segunda-feira, 9 de março de 2015

Resenha: "Uma longa queda" (Nick Hornby)



Por Marianne: Nick Hornby me conquistou por sua narrativa sarcástica e irônica em Alta Fidelidade que foi minha resenha de estreia aqui pro Dear Book. E não deixou nem um pouco a desejar nessas características em Uma longa queda. Aqui conhecemos Martin, Jess, Maureen e JJ. Quatro pessoas que não tem nada em comum e que na noite de ano novo acabam se encontrando sem querer no alto do Topper’s House, edifício conhecido em Londres por ser a escolha da maioria dos suicidas que querem se jogar lá do alto.  
A vida inteira nos dizem que, ao morrer, vamos para um lugar maravilhoso. E a única coisa que se pode fazer para chegar lá mais rápido é algo que fecha, definitivamente, as portas desse mesmo lugar para quem o faz. Ah, sim, entendo que é meio como furar a fila. Mas, se alguém fura a fila nos Correios, o pessoal chia. Ou, às vezes, alguém diz: “Desculpa, mas eu estava aqui antes.” Ninguém sai com um “Você vai queimar no fogo do inferno por toda a eternidade”. Seria meio forte demais. (Maureen)  
Cada um ali tem seu motivo em particular pra pular do alto do Topper’s House. Martin é um conhecido apresentador de TV britânico que viu sua vida ir pelo ralo depois de ser preso por ter relações sexuais com uma menor de idade. É abandonado pela esposa que, segundo ele, o proíbe de ter contato com as filhas e perde seu famoso programa de entretenimento. Maureen engravidou do seu primeiro namorado na sua primeira relação sexual lá pelos seus vinte e poucos anos e teve Matty, que nasceu deficiente, hoje é adulto e desde sempre vive em estado vegetativo consumindo todo o tempo e energia de Maureen, dependendo dela pra absolutamente tudo. JJ é um americano que veio pra Londres tentar algum sucesso com sua banda e com a namorada mas acabou perdendo tudo e agora vive de entregar pizzas.  
O problema com a minha geração é que todos pensamos que somos umas porras de uns gênios. Produzir alguma coisa não basta pra gente, nem vender alguma coisa, ensinar alguma coisa, ou mesmo simplesmente fazer alguma coisa; precisamos ser alguma coisa. É nosso direito inalienável, como cidadãos do século XXI. (JJ)  
Jess tem uma irmã mais velha que desapareceu misteriosamente e agora ela meio que vive a sombra da ilusão que os pais tem de que a irmã desaparecida ainda vai voltar.
O livro é narrado em primeira pessoa e é divido pela narrativa de cada um dos personagens. Apesar de Nick Hornby continuar com sua ironia e sarcasmo afiadíssimos eu confesso que Uma longa queda é um livro pra se ler com mente aberta. Nada de esperar reviravoltas que dão algum sentido pra história ou um final surpreendente. O livro é daqueles que a leitura em si vale mais do que o final. 
Algumas pessoas mortas: Sylvia Plath, Van Gogh, Virginia Woolf, Jackson Pollock, Primo Levi, Kurt Cobain, claro. Algumas pessoas vivas: George W. Bush, Arnold Schwarzenegger, Osama bin Laden. Assinalem aquelas com quem vocês gostariam de sair pra beber, depois reparem se estão do lado dos mortos ou dos vivos. (JJ)  
Mesmo assim durante a leitura eu senti que em determinados momentos as atitudes e decisões dos personagens soam um pouco forçadas só pra guiar o leitor pra determinada situação. O exemplo mais claro disso é logo no começo quando após se encontrarem no Topper’s House eles se “juntam” em uma missão que não tem o menor sentido. Alguns episódios soam extremamente cansativos, como o “Desculpa Maureen” que JJ, Martin e Jess falam toda vez soltam um palavrão perto da personagem (basicamente o livro todo), e também a própria Jess. Fico me perguntando onde Nick Hornby encontrou inspiração pra criar uma personagem tão insuportável. As partes narradas por Jess são as mais difíceis de se concentrar por serem extremamente confusas. A narrativa dos personagens são seus pensamentos diretos e Jess simplesmente não é capaz de coordenar ideias. Mas acredito que foi exatamente essa a intenção do autor ao escrever o livro, mostrar a confusão dentro dos personagens, mesmo que soando desconexo pra nós leitores. 
Mas queria ser uma dessas pessoas que sabem o que dizer, que acham que nada faz diferença. Porque, me parece, é mais fácil ter uma vida que a gente consiga suportar sendo como eles. (Maureen) 
 Outra coisa que gostei no modo como os personagens são retratados é a honestidade colocada em cada um. Como o fato de JJ admitir pra si mesmo que seu motivo pra se jogar do prédio e tão mais banal que o de todos ali, e mesmo assim ele descreve com honestidade como ele entregou sua vida pra música como isso afetava sua vida e acaba te convencendo que, apesar de banal, sem algo pra o guiar não vale a pena viver mesmo se joga JJ (brinks). Ou quando Maureen joga na nossa cara que se não existisse Matty em sua vida as coisas talvez fossem muito melhor. E olha, ela é mãe dele.  
Vou dizer pra vocês quem são as pessoas mais admiráveis desse mundo: âncoras de rádio e tevê. Se fosse eu, diria alguma coisa do tipo “E os filhos da puta enfiaram a porra de um avião nas Torres Gêmeas”. Como não fazer isso sendo humano? Talvez esse pessoal não seja tão admirável. Talvez seja um bando de robôs zumbis. 

Essa honestidade chegar a ser incômoda. Talvez porque conseguimos nos imaginar na mesma situação dos personagens tendo exatamente os mesmos pensamentos e sem coragem de admitir pra ninguém, as vezes nem pra nós mesmos. E é isso que mais me encanta na escrita de Hornby. Tive o mesmo sentimento incômodo em Alta Fidelidade. Mas é um incomodo bom que nos faz pensar se talvez não estamos sendo muito desleais com nossas vontades, ponderando tanto o que realmente queremos que acabamos por deixar de lado quem somos corra atrás dos seus sonhos seja feliz agora não espera amanhã etc. Assim como Alta Fidelidade Uma longa queda rendeu um filme, só que esse foi meio massacrado pela crítica. Eu até entendo porque achei difícil imaginar essa história em um filme sem parecer mega master forçado. Mas pra quem quiser arriscar tem Aaron Paul no elenco interpretando JJ (não existia pessoa melhor pra interpretar o JJ ). O livro esta recomendadíssimo. Mas como eu disse, vá de mente aberta. Beijo e até a próxima resenha





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Ana Liberato