segunda-feira, 27 de abril de 2020

Resenha: “Enfim, Capivaras” (Luísa Geisler)


Por Kleris: Se prepare para a caçada mais épica desse Brasil! 
Porque se você mora na Chapada do Pytuna, precisa tomar a iniciativa e criar a aventura.

Em Enfim, Capivaras, uma turma de garotos e garotas se unem para pegar o mentiroso da escola no pulo. No caso, Dênis – também conhecido como Binho. Não importa a situação ou contexto, Binho tem essa mania de grandeza e de mentiras sobre coisas que ele tem, conhece ou já viu. Até então era difícil comprovar informações soltas ou pouco palpáveis (como ter conhecido o Faustão), mas quando ele diz que tem uma capivara de estimação, a galera se reúne pra ir lá visitar o animal. Assim, só aparecer na porta da casa dele e ver até aonde essa lombra iria. 
Porque, como nossas próprias mentiras, a gente quer que seja verdade.

Para a surpresa de zero pessoas, Dênis conta que Capi, a capivara, fugiu. Surge a ideia então de ir atrás dela, afinal, não deve ter ido muito longe. Até porque a cidade, Chapada do Pytuna, no interior de Minas, também não era muito grande. E assim, com o carro de Léo, munidos de salgadinhos, bolos e bebidas, eles seguem à procura de Capi. Ou da verdade. Ou da justiça pelas merdas que Binho dizia por aí, interferindo na vida de tantas outras pessoas sem qualquer responsabilidade. 
Olhamos pra Vanessa e erguemos o mapa de leve. Ela faz que não com a cabeça (acelerado, vídeo acelerado), enquanto Nick dobra o papel e enfia no bolso. Vamos entrar no mato atrás de uma capivara potencialmente roubada, vamos no sentido contrário da civilização, que na verdade não é civilização, às dez da noite. Nenhuma ideia parece boa e essa é a pior de todas. Abro um sorriso.

Esse é um livro que você não vai querer largar até encontrar todas as respostas. É também um livro bem vapt-vupt, de uma sentada só, sincerão. Embora curto e rápido, é hiper rico de histórias, detalhes, identidades. E uma das coisas mais legais – além de sua premissa – é como a história é contada.

Acompanhamos a empreitada em um espaço de 12 horas e em tempo real com vários pontos de vista: de Vanessa, a garota da cidade grande que se mudou recentemente para o interior; Nick, a garota de um espírito aventuresco que luta para encontrar um encaixe no mundo; Léo, o garoto de pai fazendeiro (e rico), que deveria andar na linha; e Zé Luís, o filho da empregada da casa de Léo, um companheiro que vive à sombra do amigo. 
A gente está assim. A gente é assim. Neste momento.

Cada um tem motivações, vivências e segredos que marcam a experiência confusa da adolescência. Isso facilmente nos lembra do clássico Clube dos Cinco que repercute até hoje em diversas séries e filmes, mas o plus aqui é que a gente se conecta à trama de uma maneira nada americanizada. É aquela cidade pacata, pequena, buraco de meteoro, quente pra dedéu, sem vento algum e bem comum dessa terra e de muitos brasileiros. Ao retratar o ambiente interiorano, nossa linguagem e nossas peculiaridades, sentimos o quanto a história é crível. Aliás, é ótimo ler algo assim, tão nosso, tão a gente, tão verdadeiro. 
— Não sei se é seguro ficar parado aqui na estrada — diz Nick, enquanto olhamos para Dênis.
— É — diz Zé Luís. — Alguém pode querer nosso minduim.
— Sei lá — ela diz —, é que escureceu. 
— Outro Gusmão que não bate bem é aquele primo dele — digo —, que tem a esposa alcoólatra, que bebia até perfume, lembra?
— É — Nick começa a sentar no chão —, mas isso foi depois que o pai dela teve um AVC e tal, não dá pra dizer que...
— Posso terminar minha história? — interrompe Dênis.
— Ah — eu rio. — É mesmo.

O que move a narrativa (e faz suas páginas voarem) são os diálogos; as interações são tão naturais que podemos nos ver ali, reconhecer outras pessoas e voltar alguns anos de nossa própria história de crescimento. Eu, pelo menos, revivi um pouco dos anos 2000, as picuinhas de turma, as modinhas, os privilégios sobressaltados, lembrar das companhias, da conveniência escolar, e ver um pouco da porra da vida de todo mundo. Todos tivemos um amigo x, y, z da trama, e todos guardamos histórias escabrosas da época da escola. É a temporada mais traumática da vida, mas é um tempo que a gente não pira sozinho. 
— Acho que tá na hora de ir pra casa.
— Espera — diz Nessa. — A gente não vai resgatar o tamanduá?
— Resgatar o quê? — digo. — A gente sai pra catar uma capivara e quando vê tá cagando com a vida de outro bicho da fauna brasileira. Deixa pra lá.
— “Outro bicho da fauna brasileira...” — Léo diz, rindo.

Nesse contexto, Luísa lança as cagadas dos personagens ao leitor para que tire suas conclusões. Identidade, percepção de realidade e refúgio são temas fortes e que incitam conversas importantes, assim como quebras de tabus. Para tal, ela se utiliza de muitas conversas do grupo e conversas internas para mostrar as situações e acho que essa foi uma das melhores escolhas de como nos presentear a história. Sua intervenção entre os capítulos, com listas regressivas paralelas à trama, também se revela um grande acerto para a narrativa. 
11 motivos pelos quais Zé Luís está junto nessa bagunça11. Porque, por algum motivo, ele sempre está junto nessa bagunça. Por ser o Filho da Empregada, cargo oficial, sempre tem que ajudar. Ele ajuda a mãe a terminar mais rápido, a secar a louça, a dobrar a roupa. Ajudou com a mudança entre os apartamentos caros da família, ouvindo sobre como cada custava dois milhões. Ele ajuda Léo com os deveres de casa desde suas primeiras dificuldades com frações.

E assim ela vai do humor ao drama, do simples ao complexo e do banal ao pesado em poucas linhas – palavras até. Nelas, trabalha-se bastante esse senso de liberdade, de ser e apenas ser, de sair da linha, de fazer merdas, de se procurar, de encontrar apoio no outro, tudo junto e misturado. A sensação que fica é que precisamos de mais livros verdadeiros e sincerões como esse. 
Por mais que seja extrovertida — voltada para fora —, se sente mais introvertida — voltada para dentro. Ela se sente uma silêncio-vertida. E precisa esconder isso. 
— A gente vai trocar um lugar real, que a gente tá vendo por uma fazenda imaginária onde tem capivaras? — diz Dênis. — Vocês tão bêbados?

Enfim, Capivaras é assim uma leitura certeira para aquela viagem de busão ou trem rumo ao interior. É criar a aventura quando a aventura não vem até você. E é excelente para curtir tardes chuvosas, aproveitar intervalinhos de aula, curar ressacas literárias e mandar a censura ir à merda por querer abafar uma preciosidade dessas (reveja o caso aqui). Vale lembrar também de ler a entrevista com a autora no final, uma novidade da editora Seguinte para os seus últimos lançamentos <3

E, claro, recomendadíssimo!

Semelhante à obra anterior de Luísa (De espaços abandonados; reveja resenha aqui), perguntas ecoam. A diferença é que um livro nos deixa aos berros alucinada e o outro rindo loucamente. Deixo com você pra descobrir essa. 
— Eu nunca moraria num lugar sem McDonald’s — digo. — Não por não poder ir ao McDonald’s, mas pelo que isso significa, sabe? Se não chegou McDonald’s, o que mais não chegou?

Até a próxima!



sexta-feira, 24 de abril de 2020

Resenha: "Como se Casar com um Marquês" (Julia Quinn)


Tradução: Ana Rodrigues

Sinopse: Elizabeth Hotchkiss precisa se casar com um homem rico, e bem rápido. Com três irmãos mais novos para sustentar, ela sabe que não lhe resta outra alternativa. Então, quando encontra o livro Como se casar com um marquês na biblioteca de lady Danbury, para quem trabalha como dama de companhia, ela não pensa duas vezes: coloca o exemplar na bolsa e leva para casa. Incentivada por uma das irmãs, Elizabeth decide encontrar um homem qualquer para praticar as técnicas ensinadas no pequeno manual. É quando surge James Siddons, marquês de Riverdale e sobrinho de lady Danbury, que o convocou para salvá-la de um chantagista. Para realizar a investigação, ele finge ser outra pessoa. E o primeiro nome na sua lista de suspeitos é justamente... Elizabeth Hotchkiss. Intrigado pela atraente jovem com o curioso livrinho de regras, James galantemente se oferece para ajudá-la a conseguir um marido, deixando-a praticar as técnicas com ele. Afinal, quanto mais tempo passar na companhia de Elizabeth, mais perto estará de descobrir se ela é culpada. Mas quando o treinamento se torna perfeito demais, James decide que só há uma regra que vale a pena seguir: que Elizabeth se case com seu marquês. 

Por Jayne Cordeiro: Fiquei bem curiosa para ler esse livro, porque ouvi falar muito bem dele, principalmente comparado com o primeiro da série que não gostei tanto. E também, ele traria como protagonista o James, que já apareceu no primeiro livro e de quem gostei muito. Ele é um nobre e tem aquele jeito bem humorado e atraente, que qualquer leitora se apaixona. James vai para a casa da tia, Lady Danbury, se fazendo passar por uma administrador de terras recém contratado, com o objetivo de encontrar o chantagista da sua tia. E lá ele conhece Elizabeth, a jovem dama de companhia da tia, que cuida dos irmãos mais novos, e sem dinheiro para isso. Agora ela percebe que precisa se casar se quiser manter os irmãos bem, e James se prontifica a ajudar a moça a treinar para conquistar um marido. Mas os dois acabam se envolvendo, sendo que ela precisa de um marido com condições de manter os irmãos e James é apenas um funcionário pra ela.

Eu gostei muito desse livro. James é um personagem galanteador, bem humorado e divertido. Elizabeth é uma mulher doce e ao mesmo tempo de personalidade, e guerreira, ao criar vários irmãos mais novos sem ter nenhuma verba, além do seu trabalho como dama de companhia, da famosa Lady Danbury, que já apareceu muito em outras histórias da Julia Quinn. E essa é uma personagem que participa muito aqui, e muitas das cenas divertidas envolvem ela. E os diálogos do casal são ótimos e o leitorse apega a eles muito rápido. É gostoso acompanhar a interação deles. A diversão está principalmente nos diálogos, e em algumas outras cenas, mas de forma bem feita, sem ser forçada. E as cenas românticas também são ótimas.

O enredo é divertido, e utiliza uma ideia que parece boba, com um livro que ensina como conquistar um Marquês, e uma moça que tenta colocar essas ideias (muitas sem noção rsrsr) em prática. Li esse livro muito rápido, porque a leitura é rápida, divertida e instigante. É um livro que recomendo demais, e que trás tudo aquilo que no outro livro ficou faltando. E ainda trás de volta o casal do primeiro livro, que participam de algumas das cenas mais divertidas da história.

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quinta-feira, 23 de abril de 2020

Dia Mundial do Livro: como a leitura pode nos ajudar em momentos difíceis

Olá, pessoal!

Hoje, dia 23 de abril, é comemorado o Dia Mundial do Livro e do Direito de Autor. Todos sabemos que a situação atual não é exatamente para comemorações, porém, nós da equipe do Dear Book acreditamos no poder dos livros e decidimos compartilhar de que forma a leitura vem nos ajudando a lidar com esse momento tão incerto. Esperamos que todos estejam bem e, se possível, lendo em casa!

Jayne
Escolhi como minha próxima leitura o primeiro livro da trilogia Função CEO, da autora brasileira Tatiana Amaral. Já tinha ouvido falar dela, e tive o prazer de conhece-la em um evento literário. Só tinha lido um livro dela, que foi Baile de Máscaras, agora vou começar esse aqui, que tem tudo aquilo que gosto em um romance.
Robert é um empresário de sucesso, dominador e que deseja Melissa, sua nova estagiária. O relacionamento enfrenta vários problemas, e acompanhamos essa história cheia de romance, erotismo e drama.
A série já estava encalhada na minha estante faz um tempo e, nesse isolamento social, estou aproveitando para colocar a leitura em dia. Principalmente daqueles livros que estão na fila a muito tempo.


Stephanie
Atualmente estou lendo A história secreta, de Donna Tartt. O livro tem uma história e escrita bem densas, mas consegue prender a atenção graças aos diálogos e personagens marcantes.
Durante esse período, venho recorrendo bastante à leitura como forma de desestressar e ocupar a mente com histórias diferentes. Acho reconfortante ler sobre situações e dilemas que em nada se assemelham aos que vivencio, pois me lembram de que há muito mais na vida do que o presente. Tento sempre pensar que tudo é passageiro e que essa situação em algum momento vai ter fim.


Thaís
Estou lendo Minha história, a autobiografia de Michelle Obama, ex-primeira dama dos Estados Unidos. Tem sido uma leitura muito agradável e cheia de curiosidades. Michelle fala muito sobre sua vida pessoal, mas sem deixar de associá-la a questões sociais, raciais e de gênero, provocando muitas reflexões e ensinamentos aos leitores. Sinto que esse livro está numa crescente, tornando-se melhor a cada capítulo, então estou bem ansiosa pelo que vem pela frente.
Nesse período de quarentena e isolamento social, a leitura tem sido uma ótima ferramenta de distração pra mim. Tanto os livros de não ficção, como a autobiografia da Michelle Obama, quanto os livros de ficção têm me ajudado a escapar um pouquinho da realidade difícil que estamos vivendo e a manter a mente sadia. Já que os livros nos fazem viajar, nada melhor do que estar ao lado deles nesse momento em que devemos todos ficar em casa!

Espero que tenham gostado! Até a próxima!

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terça-feira, 21 de abril de 2020

Resenha: " Como Agarrar uma Herdeira " (Julia Quinn)


Tradução: Ana Rodrigues

Sinopse: Quando Caroline Trent é sequestrada por engano por Blake Ravenscroft, não faz o menor esforço para se libertar das garras do agente perigosamente sedutor. Afinal, está mesmo querendo escapar do casamento forçado com um homem que só se interessa pela fortuna que ela herdou. Blake a confundiu com a famosa espiã espanhola Carlotta De Leon, e Caroline não vai se preocupar em esclarecer nada até completar 21 anos, dali a seis semanas, quando passará a controlar a própria herança milionária. Enquanto isso, é muito mais conveniente ficar escondida ao lado desse sequestrador misterioso. A missão de Blake era levar "Carlotta" à justiça, e não se apaixonar por ela. Depois de anos de intriga e espionagem a serviço da Coroa, o coração dele ficou frio e insensível, mas essa prisioneira se prova uma verdadeira tentação que o desarma completamente. Um dos livros mais românticos – e engraçados – de Julia Quinn, Como agarrar uma herdeira inaugura a série Agentes da Coroa.

Por Jayne Cordeiro: "Como Agarrar uma Herdeira" é o primeiro livro da série Agentes da Coroa, que até agora tem dois livros publicados. Aqui temos uma Caroline que precisa fugir da casa de seu tutor que quer obrigar seu casamento. Mas os planos de Caroline mudam, quando ela acaba sequestrada, confundida com uma espiã. Blake é um agente secreto do governo, que está uma missão que acaba dando errado, quando sequestra uma inocente moça em vez de uma perigosa espiã. Blake não quer se envolver com a moça, mas a cada dia que passa, ele sente a parede emocional  que ergueu, se quebrar. 

Todo mundo já deve ter percebido que sou fã de um romance de época. E Julia Quinn é uma das divas desse gênero, apesar de não ser  minha autora favorita. E essa série, quem nem é nova, era uma das que ainda não tinha lido dela. E eu gostei do livro. Mas foi um dos mais fracos pra mim, entre todos que já li da autora. O livro tem um enredo bom. Algo mais diferente do que outros livros dela, que mostra o casal na sociedade. Aqui eles ficam sozinhos em uma casa, sem precisar cumprir todas as questões sociais, sem bailes, e com uma boa dose de ação, com espionagem e emboscadas. E o livro ainda trás uma boa dose de cenas divertidas, porque Caroline é um pouco desastrada, e Blake é bem ranzinza.

Mas apesar de tudo, não consegui me apegar ao casal. O romance deles não me conquistou. Acho que uma parte da culpa é do Blake, que foi um personagem muito rabugento. Se associado a isso houvesse uma possessividade, ou um romantismo por parte dele, isso teria compensado. Mas isso não acontece. Acabamos tendo uma mocinha um pouco infantil e um mocinho muito sério, e apesar de terem algumas cenas românticas interessantes, não me conquistaram. Mas o livro não é ruim, e vale a leitura. Mas quando comparado ao segundo livro, ele fica mais abaixo. Trarei logo a resenha desse para vocês.


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Ana Liberato