quarta-feira, 15 de janeiro de 2020

Resenha: "O que será: a história de um defensor dos direitos humanos no Brasil" (Jean Wyllys e Adriana Abujamra)

Por Thaís Inocêncio: Em pouco mais de uma década, Jean Wyllys passou de uma das pessoas mais amadas para uma das mais odiadas do país. Em 2005, o então professor universitário participou da quinta edição Big Brother Brasil e foi escolhido pelo público como o grande vencedor do reality show, desbancando Grazi Massafera e levando para casa o prêmio de um milhão de reais. Treze anos depois, em 2018, após dois mandatos como deputado federal, decidiu deixar o Brasil devido às recorrentes e cada vez mais graves ameaças de morte. 

Neste livro, Jean apresenta sua trajetória em três partes, e em todas elas ele demonstra não só com opiniões, mas também com fatos, o quanto a homofobia influenciou sua vida e afetou suas decisões, inclusive e principalmente a de sair do país. 
"Homossexualidade não é crime nem pecado, tampouco doença, é apenas uma expressão do amor e da sexualidade, como qualquer outra. Assim como ter cabelo preto ou loiro, liso ou crespo, ser baixo ou alto. Somos diversos, essa é a beleza da vida."
Na primeira parte, ele fala da infância na periferia rural de Alagoinhas, cidade localizada no interior da Bahia, e conta como são suas relações familiares. Nesse trecho, ele revela que era desprezado pelo pai por causa do seu "jeitinho" e que foi chamado de "viado" pela primeira vez aos 6 anos de idade.

Na segunda parte, a maior do livro, Jean fala sobre sua carreira política. Ele foi eleito pela primeira vez para a Câmara dos Deputados em 2010. Em seguida, foi reeleito como o sétimo mais votado entre os candidatos do Rio de Janeiro. Mesmo com essa popularidade nas ruas, ele enfrentou muitas barreiras dentro do plenário, ocupado majoritariamente por homens brancos, declarados héteros e fortemente ligados à religião. 

Durante os dois mandatos, Jean priorizou os interesses dos pobres, dos negros, da população LGBT e das mulheres, defendendo pautas como as cotas raciais, o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a descriminalização do aborto. Tudo isso, somado ao preconceito, rendeu-lhe alguns inimigos, que tentaram desacreditá-lo com fake news, alegando que ele era intolerante religioso e até mesmo pedófilo. 

Ao longo dos oito anos como deputado federal, Jean lutou contra essas mentiras, levando muitos casos à justiça, até que suas forças se esgotaram. O estopim foi o assassinato da vereadora Marielle Franco, companheira de partido e amiga do deputado. Diante desse fato e das crescentes ameaças que recebia em nome dele e da família, Jean passou a andar sob escolta policial. Em 2018, ele foi reeleito para o terceiro mandato como deputado, mas decidiu não tomar posse e ir morar na Alemanha, o que ele explica com detalhes na última parte do livro. 

Quem já ouviu entrevistas e discursos de Jean, conseguirá reconhecê-lo facilmente nessa obra. Ele fala com orgulho de sua orientação sexual, não poupa nomes nem adjetivos ao se referir a seus adversários e defende suas ideias com veemência. Em determinados trechos dessa autobiografia, ele pode soar arrogante, mas essa é apenas a postura adotada por alguém que sofre ataques cotidianos. Embora não seja mais um representante da sociedade no Congresso, onde quer que esteja vivendo, Jean segue como uma referência na luta pelos direitos humanos.
"Minha presença no Congresso era importante porque representava setores da sociedade que não têm voz, mas minha intervenção política não depende disso, nunca esteve restrita a esse lugar." 
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Ana Liberato