sexta-feira, 24 de julho de 2020

Resenha: "Os Blues Que Não Dançamos" (Franck Santos)


Por Kleris: 
“Será que inventei você? Será que inventei esta história? [...] Sinto-me uma ilha dentro desta Ilha onde moro. Contudo, sei que somos raros. Raros.”

Os Blues Que Não Dançamos é uma noveleta de inquietações que nos envolve no romance à distância de Bento e Pedro. Eles se conheceram em aplicativo de relacionamento e estenderam a relação para troca de e-mails. Pedro dizia que era por ser avesso a redes sociais. Bento, por outro lado, sempre sonhador e esperançoso, fica a mercê das escolhas do outro e de suas escassas informações. 
Estou aqui nesta casa em obras, mas me vejo caminhando pelas ruas noturnas e despertas da sua cidade; da sua cidade, Pedro, da metrópole onde moras. Você me compreende? Diga que sim, abra espaço em você para o meu desejo.

Adentramos na história pelo ponto de vista de Bento, através de seu fluxo de pensamento, sempre carregado de devaneios, fantasias, planos e expectativas. A narrativa, porém, se guia por recortes temporais: um “antes” e um “depois” de uma viagem combinada para se encontrarem em Goiás, numa cidade no meio do caminho de suas residências (Bento, da grande ilha de São Luís, e Pedro, de São Paulo).

Entre lacunas e delírios, o enredo vai costurando seus mistérios e nos agraciando com crônicas poéticas desse amor sempre à espera de mais. É inevitável torcer por Bento e seus anseios; bate forte a questão da responsabilidade afetiva. Mas quando conhecemos o outro lado da história, repensamos todos nossos julgamentos. Ainda mais quando a significância do título se faz valer.

Este é meu primeiro livro do Franck Santos e com certeza a porta de entrada para muitos ♥️ Sua escrita flui maravilhosamente bem, envolve bem, cativa.

As referências de músicas e livros são um encanto à parte. Vamos de Clarice, Guimarães Rosa e Caio Fernando de Abreu a Gal Costa, Marina Lima, Nina Simone, dentre outros. 
Este disco me transporta para uma época em que se acreditava num futuro, futuro esse que acho que chegou conosco. A música tem esse poder, essa magia de máquina do tempo. Infelizmente, ela não transporta corpos, apenas a mente viaja.

A leitura traz muito da nossa realidade, de romances virtuais, de escapes, de resistência. É um livro curto, porém, para ser sorvido como quem aprecia um bom vinho: no seu tempo. Ótimo para você que busca uma história despretensiosa, mas que arrebata e que deixa uma ressaca gostosa com dignos blues.

De bônus, tem um posfácio da Lindevânia Martins que, junto à edição maravilinda da Editoria Moinhos, é um presente ao leitor *---* O colofão, então, inesquecível! 
Quanto tempo dura uma lembrança?

Fica o convite, tanto pelos blues em vinis, quanto pela história de um grande amor!




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Ana Liberato