segunda-feira, 21 de dezembro de 2015

Resenha: “Cafés Amargos” (Sabryna Mendes)

Por Kleris: Sabe aqueles títulos que parecem se conectar com você desde o nome? Não sei bem qual foi a ligação ou curiosidade que bateu, só sei que algo me dizia “Kleris, você tem que ler esse livro”. E agora eu repito para a Mary e aqui pra vocês: gente, leiam Cafés Amargos.

Conheci Cafés Amargos (e a Sabryna) muito por acaso. Teve o lançamento na minha cidade, por conta de o livro ter ganhado o concurso literário da prefeitura, categoria romance, e olhem só, nessa época eu estava na organização de um encontro de autores e já ia fechar a programação. Nos 45 minutos do segundo tempo consegui contatar a Sabryna e descobrir mais desse livro, que se antes me encantou só pelas primeiras expectativas, conseguiu alimentar segundas, terceiras, quartas... Enfim, comprei, li e ainda estou xonadinha nele.

Tomás é um escritor que está numa fase difícil, sem perspectivas, sem família e sem inspirações. E ele aceita essa realidade, vivendo um dia de cada vez, perdido em suas lembranças. Isso porque fora um escritor de sucesso que não soube bem lidar com o prestígio e quando veio o primeiro baque na carreira, logo atrás veio mais uma e outra, até que não deu mais pra segurar a barra, Tomás se deixou envolver pelo fracasso.

Sem mais nem menos, em um dia qualquer, sua vizinha pede para passar na sua frente na fila do caixa de um supermercado. Um feeling diferente, mas conhecido, bate em Tomás, que fica incerto sobre essa garota, Marina, que justamente lembra-o sobre outra Marina do seu passado, quem o inspirou para o primeiro livro. Mas... seria realmente outra Marina? Era possível ser a mesma Marina?
Ela se vira para ir embora, mas dá meia volta, antes que eu feche a porta totalmente.
— Mas me desculpe por ter vindo sem avisar, não vai acontecer de novo.
— Tudo bem.
Você mora na minha estante, Marina, nada mais natural que frequentar o resto da minha casa.

Poucas pessoas sabem que tenho certa queda (tombo!) por metaficção e justo por ser um tema às vezes complicado de transpassar, nem sempre as experiências são tão win quanto imagino que possam ser. Com Cafés Amargos, novamente, não sei bem que feeling de encontro foi esse, mas já fui com esse pezinho de metaficção e sem preocupações. Sem falar que logo nos primeiros capítulos, a autora me ganhou.

Sabryna envolve o leitor de maneira bem rápida e sem que percebamos. Foi engraçado que houve momentos em que a história, que fala de um escritor de seu sucesso a seu fracasso, parecia dizer a mesma coisa que eu estava sentindo com o próprio – pelo menos na parte de sucesso – o que deixava a trama ainda mais gostosa de ler. Essa pegada em muito me lembrou de O Sorriso das Mulheres, um livro muito queridinho por mim e recheado dessas pegadinhas com o leitor. 
— Escolheu bem, é um ótimo livro.
Apesar de a minha foto estar impressa na capa de trás, eu ainda não era reconhecido.
— Verdade? Ou é papo de vendedora?
Ela riu e disse:
— É verdade. Eu li e adorei, minha neta leu e também gostou muito. É um livro diferente e encantador.

Para um encanto maior, a autora se utilizou de idas e vindas do tempo para nos ambientar do enredo e isso foi uma jogada esperta, pois me deixou bem ansiosa e grudada no livro. Realmente, quando se começa a ler, você não para. E como é curtinho, vai tudo numa sentada só. 

Mais que falar de livros, leitores e sonhos, o romance coloca o amor, família e superação. Sabryna escreve, leva e traz a história, os ganchos, as reviravoltas, tudo de maneira bem despretensiosa, e isso também muito me impressionou, como concentrou muito em tão pouco. Gostei como pegou coisas usuais e corriqueiras e saiu do lugar comum, sem precisar ir muito longe para construir um bom livro.  
[...] ela invadiu meu espaço limitado e trouxe ar para o meu cubículo claustrofóbico. Tenho vontade de ir atrás dela e contar-lhe meus receios escondidos, mas minhas pernas parecem duas crianças desobedientes, me permitindo ir apenas até a janela e abrir uma brecha nas cortinas – agora brancas como algodão – a tempo de vê-la jogar os sapatos para o alto, como fez na minha casa.  Marina é encantadoramente espaçosa.

Cafés se revelou ser um daqueles pequenos romances que podem passar despercebidos, mas quem para uns minutinhos para lê-lo, sabe que não vai largá-lo. É no singelo doce e amargo dos cafés tomados por Tomás, e pelo preparo que tem por eles e pela vida, que ausências são preenchidas e que vemos aí uma autora ainda acanhada, mas que se arrisca e tem muito para nos apresentar.

O final deu uma corridinha e bateu a sensação de que poderia ter sido mais. Talvez pela estreia? Felizmente, em nada diminui o bom desenvolvimento da trama. A edição é simples, precisa de uma revisãozinha de texto e diagramação. Porém, depois de um tempo, juro, você nem nota mais. 

Preciso dizer? Recomeeeeeeeendo!

Quem se encantou como eu só nessas expectativas, pode comprar o livro aqui, direto com a autora. Adiciona lá no skoob também. E se a curiosidade bateu mais ainda, conheçam mais da Sabryna nessa entrevista bem bacana no blog Escalada: aqui.


Até a próxima!

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comentários

  1. Te confesso que iniciei essa leitura sem muitas expectativas. Entre uma ressaca literária e outra, o peguei na estante por ser curtinho e não querer me prender muito antes de chegarem os títulos que estou esperando.

    Mas que engano o meu! Cafés Amargos é um livro simplesmente impossível de não se envolver. Trata-se de uma trama singela, doce e, como o café, aconchegante e gostoso.

    Acredito que a grande sacada dele consiste justo na simplicidade. Sem grandes reviravoltas, cenas apoteóticas, discussões de arrepiar. Nada disso. Possui um cenário simples - o que facilitaria sobremaneira uma adaptação teatral, fica a dica - e personagens marcantes.

    Inclusive, em minha opinião, apesar do final aparentemente corrido, penso que foi um desenrolar coerente com a trama, sem muita firula e totalmente fora do esperado.

    Eu definiria Cafés Amargos com a palavra "surpreendente".

    Excelente indicação, Kleca!

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Ana Liberato