domingo, 9 de janeiro de 2022

Resenha: "Pequena coreografia do adeus" (Aline Bei)


Sinopse: Julia é filha de pais separados: sua mãe não suporta a ideia de ter sido abandonada pelo marido, enquanto seu pai não suporta a ideia de ter sido casado. Sufocada por uma atmosfera de brigas constantes e falta de afeto, a jovem escritora tenta reconhecer sua individualidade e dar sentido à sua história, tentando se desvencilhar dos traumas familiares.

Entre lembranças da infância e da adolescência, e sonhos para o futuro, Julia encontra personagens essenciais para enfrentar a solidão ao mesmo tempo que ensaia sua própria coreografia, numa sequência de movimentos de aproximação e afastamento de seus pais que lhe traz marcas indeléveis.

Escrito com a prosa original que fez de Aline Bei uma das grandes revelações da literatura brasileira contemporânea, Pequena coreografia do adeus é um romance emocionante que mostra como nossas relações moldam quem somos.

Por Stephanie: Pequena coreografia do adeus é o segundo livro da autora Aline Bei, que conquistou crítica e público com seu primeiro trabalho, O peso do pássaro morto. Eu já estava completamente convencida do talento de Aline quando li O peso, mas, ao finalizar Pequena coreografia, tive ainda mais certeza de que essa autora é uma das vozes literárias mais importantes de sua geração.

Escrevo esta resenha ouvindo Spit of you, de Sam Fender, um cantor pelo qual sou apaixonada e estou obcecada nos últimos dias. A canção fala sobre a dificuldade que o eu lírico tem de se comunicar com seu pai, ainda que o ame muito. E, por mais que o foco de Aline não seja exatamente essa relação em sua obra, e sim a de mãe e filha, acho que esse livro tem a mesma melancolia da música e ambos se complementam de alguma forma. Recomendo ouvirem e assistirem ao clipe, que é maravilhoso.

Agora, focando mais na minha opinião sobre a obra de Aline, é impossível não destacar a sensibilidade que permeia as páginas do começo ao fim. Em O peso, me lembro de sentir cada parágrafo como um soco, pesado e seco. Aqui, mesmo ainda abordando temas difíceis como abandono parental e violência doméstica, Aline parece quase fazer um carinho no leitor com sua prosa (que é quase verso, devido à sua estrutura diferenciada). E esse mesmo carinho se estende, de alguma forma, à protagonista Julia, uma jovem que está passando pelo momento mais conturbado de sua vida enquanto tenta se encontrar num mundo que também não é muito gentil com ela.

Em vários momentos eu me vi em Julia. Assim como ela, sou filha de pais separados, e por mais que eu (felizmente) nunca tenha passado pela maioria das situações que ela passou e tenha uma relação saudável com os meus pais, consegui entender perfeitamente suas dúvidas e anseios ao longo da leitura. A sensação de abandono emocional, as tentativas de aproximação, os dilemas… todas as reflexões dela me soaram muito críveis e condizentes com o que ela estava vivenciando.

A mãe de Julia certamente é a personagem mais enigmática e tridimensional da obra: uma mulher fria que definitivamente não deveria ter se tornado esposa e nem muito menos mãe, mas que mesmo com tantas atitudes odiosas acaba nos despertando empatia em certos momentos. Eu senti tanta raiva e desprezo por ela, mas ainda assim consegui entender um pouco como ela se tornou aquela pessoa.

Já o pai foi um personagem que me causou muita raiva também, mas por motivos diferentes. A apatia dele em relação à Julia me deu vontade de gritar em diversos momentos e mostrou como muitos homens ainda não se sentem tão responsáveis por seus filhos como as mulheres/mães. E esse pensamento claramente é fruto de uma sociedade sexista que sempre coloca nos ombros das mulheres um peso muito maior do que o considerado justo.

Acho que deu pra perceber o quanto eu gostei desse livro, né? Tanto que se tornou um dos meus livros favoritos de 2021. Recomendo muito, desde que o leitor se atente aos gatilhos. Não vejo a hora de poder ler mais trabalhos da Aline.

a gente pensa que conhece as pessoas

a gente se apega ao que imaginamos que conhecemos delas

mas no fim o que cada um constrói com o outro

 quando não estamos no recinto

é um Mistério.

Confira também a resenha da Thaís, colaboradora do DB que também adorou o livro, clicando aqui!

Até a próxima, pessoal!

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Ana Liberato