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segunda-feira, 13 de março de 2017

Resenha: “O Navio das Noivas” (Jojo Moyes)

Tradução de: Flávia Rössler

*Por Mary*: Olha eu!

Como muitos de vocês devem saber, sou uma grande fã de Jojo Moyes. Além de uma escritora impressionante, com uma coleção bastante multifacetada, ela tem o impressionante talento de tocar seu leitor sem necessariamente fazê-lo chorar. Seu objetivo nunca parece ser abordar o sofrimento, mas o que existe por trás dele. 
Perdi a inocência, meus amigos perderam a vida, por isso sofro por não ter mais o que sequer tive certeza de que um dia já quis. Pelo menos até ser tarde demais.

O Navio das Noivas reúne tudo o que a gente gosta: romance, aventura, História, ambientações magníficas e a qualidade inconfundível de uma das autoras mais brilhantes da atualidade.

Com direito a susto no final, Jojo Moyes nos leva a navegar a bordo do porta-aviões HMS Victorious, que, em sua última missão pós-guerra, tem a tarefa de transportar mais de 600 esposas australianas rumo à Inglaterra, onde um futuro incerto as aguarda ao lado dos maridos oficiais e suas famílias britânicas.

Inspirado nos repatriamentos realizados pela Marinha Real Britânica em meados de 1946, a autora foca sua narrativa em quatro passageiras: Margaret, uma mulher forte, acostumada à vida rural, cheia de inseguranças acerca de sua capacidade em ser uma boa mãe e esposa; Avice, menina fútil da alta sociedade australiana, filha de um importante comerciante e acostumada a ter todos seus caprichos atendidos; Jean, uma moça muito jovem, inconsequente e imatura; e, por fim, Frances, uma enfermeira discreta e pragmática, que claramente guarda um segredo.

A reunião improvável de mulheres tão diferentes para dividir a cabine durante uma travessia de seis semanas acaba por reviver demônios internos, trazendo à tona segredos e confidências.
- Será que enlouquecemos, Frances? – perguntou ela, por fim.
- O quê?
- Que diabo de decisão foi essa que tomamos?
- Não tenho certeza do que...
- Abandonamos tudo, todas as pessoas que amamos, nossa casa, nossa segurança. E para quê? Para sermos agredidas e depois rotuladas de vagabundas, como Jean? Para que a Marinha interrogue sobre nosso passado, como se fôssemos criminosas? Para passar por tudo isso e no fim alguém dizer que não somos bem-vindas? Porque não há garantia, certo? Nada prova que esses homens e suas famílias vão nos aceitar, não é mesmo?
Com uma narrativa descontínua, em terceira pessoa, Jojo nos apresenta a outros intrigantes personagens, como, por exemplo, o solitário e workaholic comandante Highfield, apaixonado pelo mar, atormentado pelos erros do passado e perdido diante da aposentadoria iminente.

Além do comandante, conhecemos, dentre outros, o fechado fuzileiro naval Nicol e o misterioso fornalheiro Dennis Tims.

Uns, muito apaixonantes; outros, nem tanto. Não obstante, sem sombra de dúvidas, todos muito interessantes. 
Ele se convencera de que era incapaz de ter sentimentos. Tinha ficado tão abalado com os horrores da guerra, com a perda de tantas pessoas à sua volta que, como tantos homens, se fechara. Agora, forçado a examinar com sinceridade seu comportamento, achava que talvez nunca tivesse amado a esposa, que talvez tivesse se deixado levar pela expectativa, pela ideia de que devia se casar (...). Não havia espaço para desejar outras coisas, para alternativas. Você foi em frente com o que tinha. Talvez, ele pensava durante os piores momentos, relutasse em admitir que a guerra o libertara de tudo aquilo.
Acho que em alguma de minhas resenhas anteriores sobre a Jojo Moyes, devo ter mencionado o quanto acho impressionante sua habilidade de criar enredos muito distintos entre si, com personagens que em nada se igualam aos demais. E, neste livro, não foi diferente.

Apesar de sentir certa semelhança com A garota que você deixou para trás, se formos analisar mais a fundo, não tem muita coisa parecida, não. O Navio das Noivas se passa, quase que inteiramente, em 1946, no turbilhão de incertezas deixado pela Segunda Guerra Mundial.

Além de abordar as incertezas, inseguranças e temores dos passageiros a bordo do HMS Victorious, pode-se identificar facilmente o realce ao empoderamento feminino, partindo da constante desconstrução do discurso sexista e do tratamento separatista até então muito em voga – mas que começava a perder força gradativamente. 
Nunca nos contam que não ficamos só com o vazio da perda, mas também com uma infinidade de perguntas que jamais serão respondidas.
Quando a gente costuma ler determinado autor, passamos a identificar certas características nele. Sendo assim, apesar de a Jojo ter um estilo muito diversificado, sua estilística é muito pessoal e, assim como os demais, carrega algumas marcas. Uma destas que eu ressaltaria aqui é o início lento das suas tramas. Normalmente, demoro um pouco a engrenar nas leituras dos livros desta escritora, o que não significa dizer que sua escrita é difícil. Porque não é. Se trata muito mais de um clima mais lento, entende? Como quando a gente sobe em uma esteira, começa andando devagarzinho, vai, vai, vai mais um pouco, e, quando menos esperamos, estamos a correr esbaforidos em cima dela. No fim, como já estamos aquecidos, a caminhada flui mais facilmente e, por fim, a esteira para, nos dando aquela sensação de dever cumprido.

O Navio das Noivas é um livro fascinante, que merece ser saboreado devidamente, como fazemos com todo bom livro – e aí não importa se é em dois dias ou em duas semanas, porque cada um tem o seu tempo. Se você quer aventura com uma boa pitada de romance, recheado de qualidade e excelentes informações históricas, além de visuais exuberantes, você não pode deixar este livro passar.
Foi nesse momento, ao observar seu rosto pálido e sério, e ouvir na sua resposta a determinação de nunca deixar de lado o sofrimento dos outros, que ele percebeu que o que sentia por ela não era nada apropriado.
- Eu... eu... não...
O choque dessa percepção o deixou sem voz, e depois ele apenas balançou a cabeça em silêncio. Embora não tivesse relação com o assunto, de repente se lembrou da sua última folga em terra, quando se sentiu exposto e envergonhado.

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sexta-feira, 22 de maio de 2015

Resenha: “A Última Carta de Amor” (Jojo Moyes)

*Por Mary*: “Eu sou puro amor!” Essa é a frase que me define nesse momento. Só vejo arco-íris!

Em A Última Carta de Amor, Jojo Moyes faz uma dobradinha com o recurso utilizado em A Garota que Você Deixou Para Trás de traçar um paralelo entre passado e presente, entrelaçando as duas histórias de um modo envolvente e apaixonante.

Mas para quem pensa que, de algum modo, o recurso pode se tornar repetitivo, não poderia estar mais enganado. Aqui, Jojo mais uma vez inova e nos surpreende, utilizando uma narrativa inicial não linear, personagens autênticos e uma trama tocante, que, aposto, vai te prender do começo ao fim.

Mas vamos conhecer um pouco mais da trama?

Em meados dos Anos 60, Jennifer Stirling acorda em um hospital de Londres após sofrer um acidente de carro. Não consegue se lembrar de nada da sua vida anterior, mas descobre que tem um marido chamado Laurence, mãe, amigas e uma vida financeira confortável. O médico aconselha que não force nada, porque com o tempo a memória voltará – mas Jenny tem a sensação de que sua família não tem muita pressa para que isso aconteça. Quando volta para casa, os dias se passam e a sensação de que há peças faltando em sua vida é incapaz de ser ignorada. Além disso, a completa falta de química com o marido faz com que Jennifer se pergunte que tipo de sentimento tinha por ele quando se casaram. É em meio a este momento de difícil adaptação que Jenny encontra escondidas no meio de suas coisas cartas de amor endereçadas a ela e apenas de uma coisa tem certeza sobre elas: não foram escritas por seu marido.

Quarenta anos depois, em um jornal londrino, Ellie Haworth vive um momento complicado. Envolvida com um homem casado – a quem ela jura de pés juntos que a ama perdidamente e que um dia deixará a mulher por ela –, a relação reflete negativamente em sua vida profissional. Sua reputação, seu emprego e sua carreira estão por um fio e indo por água abaixo, uma vez que se vê cada vez mais consumida pela relação clandestina com John. Vasculhando os arquivos do jornal em busca de material para uma reportagem, Ellie encontra cartas de um amor proibido que estranhamente parecem envolvê-la de um modo inimaginável. Com a ajuda de um arquivista gatinho, Rory, Ellie busca mais informações sobre o casal, decidida a conhecê-los e reuni-los, o que, de alguma forma, acaba por dar-lhe respostas à sua própria situação.

Uma das coisas que mais admiro na Jojo Moyes – além de sua capacidade de nos transportar dentro de uma máquina do tempo para o lugar que ela bem entende – é seu talento em se reinventar. Cada um de seus livros, bem como cada um de seus personagens, são completamente distintos entre si. Abordagem, trama, história. Há em comum o sentimento doce, a narrativa bela e esse tipo de amor altruísta que somente ela sabe descrever.

Inicialmente, Jojo retrata a readaptação de Jenny à sua antiga vida, após acordar no hospital depois de um acidente de carro, no qual perdeu a memória. Contudo, posteriormente, passa a narrar alternadamente com capítulos de sua antiga vida. É aí que mora o perigo: o recurso de utilizar uma narrativa não linear é bastante válido e elogiável, mas fica um pouco confuso. Juro. Levei mais de cem páginas para entender que os capítulos estavam alternados. Não sei se isso aconteceu por pura lerdeza minha, se foi realmente o fato de não haver nenhum indicativo do método adotado ou se era justamente essa a intenção da autora. Fato é que o leitor precisa ficar atento e, se for um pouco mais criterioso (ou chato), pode ficar bastante incomodado com relação a isso. E eu nem posso julgar, porque, né?!

Traça-se um paralelo temporal em A Última Carta de Amor muito interessante. Conforme já mencionei, a primeira parte da história contextualiza-se na Londres dos anos 60. A partir disso, cria-se uma espécie de comparação comportamental quanto ao contexto histórico, sobretudo relativo ao âmbito amoroso e isso meio que é abordado metalinguisticamente. Caramba, Mary, o que diabos você quer dizer com isso, menina? Calma, que eu explico. Lembra que eu contei que a Ellie trabalha em um jornal? Pois, então, ela fica encarregada de escrever uma matéria comparando os amores de ontem com os de hoje. Essa comparação, indiretamente, é realizada pela própria autora ao abordar os problemas amorosos de Ellie, envolvida com um homem casado.

Outro tema indiretamente abordado é o atual papel da mulher na sociedade, se comparado aos costumes de décadas passadas. Não vou começar a falar aqui de feminismo – nem a autora faz isso –, ainda que este seja um tema que se toca inúmeras vezes no decorrer da narrativa. Atrelado a isso, outras questões são discutidas, tais como a problemática comunicação atualmente entre as pessoas (apesar dos inúmeros meios surgidos no decorrer dos anos) e as neuras surgidas em decorrência do surgimento dessas novas tecnologias (mas disso eu falo um pouquinho mais lá na frente, aguenta aí).

Há alguns personagens que merecem menção, dado a que representam. Jenny, em sua coragem de sambar na cara da sociedade e ir atrás do seu amor; Anthony, em sua entrega apaixonada; Rory, por aquela fofura impressionante e o humor que conquista o leitor de cara; e Melissa, que, apesar de aparecer tão pouco, corporifica muito bem o dilema carreira/família da mulher moderna capaz de se dividir em mil. Acho que preciso também mencionar a Ellie, por pura educação, mas, sinceramente, ela me fez muita raiva em alguns momentos.

Falando em Ellie, preciso comentar as neuras dela. É engraçado como isso é tão natural com o que vivemos no dia a dia. Quem aí nunca ficou às voltas com uma mensagem de texto ou e-mail daquele paquera, tentando interpretar a todo custo o que ele quis dizer com o mínimo “Oi, tudo bem?”? Se visualizou a mensagem no Whatsapp e não respondeu... Ah, então, aí mesmo que a gente se descabela (de raiva ou desespero, o que preferir). NÃO RESPONDEU POR QUÊ? O contrário também. Que atire a primeira pedra quem nunca ficou pensando, repensando e reescreveu milhares de vezes uma mesma pequena mensagem, só para garantir que o carinha lerá com a interpretação certa? Apesar de compreender a Ellie, isso chega a irritar. Criticar os outros é tão fácil... 
“Ela passa as mensagens armazenadas no celular, tentando ver se houve algum indício desse ‘esfriamento’ nos torpedos que ele lhe mandou.”
“Isso não dá uma impressão de dependência, possessão nem mesmo desespero. Sugere que ela é uma mulher com muitos convites, coisas para fazer, mas significa que o colocará em primeiro lugar se necessário. Ela relê a mensagem por mais cinco minutos, para garantir que acertou perfeitamente o tom, e a envia.”
 Me compreendam, ela não é aquele tipo de personagem insuportável – não quero passar a impressão errada a vocês – entretanto há um detalhe ou outro que nos faz implicar um pouquinho. Implicância saudável, garanto a vocês. Afinal, mocinha que é mocinha, tem que ser odiada e essa nem é completamente chata como algumas que vemos por aí.

BTW, para encerrar, quero elogiar uma coisa concernente à parte física do livro. No decorrer da leitura, percebi que os capítulos todos são iniciados com algumas últimas cartas de amor e isso me chamou a atenção. Algumas de pessoas conhecidas, outras não. Nos agradecimentos, a Jojo explica que essas correspondências foram enviadas por muitos de seus leitores, mas que contou também com a participação de correspondências literárias.



Se você quer morrer de amores e ficar toda sentimental por alguns dias, definitivamente, A Última Carta de Amor é a escolha certa. 
“Mas de repente me dei conta, no meio daquela pequena cena de loucura, que ter alguém que nos entenda, que nos deseje, que nos veja como uma versão melhorada de nós mesmos é o presente mais incrível (...). Não sei ao certo como conquistei o direito. Não me sinto totalmente seguro desse direito mesmo agora. Mas a própria chance de pensar em seu rosto lindo, seu sorriso, e saber que alguma parte disso poderia me pertencer talvez seja a coisa mais importante que me aconteceu na vida.”





 
Ana Liberato