sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Resenha: "Pequena coreografia do adeus" (Aline Bei)

Por Thaís Inocêncio: Em abril, tive o prazer de participar do evento virtual "Cabine de leitura", promovido pela Companhia das Letras, sobre o livro Pequena coreografia do adeus, com a presença de Aline Bei. 

Na ocasião, ouvi de Aline que, se o verbo que permeia seu primeiro livro, O peso do pássaro morto, é “perder”, o que envolve Pequena coreografia do adeus é “sonhar”. E a única coisa de que Júlia precisa para realizar seu sonho é ela mesma.⁣

⁣Criada em uma família disfuncional, Júlia Terra vive uma infância marcada por traumas e violências que a fazem querer desaparecer, como uma música que deixa de tocar. Sem conseguir estabelecer laços afetivos nem mesmo com os pais, Júlia é constantemente silenciada e empurrada para a solidão. No entanto, ao iniciar um diário, ela encontra na escrita seu lugar de fala, sua voz, o que alimenta o sonho de se tornar escritora.⁣

as surras que eu levava

eram as surras que a minha mãe levou em looping

na minha pele, na pele dos filhos que ainda não tenho

O ciclo de abandono começa a se romper quando Júlia, já crescida, passa a trabalhar em um café e deixa a casa da mãe. Ela vai morar em uma pensão que tem uma história de resistência e foi salva por uma mulher, a viúva Argentina. A conexão com o próprio local, sua dona e seus hóspedes mostra à Júlia que, se quiser, ela pode flutuar ou ser qualquer coisa sem pés no chão.⁣

os estranhos não nos doem porque ainda não nos decepcionaram

e se mantivermos tudo a uma boa distância: seguirão sendo

essa doce incógnita.

⁣Acompanhar a coreografia do amadurecimento de Júlia é tão emocionante quanto apreciar a dança das palavras de Aline Bei. Em seu novo livro, ela mantém a prosa estruturada em versos, como no “pássaro”, mas aqui ela acrescenta um ingrediente novo: a esperança. Recomendo que a leitura seja feita na versão física, porque a distribuição das palavras na página fazem toda a diferença. A escrita tão próxima e sensível dessa autora-artista provoca em mim uma vastidão de sentimentos, nem todos decifráveis.⁣

sabíamos que a vida

ainda que fosse a nossa maior ruína era também a nossa única salvação.

⁣Cinco estrelas cheias de brilho pra essa obra.

Até a próxima, pessoal!


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Ana Liberato