, e não tem nada que eu ame mais do que fazer pergunta atrás de pergunta para entender como as coisas funcionam. Mas não preciso dela para entender por que não me lembro do ataque. Sei por quê: Deus é bom pra mim.


Eu sou Malala é um livro curto, mas muito rico de história através dos olhos da menina. A edição juvenil toca justo nessa vivência de Malala como uma menina que se destacou por seus ideais e como representou uma afronta direta às manipulações do Talibã, que se diz ter sido forçado a atacá-la porque ela não parava de chamar atenção e discursar contra eles. A leitura é convidativa e tem um quê de documentário. 

Para nos situar melhor, o livro traz um mapa, fotos, uma relação de termos específicos da comunidade paquistanesa, além de traçar dados históricos e informações ademais em favor do fundo Malala. A capa é linda e tem uma explicação interessante sobre a cultura islã e a força de Malala.

Mas não leia Malala apenas para conhecer sobre os confrontos e dominação religiosa, ou porque essa história aconteceu de verdade, leia para conhecer uma menina que é como nós, que gosta de conhecer mais do mundo, que brincava e jogava com os irmãos, que brigava pelo controle da Tv, que era team Jacob, determinada, teimosa e sonhadora, e que esteve presa nesse mundo bárbaro. Encontrar voz nesse mundão tem sido essencial para mudar esse trecho do mundo que é tão fechado.

O forte apego que ela tem à educação é algo mais que admirável. É abrir um livro de física, de matemática, de história, ler suas anotações e sentir-se aliviada por ver seu desenvolvimento pessoal conforme adquire mais conhecimento. Uma das coisas mais incríveis é ver que, apesar de ter tanta ciência da verdade, Malala manifesta sua fé em Deus e em seu amor, acredita que a religião não é motivo de ignorância, mas de conhecimento e paz. E isso, meus caros, é uma noção que falta até aqui mesmo no ocidente. 

Às vezes, quando os jornalistas veem meus irmãos brincando tão livres, perguntam se minha campanha pelos direitos das crianças roubou minha infância.Digo a eles para pensar em uma menina que se casa aos onze anos. Ou em um menino que tem que catar lixo para conseguir dinheiro para sua família. Ou nas crianças que foram mortas por bombas e balas. Eles é que tiveram sua infância roubada.

E às vezes os jornalistas parecem querer se concentrar no ataque, e não na campanha.
Isso me deixa frustrada, mas eu entendo. É a curiosidade humana. Mas o que penso sobre o assunto é o seguinte: eles já me machucaram, deixaram cicatrizes eternas. Mas da violência e da tragédia veio a oportunidade. Nunca me esqueço disso, principalmente quando penso em tudo o que o Fundo Malala tem feito e vai continuar fazendo.

 

Recomendadísssimo!


Até a próxima.


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Ana Liberato