segunda-feira, 1 de maio de 2017

Resenha: "Armadilha do Tempo" (Francisco Scattolin)


Por Marianne:
Que saudade eu estava de um mistério pra me entreter, daquele que você pega numa tarde de chuva e acaba numa lida só.

Em Armadilha do tempo conhecemos o protagonista, um jovem adulto de emprego novo que está a procura de um apartamento para morar. Na busca por um novo lar na cidade de São Paulo, ele acaba se encantando com o apartamento 91 do edifício Cosmopolitam. Existe apenas um detalhe: o apartamento só está disponível para venda e o proprietário quer o pagamento à vista. Ainda assim, o imóvel está a venda por um valor irrecusável e movendo uns pauzinhos ali e pegando um empréstimo aqui o protagonista consegue levantar a grana e compra o apartamento.
Sem mais saber como proceder, constatei que meus sentidos eram invadidos por informações desconexas as quais eu não era capaz de processar. Senti uma vertigem, as pernas bambearam. Sentei - no chão mesmo - e escondi a cabeça entre as pernas, restabelecendo o fluxo sanguíneo até o cérebro.
Mesmo feliz com o negócio fechado, ele não deixa de notar o desconforto do corretor de imóveis ao executar a venda do apartamento, seria preocupação com a comissão, ou algo do tipo?

Com a liberdade de poder trabalhar em casa no emprego novo e passar mais tempo aproveitando o novo lar, estranhamento a vontade de passar mais e mais tempo no apartamento só cresce. Até que algo fora do comum acontece. Em dia normal em que decide sair para dar uma volta pela cidade o personagem percebe uma diferença nas pessoas, nas construções, nos carros. Como se de repente todo mundo estivesse se comportando como se estivesse nos anos oitenta, por ai. O mais bizarro acontece quando ele marca um bar num fim de tarde com seu melhor amigo, após receber a ligação de que o amigo o estava esperando em frente ao prédio e ele desce pra encontra-lo e... NADA! Nada de amigo esperando na frente, do prédio, nenhum carro parado, ninguém.

Ao voltar pro apartamento, p*to com o amigo, ele atende o telefone e descobre que lá embaixo, na portaria do prédio, tem um amigo também p*to da vida esperando por ele que não desce nunca. Ele desce na portaria, nada de amigo, ele sobe e liga pro amigo, amigo bravo que INSISTE que está na portaria esperando por ele.

E é ai que ele percebe: de alguma maneira muito estranha ao sair do apartamento o moço se encontra algumas décadas atrás. Enquanto fora do apartamento a vida de todas as pessoas a sua volta parece seguir normalmente, a dele está presa na cidade de São Paulo de 1980.
Hoje vejo, porém, que aquele "mudar de vida" a que me referia era puro delírio e pretensão de minha parte. Nada disso: eu apenas trocaria de emprego e residência. Mudar de vida é outra coisa, muito diferente; sobre isso, eu aprenderia mais tarde. 
A história da muitas reviravoltas e o tempo todo sentimos o clima de tensão ao redor do personagem. Como ele vai trabalhar? Que desculpa inventar para família pros amigos que marcam compromissos que você não pode comparecer? De onde tirar dinheiro? E como, COMO reverter essa situação? Existe solução pra um apartamento que te prende no passado?
Às vezes a minha visão das coisas torna-se um bocado enviesada. a perspectiva é muito diferente quando a gente, adulto, visita um local de infância. O colorido é outro, os cheiros também. Até o ar parece mais insosso e menos mágico. Não sei direito a razão, mas suspeito que os sentidos ficam anestesiados na proporção em que a gente vai compreendendo melhor o mundo. O resultado é uma espécie de troca involuntária em que a gente sempre sai no prejuízo: ganha-se experiência, perde-se o encantamento (grande vantagem, não?).
Se a existisse uma versão com novos títulos da coleção Vagalume, eu consigo visualizar perfeitamente Armadilha do tempo entrando para lista. O livro tem aquela pegada de mistério gostosa de ler.A cada momento surgem elementos importantes na história que fazem prendem a nossa atenção e nos fazem tentar entender junto do personagem que diabos está acontecendo ali! Me bateu uma nostalgia gostosa, tanto pelo estilo de escrita do autor, tanto pelo tema da história e é um livro que funciona bem pra todas as idades.

O trabalho de arte da capa é lindo ❤ e pra mim refletiu muito perfeitamente a temática da história. O coração chega a bater forte quando eu conheço autores nacionais fazendo um trabalho de tão boa qualidade.

Essa foi minha resenha de hoje, fica minha recomendação para vocês, espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!

😊 
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Ana Liberato