segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Resenha: “O Grande Gatsby - mangá” (F. Scott Fitzgerald)

Por Kleris: Desde que a L&PM Pocket começou a lançar adaptações ao estilo mangá, e O grande Gatsby entrou nesse catálogo, fiquei desesperada por essa edição! Era uma história que, apesar de trágica, eu gostava, a adaptação para o cinema foi maravilhosa e experimentar isso mais uma vez em mangá me era um super convite. Aliás, há uma notinha na entrada do livro que fala sobre a proposta de adaptação, como foi manter e combinar os traços dos autores com os traços da ilustração.

Tradução de Drik Sada
O grande Gatsby é um clássico do século XX, uma das obras mais conhecidas de Fitzgerald, que retrata uma época de fartura na década de 20, antes da Grande Depressão e Segunda Guerra Mundial. Entramos em grandes casas, famílias e festas, que esbanjam dinheiro como quem respira. Mas se tem uma coisa que falta ali é felicidade.

Conhecemos a trama por Nick Carraway, que, por seu emprego e condição financeira mais estável, muda-se para West Egg, área praieira de uma baía, perto de onde mora sua prima Daisy Buchanan, que é casada com o figurão Tom. Uma das coisas legais desse livro é que Nick é o narrador, mas ele conta a história de outra pessoa – Gatsby, seu vizinho.

Conforme vai se familiarizando de volta com a prima, Nick é um outsider que é convidado para umas tortas de climão das quais ele não está nada habituado. Ele não é de meter o bedelho onde não é chamado, porém, vira peça-chave para um plano que corria antes mesmo dele chegar ali, em West Egg. Mas como “parte da família”, e um homem de posses, ele também é levado para as aventuras de Tom. 
O meu hábito de não julgar as coisas e as pessoas sem as conhecer a fundo... às vezes me tornava o alvo preferencial do tédio dessas pessoas.



Como diz Nick, ele gosta de saber a história completa antes de julgar. Pode-se dizer que é essa a essência do livro, de observar os modos, os motivos, o que move aquelas pessoas, sendo essa “pessoa de fora” que vê mais claramente a dinâmica daquele meio. Na minha primeira leitura, uns três anos ou quatro anos atrás, isso foi uma grata surpresa. Os personagens, tal qual caricaturas, eram de ame ou odeie. Mas, aqui em 2018, como na releitura de Dom Casmurro (reveja resenha aqui), fui um pouco mais longe... Acho que ninguém se salva.


Daisy é uma personagem que é fácil de se odiar. Enquanto escrevo, ainda estou conflituosa no que ponderar sobre, mas também não deixo de pensar que ela é um objeto nas mãos dos homens desta trama. Um troféu, melhor dizendo, numa briga entre “machos alfa”. Ela, como muitas, é fruto de uma sociedade cruel, que não lhe dá opções e não tem vez. A fartura e a segurança compram sua submissão. É difícil comprar seu coração – e Tom e seu status tentam sempre.

Rever Daisy me lembrou de mulheres reais que vi presas a brutamontes pelo casamento. Mulheres que seu único papel é ser “bonita e burra” – e é esse o destino pesado que Daisy vê para sua filha. Não é toda mulher que consegue se sair, tampouco se sentir forte para lutar por outro destino. É doído ouvir/ler de uma mulher que ou é isso ou é isso, nada além disso. Daisy fez a decisão dela – ame ou odeie, porém, não julgue. A decisão de uma mulher nessa posição, com certeza, não é pautada pela futilidade.



Tom representa toda uma escória de famílias abastadas – homens que se dizem de família, de bons modos, mas se utilizam do dinheiro e poder para humilhar, destratar e abusar de quem quer que for – é digno de todo o ranço. Embora Gatsby tenha mais “decência” que Tom, muito de seu ego fala mais alto, desejando o impossível, agarrado ao passado. Ele não aceita um não.


Quanto a Nick, é interessante sua amizade com Gatsby. Ele, como a maioria dos leitores, imagino, fica em conflito sobre o caráter das pessoas, mas não é de se admirar que tome o partido de seu parça. Não importa o quanto ele tente se manter de fora e julgar com “consciência dos fatos”, pois o que ele vê é só o que as pessoas lhes mostram. Mesmo primo de Daisy, ele não conseguiria chegar à cabeça dela. Talvez nem Jordan, única amiga da mocinha, conseguiria alcançar.

O grande Gatsy é um retrato incrível do que foi a vida burguesa no começo do século XX. Dinheiro determinava hábitos, decisões, segurança, porém felicidade nunca faria parte do pacote e todos em algum ponto da vida iriam perceber isso. O meio social, por consequência, era esse, permeado de boatos, fofocas, aparências, hipocrisia; tóxica em diferentes e diversos níveis. Acho que só era/é encarada como época de ouro por essa ilusão que enchia os olhos de muitos. Quando a realidade batia, era tarde demais.

A edição em questão, em mangá ocidental (sem essa de “de trás pra frente”), é maravilhosa, com traços e expressões bem trabalhados. A ambientação, os detalhes, os closes. A essência de Fitzgerald foi respeitada, a fim de entregar ao leitor a experiência da obra sem grandes intervenções. Confesso que esperei terem puxado um pouco mais de Nick (sou só eu ou dava pra vir um ship ali?), coisa que sabia desde o começo que seria um expectativa irreal e impossível, mas né, a cabeça tem dessas. Talvez tenha um headcanon por aí?

O livro é bem rápido, excelente para descanso de uma sentada, só pra colocar a cabeça no lugar de volta. Também é ótimo para quem tem dificuldade para começar clássicos ou pouco lê romances, mesmo que curtos. Recomendo! 
Sempre que tiver vontade de criticar alguém – ele recomendou... Lembre-se primeiro... De que nem todas as pessoas... Tiveram as mesmas vantagens que você.


P.S.: A coleção pocket mangá tá avançando aos poucos – já estou de olho em A Metamorfose, Em busca do tempo perdido, e Ulisses! 


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Ana Liberato