sexta-feira, 14 de julho de 2017

Resenha: “Depois do Fim” (Daniel Bovolento)


Por Kleris: Sabe aquela expressão de pegar os limões que recebe da vida e fazer uma limonada? É o que Daniel entrega nos 50 textos de Depois do Fim, um livro de crônicas sobre aquele momento difícil de toda relação: o adeus, o fim, o tempo e processo de cura de um coração. E é na rotina – ou quebra de rotina – que tudo se evidencia. 
Você sempre acha que essas coisas nunca vão acontecer com você. 
Quando você achava que nunca aconteceria nada disso com você, quando o fim era uma perspectiva tão imprevisível quanto o início, você acaba tendo uma única certeza: ele ainda está dentro de você. E seu maior problema agora, mais do que qualquer outro, é descobrir como tirá-lo daí. 
As coisas nunca acabam pontualmente. Não existe um determinado dia em que você olha pro calendário, confere as horas no relógio, vira pra alguém e diz: eu não te amo mais. As coisas se arrastam por momentos em que a gente vai identificando o desgaste.

Amores, desamores, luto, apoio e superação são temáticas que constituem o livro, marcado por doses generosas de poesia e empatia. É assim que Daniel nos faz encarar vários estágios do fim. Ele costura historietas, conversações, fluxos de pensamento. Recortes da vida, filmes que transitam no nosso imaginário. Todos permeados de dúvidas, zigue-zagues da consciência e, apesar do que sugere, nem sempre está acompanhado de uma densa nuvem de fossa depressiva. 
Como é que a gente explica prum cachorro que você não iria voltar? Não sei, não consegui explicar nem pra mim. 
Tô te implorando lentamente pra dizer alguma coisa que me pare enquanto eu declaro que tô desistindo de você. Tô levando na mala só o que é meu, e deixo o que era nosso pra você fazer fogueira do passado. [...] Diz e me impede, de uma vez, de desistir de você. 
Cê acha que isso aqui vai demorar muito? Não o filme, mas a gente. Isso aqui que a gente tem e que um dia passa.
Acho que sim, acho que não. Não sei. Tempo é relativo. Pra você pode ter sido um ano, pra mim pode ter sido uma vida. A gente nunca sabe quanto tempo o outro vai morar na gente depois da despedida.

Mesmo as experiências mais dolorosas tem sua importância, e não adianta fugir delas. É preciso senti-las em toda sua profundidade – para que passem. Porque uma hora passa. 
“Com Bovolento, mergulhamos na dor e na beleza do encerramento de uma história de amor. E com ele damos a volta completa para finalmente entender que só pode haver vida se houver morte”. – Milly Lacombe, escritora e jornalista (texto de contracapa)

Daniel também traz luz para diversas impressões de relacionamentos que não fazem mais sentido em nossa realidade, como o fato de uma pessoa sentir que deve consertar a outra (não!), que quem sempre termina é o vilão da história (não!), sem falar das expectativas irreais e demais idealizações que produzem aquele choque negativo com a realidade. Nesse sentido, ao retratar as relações, com visões de dentro e de fora, Daniel se mostra muito “pé no chão”. E ainda oferece um ombro amigo. 
E a gente se força a achar que o outro pode ser consertado, mesmo sendo evidentes as rachaduras, suas infiltrações e alguns parafusos meio frouxos que ficam bem na cara. 
Olhamos todos o lado do mocinho depressivo que ficou lamentando por muito tempo a ida da mulher da sua vida, como se ela não tivesse também o direito de ir em busca do homem da vida dela. 
Mais do que isso, tentam me dizer que eu vou nunca conseguir ser feliz sozinha, que não fui feita para ser sozinha. Discordo.

Há crônicas para arranhar, para amainar, para rasgar, para descansar, para rir (de nervoso até); não é uma leitura tão fácil. Apesar de toda poesia em volta, o livro pede (e entende que é preciso) muita calma de seu leitor, assim como o leitor pede calma em favor de seus sentimentos. Isto porque a gente abre sabendo que vai topar com inúmeros gatilhos. Mas vale abrir um a um, respeitando, claro, nosso tempo de cura. Volte sempre que puder. Ao fim você vai se sentir melhor. 
Será que um dia eu voltarei a ser o mesmo? Digo, o cara que era antes de você, sabe? 
Vão bater na tua porta, vão te ligar aos montes, vão ter dó de te deixar sozinho. Vão espantar o escuro, vão decretar estado de alerta e euforia, vão te marcar nas coisas mais engraçadas da internet. Vão descarregar caminhões de felicidade empacotada na tua casa, vão te apresentar amigos e mais amigos, vão comprar passagens de avião pra Indonésia de presente. Vão mover mundos e fundos para que você fique bem. Mas você não reage aos estímulos.

Aliás, com tantas bandeirinhas (marcadores) adesivados no livro, você vai querer voltar sempre sim. Porque Daniel escreve de maneira a nos fazer entender os mais indecifráveis sentimentos. Sério, dá vontade de marcar o livro inteiro, parágrafo a parágrafo. Prepare sua cartelinha, você vai precisar.




De plus, temos um projeto gráfico maravilhoso da Planeta. Trechos (“fotografáveis”) se encontram dispostos como entrada das crônicas e o conjunto de recursos das páginas, pretos, cinzas, amareladas, dão o toque final. Os textos são mega curtos, mas de grande peso. Cercados de um repertório musical pra te colocar e te tirar da fossa, a leitura mostra que não há experiência sem aprendizado.  

Ademais, em diversos momentos, lembrei do livro Que Ninguém Nos Ouça (aqui), pela vibe de lavar a alma, e dos livros da Brené Brown (aqui), quando se fala sobre vínculos, (auto)aceitação e processo de volta por cima. Estar em um relacionamento poder ser muito V1D4 L0K4, mas, no fim das contas, estamos aqui para nos relacionar, cada qual em sua própria jornada. 
Você pode não ter se candidatado à jornada do herói, mas, no instante em que caiu, quebrou a cara, sofreu uma decepção, meteu os pés pelas mãos ou ficou de coração partido, ela começou. Não importa se estamos prontos para uma aventura emocional – as mágoas acontecem. E ninguém está livre delas. Sem exceção. A única decisão que podemos tomar é sobre o papel que vamos desempenhar na própria vida: queremos escrever nossa história ou queremos entregar esse poder a outra pessoa? Mais Forte do Que Nunca – Brené Brown

Depois do Fim é aquele livro que te dá tapinhas no ombro a cada revolver de sentimentos. Espera contigo (vide imagem abaixo). Arde, mas também sabe deixar o coração quentinho como um episódio maravilhoso de Gilmore Girls com junky food. É um mergulho profundo (e às vezes necessário) naquela maratona binge da netflix. Você sai cansado, mas realizado. Pronto pra outra. 
De vez em quando, seremos essas pessoas que deixam pessoas ótimas irem embora porque alguém feriu a gente. Porque alguém quebrou a gente um tempo atrás. Não é culpa de ninguém, só não era o tempo certo, só não estávamos curados.

Fonte de imagem: @_poematizar

A playlist do livro



Eu ainda adicionaria as lentas de Alexz Johnson e de Boy (duo) de doida mesmo.
Pois é, deixe uma leitora aloprar...

Até a próxima!

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Ana Liberato