Definitivamente, Liz Gilbert, é uma mulher de fibra, mesmo que antes, ela não acreditasse. E não apenas por sair de um casamento, mesmo quando tudo parecia conspirar contra. Ela enfrentou todos os seus medos e procurou acalento em suas próprias vontades. Não encontramos uma mulher, assim, capaz de deixar tudo e ir atrás do seu eu.
Eu já pensei em fugir, várias vezes, é lógico, mas e a coragem? E o medo de me aventurar e acabar pior do que já estive. O medo de não encontrar amor e conforto, mas problemas maiores do que tenho. Não é fácil. Pensa que à ela foi? Não, definitivamente, seu caminho foi tortuoso, um verdadeiro labirinto até encontrar a luz ao fim do túnel.
Se você ainda não tem ideia da pessoa, da qual eu cito aqui, ela é ninguém mais que Elizabeth Gilbert, a autora do livro “Comer, Rezar, Amar”. Exemplar que já teve mais de 4 milhões de cópias vendidas no mundo todo. Simples, não? Pior é que não é. Imagine que você tem um divórcio a enfrentar, um amor para ser correspondido, uma vida e uma carreira a tocar e ainda um futuro incerto que perturba.
Elizabeth teve todas os possíveis conflitos em sua vida. O amor parecia não ser seu amigo, a fé não era uma de suas atividades prediletas, na verdade ela nunca havia conversado com Deus.
Incerta sobre a vida que iria seguir, Elizabeth resolver se dar ao luxo de fazer o que desejava, pela primeira vez. Deixou tudo de lado e vendeu à sua Editora um livro que ela ainda iria escrever, fruto de uma viagem de um ano inteiro à Itália, para buscar os prazeres de comer, depois à Índia, aonde buscaria a sua fé e finalizaria na Indonésia, em Bali, onde buscaria o seu equilíbrio, o seu eu.
A primeira parada dessa viagem é a Itália. Um momento marcante do livro. Liz parece nunca ter se sentido tão em casa quanto sentia-se em Roma. Encontrou amigos, pessoas que marcaram sua trajetória por lá e, ainda se afeiçoam com nós, leitores, a sueca Sophie, o italiano nato Luca Spaghetti. O bonito Giovanni e ainda o casal, Giulio e Maria. Ali conseguimos enxergar Elizabeth em paz consigo mesma, conseguindo desfrutar de alegria e boa companhia, enfrentando a si e aos conflitos e deixando a vida levá-la, como devia ser. Aprendia italiano com afinco, o que era de SUA vontade.
Uma parte interessante em sua viagem à Itália são os aprendizados, bem detalhados também no filme, a devoção que a autora encontra no idioma desconhecido. A paixão com que trata a língua italiana sem conhecê-la. Attraverssiamo. A palavra com sonoridade mais perfeita. Elizabeth trata o livro com tanto amor que nós podemos sentir em cada palavra escrita. É possível rir de suas metáforas e de suas histórias. Ela tem um humor incrível. A Itália a renovou, lhe deu prazer e histórias deliciosas para nos contar.
“Até agora, no entanto, o que mais gosto de dizer em italiano é uma palavra simples, comum: Attraversiamo. Quer dizer: “Vamos atravessar.” Ela não tem nada demais. Mesmo assim, por algum motivo, causa-me um efeito poderoso... O a aberto e promissor da primeira sílaba, o r enrolado, o s tranquilizador e a interminável combinação “ii-aaaa-mo” no final. Adoro essa palavra.
Me deparei com uma surpresa total na parte reservada a sua viagem à Índia. Impressionante! Elizabeth consegue transmitir a sua devoção a nós. Há partes em que a fé é tanta que eu acabava me pegando fazendo uma prece. O país é precário, mas a fé daquele povo é tão rica que tudo supre a miséria. O livro não é apenas uma história, mas um aprendizado. Um misto de culturas e histórias que aprendemos a gostar, respeitar e conhecer.
Lembro-me de um trecho de sua passagem pelo ashram, onde Liz conta sobre o problema com o cântico, em sânscrito, Gurugita, que se trata de um cântico indiano com 182 versos. Penoso para os iniciantes, mas um conforto para os praticantes antigos. Confesso que sofri com Liz enquanto a mesma não conseguia se manter na fé e não praticava o cântico com a devoção necessária e, por esse motivo esse trecho me emocionou de uma forma inesperada. Ao transferir sua emoção, fé e devoção ao seu sobrinho, ela não só conseguiu passar pelos 182 versos, mas como se sentiu próxima de Deus e o melhor é que a luz de bençãos transmitida ao pequeno garoto fez com que seus problemas para dormir não o perturbassem mais. É lindo como Liz descobre Deus, diariamente.
“O objetivo do Gurugita é ser um hino de amor puro, mas alguma coisa estava me impedindo de oferecer esse amor com sinceridade. Então, conforme cantava cada verso, eu ia percebendo que precisava encontrar alguma coisa – ou alguém – a quem pudesse dedicar aquele hino, de modo a encontrar um lugar de puro amor dentro de mim. Quando cheguei ao Verso 20, descobri quem era: Nick.
Nick, meu sobrinho, é um menino de oito anos, magrelo para sua idade, assustadoramente inteligente, terrivelmente esperto, sensível e complexo. Minutos depois de nascer, entre todos os recém-nascidos que se esgoelavam no berçário, ele era o único que não chorava, mas olhava em volta com os olhos adultos, experientes e preocupados... Nick é uma criança para quem a vida nunca é simples, uma criança que escuta, vê e sente tudo com intensidade, uma criança que às vezes pode ser dominada pela emoção tão depressa que deixa todos nós assustados. Amo esse menino profundamente e quero protegê-lo. Fazendo as contas da diferença de fuso horário entre e a Índia e a Pensilvânia, percebi que estava quase na hora de ele ir para a cama. Então cantei o Gurugita para meu sobrinho Nick, para ajudá-lo a dormir.
(…) Enchi a canção com todas as coisas que gostaria de lhe ensinar sobre a vida. Tentei reconfortá-lo com cada estrofe, dizendo que o mundo às vezes é difícil e injusto, mas que está tudo bem, porque ele é muito amado. Nem é preciso dizer que nunca mais faltei ao Gurugita, e ele se tornou a mais sagrada das minhas práticas no ashram.”
E não é apenas isso, a cada página de sua passagem pela Índia, nós nos identificamos com o lugar, com as pessoas. Tulsi, a menina indiana tão moderna para o seu país e sua cultura, tão inocente para viver uma vida indiana. Richard do Texas, tão sensacional em cada uma de suas palavras e conselhos. Tão triste sua partida, como qualquer despedida de um ente querido.
E assim Liz narra sua passagem pela Índia, com fé, devoção e muito aprendizado. Uma verdadeira peregrinação em busca de sua fé e de seu encontro com Deus. E não há possibilidade nenhuma de não se encantar com uma narração tão firme, sonhadora, perturbadora em alguns momentos, mas sublime e pura em todas as ações e caminhos. Essa é a Índia, com seus caminhos e provações, mas com uma fé inigualável.
Quando desembarcamos em Bali, a tranquilidade é notória, estamos muito mais alegres, receptivos e em paz do que estávamos na Itália ou quando chegamos a Índia e, quando digo nós, quero realmente incluir a mim e a você que também leu e vivenciou ao lado de Elizabeth a sua busca por todas as coisas da vida, pois é assim que nos sentimos, como uma amiga em especial que viaja e vive todos os momentos ao seu lado.
Quem assistiu ao filme, sabe o que acontece em Bali, em busca de seu equilíbrio ela encontra Felipe, um homem brasileiro, pelo qual se apaixona. Mas antes mesmo de chegar até ele conhecemos duas pessoas especiais, Wayan e Tutti. Mãe e filha, respectivamente, que sofrem por não ter um teto para morar. A precariedade é tanta que elas não têm um quarto ou uma cama para dormir, mas a bondade é tanta que mesmo assim, Wayan adota duas crianças que foram abandonadas, me faz lembrar o que minha mãe sempre diz “Quem pouco tem, doa-se muito mais do que aqueles que muito tem.” Pura verdade!
Elizabeth se afeiçoa a Tutti, uma garotinha de oito anos, que já viveu experiências de muitas mulheres com o dobro ou o triplo de sua idade. Passou fome, frio, viu a mãe apanhar incansavelmente do pai e vive viajando, sem um teto ou uma estabilidade.
Wayan é uma curadora balinesa, divorciada, que vendeu tudo o que tinha para pagar um advogado afim de que ganhasse a guarda de sua filha. E quando digo tudo, é tudo literalmente: meias, roupas, chuveiro, talheres, utensílios de sua casa, enfim, tudo. Sua vida se divide em cuidar de suas filhas, e trabalhar em sua loja alugada, mas isso enquanto não é despejada e tem que partir para outro lugar e recomeçar.
O fato é que Elizabeth poderia muito bem ouvir essa história e se comover, mas secar as lágrimas e permanecer cuidando de sua vida, mas não é isso que ela faz. Ao aproximar de seu aniversário de 35 anos, ela manda um email a todos os seus amigos e aos amigos de seus amigos, para que ao invés de eles lhe mandarem presentes que doem uma quantia, de sua preferência, para ajudar Wayan e sua Tutti a comprarem uma casa. E ela consegue, graças a Deus. Dezoito mil dólares vindos de várias partes do mundo e, por vezes, de partes desconhecidas. Uma benção, não?
“Uma última coisa. Fico envergonhada de admitir que foi meu amigo Bob, não eu, quem percebeu o fato óbvio de que a palavra “Tutti”, em italiano, quer dizer “todo mundo”. Como é que eu não havia percebido isso antes? Depois de todos aqueles meses em Roma! Eu simplesmente não vi a ligação. Então foi Bob, lá de Utah, quem precisou chamar minha atenção para ela. Ele fez isso em um e-mail na semana passada no qual, junto com sua promessa de doar dinheiro para a nova casa, dizia: “Então essa é a lição final? Quando você sai pelo mundo para ajudar a si mesma, acaba inevitavelmente ajudanto... Tutti.”
Quanto ao gentleman brasileiro, eu prefiro o do livro. Grisalho, sedutor, encantador e super brasileiro, e não ao ator do filme, que não se passa por brasileiro nem de longe, uma pena, pois temos tantos excelentes atores para encarnar o “querido” Felipe. A história desse novo casal é contada no livro seguinte, Comprometida, que inclusive já comecei a ler. Adianto que Elizabeth não teve apenas sorte no amor, pois Felipe é um amante à moda antiga, um homem que muitas de nós sonhamos em ter ou para as sortudas, como eu, já o tem rs... Mas digo que ela teve sorte, pois em todos os lugares que passou acabou encontrando pessoas que além de fazerem a diferença em sua vida, aprenderam com a própria Liz Gilbert que amigos realmente fazem a diferença.
Não irei contar os detalhes mais precisos dessa viagem sem igual. Obrigada, Elizabeth, por me proporcionar momentos tão agradáveis em nossa viagem. Um conselho: Faça também a sua busca.
"No final das contas, talvez seja mais sábio se render à milagrosa abrangência da generosidade humana e simplesmente continuar dizendo obrigada, para sempre e com sinceridade, enquanto tivermos voz."