quarta-feira, 16 de julho de 2014

Resenha: "A menina que semeava" (Lou Aronica)


Por Mariane: Tenho um certo preconceito com livros que contam a história de mundo de fantasia, universos paralelos e seres mágicos. Não que eu não goste, eu adoro, mas geralmente não me convencem e esse é o problema. Não me julguem, eu sou parte da geração que cresceu lendo J. K. Rowlling, meus níveis de exigência pra um mundo de fantasia convincente são altíssimos.


E foi com esse preconceito (bobo, eu sei) que comecei a ler A menina que semeava.

Chris é um botânico divorciado que tenta a todo custo recuperar o relacionamento que tinha com a filha Becky antes do divórcio. Becky, de quatorze anos, vive com a mãe, Polly, e teve a infância marcada por um triste episódio: quando tinha quatro anos foi diagnosticada com leucemia e foi submetida aos tratamentos pra se livrar da doença.

Com a intenção de tornar as visitas aos hospitais e as sessões de quimioterapia menos aflitivos à filha Chris criou junto de Becky um mundo de fantasia chamado Tamarisk. Um universo com rei, rainha, princesa, inimigos, reuniões diplomáticas e criaturas fantásticas. Cada detalhe de Tamarisk foi criado pela imaginação de pai e filha e, vivendo no meio de um mundo real de luta contra o câncer e um mundo imaginário com rei e rainha, Becky venceu a leucemia.

Mas o tempo passou, Chris e Polly se divorciaram e o relacionamento afetuoso e estreito que Chris e Becky costumavam ter, assim como suas histórias sobre Tamarisk, foram desaparecendo aos poucos.
Quando seu filho nasce, cada uma das suas conquistas parecem superar a anterior, e cada uma faz você se sentir cada vez mais conectado a ele. Simples necessidades biológicas dão lugar a interação, que dá lugar às brincadeiras, que dão lugar a conversas relevantes e assim por diante. O relacionamento fica mais próximo a cada fase. A certa altura, no entanto, você chega ao topo da curva. Seu filho continua a crescer, a se tornar um ser humano mais completo e mais denso, mas sua ligação com esses eventos se torna cada vez mais distante.
Quase dez anos depois de ter vencido o câncer Becky começa a sentir umas fraquezas e tonturas que ela sabe que podem ser um péssimo sinal. Na esperança de que seja apenas um mal estar Becky ignora os sintomas e espera pra ver os resultados de seus exames de rotina, que estão marcados pra daqui alguns meses.

Enquanto isso, num lugar distante chamado Tamarisk, rainha Miea tem ocupado quase todo o seu tempo tentando descobrir a causa de uma praga que está se espalhando rapidamente pelas plantações do reino. Toda sua equipe de estudiosos está trabalhando no caso e ninguém parece perto de chegar a uma solução.

É em meio a esses  medos e ansiedades que carregam pra si e na busca de uma resposta pra algo que parece não ter solução que Miea e Becky, a partir de uma conexão especial, criam uma ponte entre os dois mundos por onde Becky pode visitar Tamarisk sempre que está na sua cama na casa do pai — lugar onde a alguns anos atrás eles criaram todas as histórias do reino.
Becky percebeu algo disforme na escuridão. Ao chegar mais perto —como ela estava se movendo? —, a imagem começou a se aproximar. Era a nuca de uma cabeça de uma mulher. Uma cabeça com mechas de cabelos lustrosas e brilhantes como as de sua prima Kiley. A cabeça se virou e Becky viu o rosto da mulher—e imediatamente soube quem era.
Becky se envolve de maneira tão leal a Tamarisk que é impossível não nos envolvermos também. A busca por uma solução para a praga que está destruindo o reino se torna um dos seus principais objetivos e é nessa busca que se inicia uma etapa de reaproximação com seu pai e de divergências com a mãe.

O livro demora um pouquinho pra engatar e dar aquela sensação de que finalmente a história está fluindo, mas quando flui vamos nos encantando cada vez mais pela relação de cumplicidade e carinho de Becky e Chris. 

O mundo de Tamarisk acabou me convencendo por que o autor acertou em cheio em não detalhar muito o modo como o mundo funcionava. A ideia central do livro não é te fazer se encantar com os seres mágicos e a lógica relacionada ao mundo de fantasia, mas sim compreender a história por trás de tudo aquilo.

E no fim compreendemos tudo, de uma maneira linda, mostrando como a nossa imaginação pode transformar momentos e nos fazer viajar através de histórias.

Sei que muita gente torce o nariz pra livros com temática fantasiosa, alguns por que não gostam mesmo, outros por puro preconceito “é-coisa-de-criança”. Mas acredito que todo mundo ao pegar um livro pra ler, seja uma biografia, um romance ou um suspense embarcamos nós mesmos no nosso “Tamarisk” particular e por momentos nos esquecemos de todos os problemas a volta e nos concentramos apenas na história contada. E é por isso que apesar de ser cri-cri eu adoro o gênero, e recomendo muito A menina que semeava pra quem ainda acredita nos poderes “mágicos” da imaginação.

6 comentários

  1. Oi Mariane!
    Eu li A Menina que Semeava e não gostei muito, achei cansativo e repetitivo. Logo de cara percebi a relação entre os mundos e o livro foi perdendo o encanto... Talvez tenha lido em um momento muito propício para o estilo.
    Bjs!

    http://www.quemlesabeporque.com/

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    1. Oi Nina, acho que livro é muito coisa de momento mesmo, mas as vezes não rola em momento nenhum rs. Que pena que foi o seu caso! :(
      A relação entre os dois mundos fica bem evidente pra quem é mais sagaz mesmo, mas o que me prendeu ao livro foi ver o desenvolvimento da relação entre pai e filha, acho muito legal quando um livro voltado pra um público mais novo foge um pouco do romance entre menino e menina, ainda mais com uma personagem feminina adolescente.
      Beijo!

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  2. Oie
    Eu ainda não li esse livro, mas ele está aqui na minha pilha de próximos hahaha Eu não sabia muito do que se tratava a história, então sua resenha me iluminou um pouco... Gostei bastante da ideia, e espero que o livro seja tão bom quanto tudo o que tem pra ser rs
    E essa capa, também, é maravilhosa, né?

    Adoro fantasia <3

    Beijos,
    Leeh - Caverna Literária

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    1. Tomara mesmo que você goste! Pelo que li por aí o pessoal ficou com opinião bem dividida sobre ele, mas eu adorei, achei lindo. Depois volta pra contar o que achou, beijão :)

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  3. Estou maluca para viajar e conhecer Tamarisk, achei tão lindo isso do pai ter criado o mundo para a filha superar seus problemas, só mostra que o amor dos pais é incondicional.

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Ana Liberato