sexta-feira, 1 de agosto de 2014

Resenha: "A casa do Céu" (Amanda Lindhout & Sara Corbett)

Por Sheila: Oi pessoas! Trago a vocês hoje a resenha de um livro que me emocionou muito. Confesso que não é uma leitura à qual eu esteja habituada – me identifico muito mais com os livros de fantasia. No que sou, muitas vezes incompreendida por meus pares! Sou psicóloga, e as pessoas com quem convivo (principalmente profissionalmente) esperam que meu nível de leitura seja mais "cult".

Mas, principalmente, por que costumo pensar que a realidade com a qual entro em contato em minha profissão – atuo na área da assistência social – já me coloca frente a frente com situações-limite demais, para que em meus momentos de lazer eu continue tendo de lidar com situações dramáticas, com tanto sofrimento. Prefiro me perder entre páginas que falam de reinos distantes, lutas entre o bem e o mal, onde o primeiro, finalmente, triunfe absoluto!

Deixando de lado meus preâmbulos, a primeira parte do relato de Amanda é muito interessante, até mesmo leve; até lá pela página 150 (o livro de 444 páginas) ela irá nos relatar sua infância, as vezes difícil, passada em Sylvan Lake no Canadá. Com um padrasto relativamente jovem para sua mãe, o que acaba expondo ela e os dois irmãos a constantes brigas e crises de ciúme.
À noite, Russell abria uma garrafa enorme de uísque ... Minha mãe sentava-se ao seu lado no sofá, em frente à TV, colocando os pés sobre o colo dele (...)
- Você acha esse cara bonito, não é, Lori?
Era uma imagem que todos nós reconhecíamos.
- Aposto que acha – prosseguia Russell, lentamente, com os olhos fixos na minha mãe. – Aposto que você tem vontade de estar com um cara desses.
Uma pausa. Em um instante, o rosto do homem na TV parecia se derreter e se reconstruir em algo mais agressivo e jocoso.
- Certo, Lori? É nisso que você está pensando?
Minha mãe respondia de maneira gentil. Ele já havia lhe quebrado alguns ossos antes. Machucara-a com força o suficiente para deixa-la no hospital durante dias. 
A realidade difícil parecia fazer com que Amanda buscasse lá fora, no vasto mundo sem fim, um refúgio: contra as brigas constantes da mãe e o padrasto, o pai que descobriu-se homossexual, e a dificuldade financeira em que sua família vivia, em que as vezes lhes faltava, a ela e os irmãos, o mais básico.

Mesmo assim, Amanda olha o mundo por uma perspectiva otimista. E possui um entusiasmo que parece transbordar pelas páginas do livro, principalmente nos momentos em que relata suas viagens, seu entusiasmo com os lugares onde foi, o que conheceu. Mas, acima de tudo, sua coragem em lançar-se ao desconhecido com um guia, um pouco de dinheiro e muita confiança.
Nós dois nos sentamos sobre a borda rochosa da chapada, com os pés pendurados sobre o abismo, sem dizer nada. Mais abaixo, as nuvens espiralavam em tufos e pompons, formando uma cerca estranhamente branca que nos isolava de tudo o que havia abaixo. Era como se estivéssemos sentados na beirada do caldeirão de uma bruxa, ou na proa de um enorme navio no centro de um oceano sobrenatural. Eu vira este lugar na revista, e agora nós estávamos aqui, perdidos nele. Era a afirmação de uma pequena verdade. E era tudo de que eu precisava para continuar a viver.
Só que esta parte “feliz” das viagens de Amanda não me convenceram. Por que eu sabia que ela seria sequestrada. Eu sabia que ela passaria por situações de tensão e de perigo inimagináveis. E eu a via descrever situações em que se colocava cada vez mais em perigo. Mesmo sabendo o que aconteceria, eu me vi sofrendo com ela durante a narrativa, tentando lhe avisar, como seu eu pudesse dizer-lhe “não, Amanda, não faça isso. Não vá para a Somália. Acredite nesse frio na barriga que você está sentindo e volte já para casa!”

Além disso, fui enganada pela capa e o nome do livro, bem como pelo prólogo de Amanda, onde ela explica que “Demos nomes às casas onde nos puseram”. Essa frase me fez pensar que, talvez, não tivesse sido assim tão ruim. E não foi. Foi pior.

“A Casa do Céu” é um relato emocionante e, ao mesmo tempo, aterrador dos meses em que Amanda Lindhout passou em cativeiro na Somália. Sua escrita, que nada mais é que o relato de seus pensamentos e sentimentos enquanto esteve em cativeiro – na verdade os mecanismos dos quais lançou mão para se defender da realidade terrível a que estava submetida, e tentar sobreviver com sanidade a todo esse pavor – cativam e, ao mesmo tempo, impactam. 

Ao percorrer as páginas desta história repleta de crueldade, não há como não identificar-se de maneira profunda com a dor sentida pela autora, mas também admirá-la por sua coragem e perseverança no árduo trabalho de não enlouquecer e preservar o otimismo e a perseverança.

É um livro que recomendo, mas com ressalvas. Não pela obra em si ou pela escrita, mas por que é preciso estar-se preparado, por ser uma leitura um tanto quanto pesada. Aos que se aventurarem, tenho certeza de que não se arrependerão, é um livro belíssimo. Abraços à todos e tod@s e até a próxima.

comentários

  1. Nossa, deve ser um livro bem forte mesmo e que nos prende do início ao fim. É bom às vezes sair do mundo de distopias e encarar histórias que podem até mesmo ser baseadas na pura realidade. Muito boa sua resenha, e o livro parece ser mesmo excelente

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/
    Tem resenha nova de "O Silêncio das Montanhas", vem conferir!

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Ana Liberato