segunda-feira, 26 de junho de 2017

Resenha: Para educar crianças feministas – um manifesto (Chimamanda Ngozi Adichie)

Tradução de Denise Bottman
Por Kleris: Imagino que após a palestra de Sejamos Todos Feministas (reveja resenha aqui), onde o discurso feminista puxou as cortinas da sociedade e plantou suas sementes, muitos puderam entender o que é o movimento, seus ideais, suas lutas. 

Mas isso foi só a introdução, uma centelha, que deixou diversas questões para discussão e compreensão real, do feminismo em si, do feminismo no dia a dia, de como reagir ante as lutas; e Para educar crianças feministas é esse passo seguinte. É uma resposta mais direta para algumas de nossas inquietações quando se trata de mudar o comportamento. 
Há alguns anos, quando uma amiga de infância – que cresceu e se tornou uma mulher bondosa, forte e inteligente – me perguntou o que devia fazer para criar sua filha como feminista, minha primeira reação foi pensar que eu não sabia.
Parecia uma tarefa imensa.
Mas, como eu me manifestara publicamente sobre o feminismo, talvez ela achasse que eu era uma especialista no assunto. [...] Em resposta ao pedido de minha amiga, resolvi lhe escrever uma carta, na esperança de que fosse algo prático e sincero, e também servisse como espécie de mapa de minhas próprias reflexões feministas. [...] Ainda assim, penso que é moralmente urgente termos conversas honestas sobre outras maneiras de criar nossos filhos, na tentativa de preparar um mundo mais justo para mulheres e homens.

Ao falar de cultura, também falamos de educação. Nesse sentido, é bastante complicado criar uma “nova” noção de cultura quando se está tão mal acostumado a sensos nocivos, mais ainda por vê-los como “naturais” ou “normais”. Existem muitos projetos trabalhando nessa conscientização e reeducação social, mas uma coisa é certa neste cenário: nascemos todos machistas, misóginos e babacas, sem mesmo saber o porquê de assim nos comportar. Não precisamos, no entanto, esperar que as futuras gerações despertem - e tardiamente. Nós podemos promover a mudança desde o começo. 
Mas o que realmente conta é a nossa postura, a nossa mentalidade. E se criássemos nossas crianças ressaltando seus talentos, e não seu gênero? E se focássemos em seus interesses, sem considerar gênero? (Sejamos todos feministas) 
A cultura não faz as pessoas. As pessoas fazem a cultura. Se uma humanidade inteira de mulheres não faz parte da nossa cultura, então temos que mudar nossa cultura. (Sejamos todos feministas) 
Se não empregarmos a camisa de força do gênero nas crianças pequenas, daremos a elas espaço para alcançar todo o seu potencial. Por favor, veja Chizalum como indivíduo. Não como uma menina como deve ser de tal ou tal jeito. Veja seus pontos fortes e pontos fracos de maneira individual. Não a meça pelo que uma menina deve ser. Meça-a pela melhor versão de si mesma.

Como Chimamanda nos conta, ela escreveu uma carta para uma amiga respondendo à grande questão de educar crianças como feministas. Apesar de poucas páginas e da leitura ser rápida (a edição é pocket), o conteúdo é para ser digerido lentamente. São MUITAS situações para repensar, refletir e despertar. É um exercício social. E tal qual, não dá pra pegar um conceito, aplicá-lo puramente e ter um resultado satisfatório, porque as situações não são prontas e possuem muitos detalhes de contexto. 
E entendo o que você quer dizer que nem sempre sabe qual deve ser a reação feminista a certas situações. Para mim, o feminismo é sempre uma questão de contexto.

Isso me lembrou bastante da série de livros da Brené Brown, que começa com conceitos sociais de vulnerabilidade (A arte de ser imperfeito), depois se discute identificá-los em contextos (A coragem de ser imperfeito, aqui) e então o exercício e aprendizados diários (Mais forte do que nunca, aqui). É uma escolha. 
Isso parece fácil, mas você se surpreenderia ao saber quantos nunca reconhecem os próprios sentimentos e emoções – apenas os descarregam. [...] A ironia é que, ao mesmo tempo que criamos distância entre nós e as pessoas ao redor, descontando tudo nos outros, ansiamos por laços afetivos mais profundos e por uma vida emocional mais rica. (Mais forte do que nunca) 
Cuidado com o perigo daquilo que chamo de Feminismo Leve. É a ideia de uma igualdade feminina condicional. Por favor, rejeite totalmente. É uma ideia vazia, falida, conciliadora. Ser feminista é como estar grávida. Ou se é ou se não é. Ou você acredita na plena igualdade entre homens e mulheres, ou não. [...] Mais preocupante ainda é a ideia, no Feminismo Leve, de que os homens são naturalmente superiores, mas devem “tratar bem as mulheres”. Não, não e não. A base para o bem-estar de uma mulher não pode se resumir à condescendência masculina.

É possível ler Para educar crianças feministas antes de ler o primeiro (Sejamos todos feministas) ou de assistir à conferência original, mas não é aconselhável se você não tem um bom embasamento dos principais ideais – pois pode haver um choque desfavorável, como o feminismo leve. No mais, o livro-carta é excelente para entender mais do posicionamento feminista. Como principiante (ainda), para mim o manifesto foi uma leitura iluminadora. Chimamanda é uma excepcional guia. Recomendadíííííssimo! 
Tente não usar demais palavras como “misoginia” e “patriarcado” com Chizalum. Nós, feministas, às vezes usamos muitos jargões, e o jargão às vezes pode ser abstrato demais. Não se limite a rotular alguma coisa de misógina – explique a ela porque aquilo é misógino e como poderia deixar de ser. 
Mas é uma triste verdade: nosso mundo está cheio de homens e mulheres que não gostam de mulheres poderosas. Estamos tão condicionados a pensar o poder como coisa masculina que uma mulher poderosa é uma aberração. E por isso ela é policiada. [...] Julgamos as poderosas com mais rigor do que os poderosos. E o Feminismo Leve permite isso.

Novamente, dá vontade de comprar centenas de exemplares e distribuir :) 
Todo mundo vai dar palpites, dizendo o que você deve fazer, mas o que importa é o que você quer, e não o que os outros querem que você queira. Por favor, não acredite na ideia de que maternidade e trabalho são mutuamente excludentes.


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Ana Liberato