sexta-feira, 15 de abril de 2016

Resenha: “O Sorriso das Mulheres” (Nicolas Barreau)

Tradução de Karina Jannini

Por Kleris: Ah, Parri... Parri de encontros e desencontros, como sempre. Faz quase uns dois anos que tinha lido esse livro por acaso e na época foi todo o arco-íris que eu precisava. Foi tão não sei o que dizer, só sentir que eu não conseguia achar palavras para falar dele (embora tenha mencionado por alto aqui). 

Até hoje. Cá estou para te fazer mergulhar nesse açucarado romance, com pitadas de romã, pingos de chocolate e cachoeiras de metaficção, metaleitura, metatudo. Vale textão de resenha e vale muitas quotes. A propósito, preparem-se com os marcadores adesivados!

Sabe quando você passa por uma grande decepção e cai nos braços de um livro maravilhoso? É essa a sensação de Aurélie Brendin ao ler o romance O Sorriso das Mulheres, escrito por um tal de Robert Miller, autor inglês que fora publicado direto para o francês. Fora a maravilhosa trama e escrita, o encanto de Aurélie se dá por várias razões: 1) ela encontrara o livro muito por acaso durante uma fuga da polícia (ela se refugiou numa livraria) 2) o livro cita diretamente o restaurante dela como ambiente da narrativa 3) a heroína do livro é muito parecida com ela.

— Quem é você, Robert Miller? — perguntei à meia-voz, e meu olhar voltou ao homem sentado no banco do parque. — Quem é você? E de onde me conhece?

Quem não ficaria com uma pulguinha atrás da orelha depois dessa? Seria destino? Coincidência? Não importa, Aurélie tinha que conhecer esse moço! Só que ao buscar informações sobre o autor, ela descobre enormes (e inusitados) obstáculos: não há informações diretas, não há contato e, pior, ao que parece, Robert Miller tem horror a aparecer em público. E agora, como faz?

Bom, aí somos levados para o outro lado da história... Uma que envolve esquemas, mentiras e ficção demais. André Chabanais é o revisor responsável pelo autor Robert Miller, que, bom, é rondado por um mistério, mistério esse que põe André ao desespero quando a editora começa a pressionar para o autor fazer uma aparição, já que o livro tem vendido bem. 
— Agora vou lhe revelar um segredo, mademoiselle Mirabeau — ele disse, e cada um de nós sabia o que viria pela frente, pois todos já tínhamos ouvido isso uma vez. — Um bom livro é bom em todas as páginas — e com essas majestosas palavras, a reunião estava realmente terminada.

Acontece que o livro é uma “perfeita” jogada entre profissionais do mercado de publicação de livros da qual nem o editor chefe tá sabendo. Pra piorar essa situação, surge mademoiselle Aurélie Brendin querendo saber tudo sobre o autor, e André, que sabe bem demais desse esquema, se enrola em mil e umas mentiras ao se apaixonar por essa moça. Entre o amor e o trabalho, adivinha o que monsieur Chabanais escolhe?
E então, de repente, ela estava à minha frente, e eu me perguntava com toda a seriedade se era possível que uma personagem de romance pudesse ser de carne e osso. 
Se eu tivesse lido essa história em um romance, teria me divertido muito. Porém, quando se é obrigado a fazer o papel de herói cômico em uma história, ela já não tem tanta graça.

Paralelo a esse lado ficcional, O Sorriso das Mulheres é daqueles livros feitos para enganar o leitor. Ao mesmo tempo em que ele puxa as cortinas do teatro do mercado de publicação de livros, ele é uma peça, que ora escolhe dizer a verdade, ora escolhe manter a magia que todo publicador almeja. Para um leitor que pouco entende como funciona o trabalho de publicação, o romance não deve passar de uma leiturinha açucarada e boba com a torre Eiffel lá atrás. Por outro lado, para um leitor com mais visão, ele vai sacar que o livro foi “montado” exatamente para esse fim. É algo cíclico, pois o que acontece nesse livro, acontece no plano real – o mesmo segredo que ronda Robert Miller, dizem, é o mesmo que ronda Nicolas Barreau.

Acho que é isso o que tanto gosto em O Sorriso... e que me conquistou desde a primeira leitura. É esse caráter muito pretencioso, que promete e cumpre, e faz isso de uma maneira tão diluída à trama que é capaz de pegar todo mundo sem quase ninguém sequer notar. É preciso muita sobriedade para alguém conseguir arquitetar algo do tipo e executar perfeitamente – sobre ser impossível, não é.

Na releitura, inclusive, lembrei-me das peças pregadas em A Vida Peculiar de um Carteiro Solitário (resenha aqui), e da relação de metaficção/metaleitura que vi em Cafés Amargos (resenha aqui). No mais, há aquele quê clássico de brincar com clichês. Há alternância de pontos de vista, mentiras que viram super bolas de neve, grandes decepções amorosas, paixões platônicas e avassaladoras, excentricidades, fiéis escudeiros, “frases feitas”, reviravoltas, referências, etc, etc. 
Quando se está triste, ou não se absolutamente mais nada e o mundo afunda em insignificância, ou se enxergam as coisas com uma clareza excessiva, e então tudo assume de uma só vez um significado. Até mesmo as coisas mais banais, como um semáforo que passa do vermelho para o verde, podem decidir se vamos à direita ou à esquerda.

Monsieur Chabanais é um tremendo de um cafajeste e mademoiselle Brendin é uma perfeita ingênua. O Sorriso das Mulheres pode ser também, nesse sentido, um livro de crítica a todos esses elementos tão batidos e ainda assim procurados no mercado editorial. O que podemos dizer se eles cativam as pessoas?

A edição é bem caprichada, tanto no texto, quanto na parte gráfica. A capa? Me capturou desde o primeiro momento – tanto é que eu nem sabia com o que tava lidando da primeira vez. Tem totalmente a cara de livro que guarda a sensação de um achado e a cara de livro que esconde muitos segredos. Pra completar, traz as receitas mencionadas pela nossa heroína cozinheira. De uma maneira ou de outra, quase posso ter certeza de que, como diz o aviso na capa, este romance fará você feliz. Recomendo!

Há chances de eu estar enganada em várias de minhas percepções, mas vá lá, deixe-me conspirar :) 
Em novembro do ano passado, um livro salvou minha vida. Eu sei, agora parece muito improvável. Alguns podem até considerar exagerado ou melodramático eu dizer algo do gênero. Só que foi exatamente assim que aconteceu. 
— Ah, Aurélie, que conversa é essa? Você é uma velha teórica da conspiração.

E aí, o que vocês acham dessa super premissa de livro?

Obs: após a leitura, lembrem de voltar aqui e vejam esta matéria (contém spoilers!).


Até a próxima!

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Ana Liberato