segunda-feira, 9 de julho de 2018

Resenha: “Relatos de um Gato Viajante” (Hiro Arikawa)


Tradução de Rita Kohl

Por Kleris: Relatos de um gato viajante é um título suficientemente chamativo para os gateiros dessa vida, né não? E nem precisa ter um pet com a gente pra querer esse livro de pronto. E se a gente ouve/lê falar tão bem dele, vamos com toda uma gana de amorzinho. Mas não foi dessa vez... comigo.

Nana é o nosso narrador-mor, viajando pelas estradas do Japão, em busca de um novo lar. Acontece que seu cuidador, Satoru, não pode mais cuidar do pequeno felino e essa viagem (uma road trip!) é para ir atrás de amigos que poderiam adotá-lo. A cada parada, o leitor e Nana conhece mais sobre a dura vida desses humanos e como suas amizades e histórias de vida se cruzaram de forma fortuita. Além de Nana, temos outras narrações inesperadas para estender a visão da trama.

Relatos de um gato viajante é um livro do tipo “histórias de vida”, que prima pelo mais puro dos amores: a amizade. Nana é um gato teimoso, mas esperto, carinhoso, leal e, como todo animal, só precisa de amor e atenção. Satoru preenche seu coração assim como Nana preenche Satoru. Apesar de terem se conhecido só na fase adulta, dividem um companheirismo e carinho dignos de um amor para o resto da vida. Mas, infelizmente, eles precisam se separar e Satoru precisa achar um novo cuidador. O grande mistério da trama não é com quem Nana vai ficar, mas sim o porquê dessa separação.

Embora seja uma boa premissa, não senti cuidado da aurora com a história – e aqui morou meu incômodo. Sabe a sensação de ter a faca e o queijo na mão, mas não saber manejar o utensílio? Boa escrita e boa trama não necessariamente garantem um bom livro – o que parece ter sido o caso aqui; é preciso saber levar.

O livro é uma colcha de retalhos, coisa que a sinopse é até honesta: há muitos pontos de vista para acrescentar uma visão das histórias de vida dos muitos personagens. Só que esse recurso parece que não foi bem utilizado, sabe? Ora está em primeira pessoa, ora em terceira e se você não tem costume com nomes japoneses, é batata se confundir em quem é quem ou quem tá falando ou sobre quem se tá falando e vira uma bagunça.

Essa voz alternada, que só parece querer apelar e acrescentar drama, não ajuda muito; fica tudo muito disperso e se perde do propósito. A sensação é de que a autora não soube se decidir em como mostrar a história e ficou só adicionando coisas. Não soube sustentar os pontos de vista. Pra dificultar ainda mais as coisas, há trechos em que o livro se utiliza de negritos ou itálicos para diferenciar quem tá falando, e em outros não se usa o mesmo artifício pra demonstrar e, o que já era bagunçado, fica mais fácil de perder a paciência com a narração. 
A água cintilava ao sol com aquela cor bonita, um verde-petróleo... E o mais importante era que lá no fundo desse oceano verde brilhante estavam alguns dos ingredientes do Premium Blend Peito de Frango & Consomê de Frutos do Mar. Só de pensar nisso, fico apaixonado. Ai, babei. 
Hoje não está tocando aquela música das pombas voando da cartola.
Em vez disso, estamos ouvindo rádio. Talvez seja para dar um descanso ao leitor de CD. Já fazia algum tempo que um homem de certa idade, com voz elegante, elogiava um livro. Parece que ele era ator.

Outra coisa que também é irritante é o ponto de vista de Nana – esperei um livro que me prometia uma história de vida de um gato no ponto de visão de um gato. Não é isso que acontece, pois Nana é muito humanizado. Não me passou a ideia de que era a visão de um gato, mas sim de uma pessoa presa no corpo de um gato. Ora ele sabe exatamente tudo e sabe descrever as coisas perfeitamente como um ser humano, ora ele não sabe de nada e se passa por ingênuo diante das coisas humanas. Não há uma personalidade clara, não convence. De novo, o ponto de vista não se sustenta. Ou melhor, não se respeita a própria visão. Isso acaba por subestimar muito o leitor – e os leitores gateiros, sem falar que desperdiça toda uma história bonita e seus personagens interessantes. 
Volta volta volta volta volta! Eu sou seu gato até o fim!

Apesar dos apesares – e de ter praticamente ativado uma leitura dinâmica, consegui em alguns poucos momentos me emocionar pela relação de Satoru e Nana. Não é o bastante pra largar osso do que incomoda o livro inteiro, mas é algo. Tive ainda empatia por alguns personagens e suas problemáticas familiares, como Kosuke, cujo pai abusivo lhe desgraçava a cabeça, ou Daigo, que tentava suprir a ausência dos seus. A resiliência de Satoru também tem muito a dizer.

Seria um lindo infantojuvenil de escola se não fosse essas questões que acima descrevi. Uma road trip e uma viagem emocional na visão de um gato? É uma ideia interessante e, pelo jeito, foi muito para Hiro segurar. No mais, é uma leitura leve para ir sem muitas pretensões – sendo um gateiro ou não. 
Neste mundo, as paisagens que um gato jamais verá são muito maiores do que tudo o que ele chega a conhecer. 
Desde que a gente partiu, eu já conheci duas cidades onde você cresceu. Já conheci uma vila de agricultores. Conheci o mar.
O que mais a gente vai ver até o fim desta viagem?

Até a próxima!


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Ana Liberato