quarta-feira, 10 de agosto de 2016

Resenha: Quando o sofrimento bater à sua porta... (Padre Fábio de Melo)

Por Kleris: Quem conhece o Padre Fábio, sabe que ele gosta de se utilizar de belas palavras em suas apresentações – ou pelo menos ser mais elegante quando se trata de apontar algo, como em suas redes sociais. Quando vai pregar, seja em palestra, programa de TV ou aqui no livro, ele deixa o mundo pop lá fora, e leva a Palavra para ser vista de uma maneira mais cotidiana, mais humana até. Pelo título, ele é bem feliz em usar uma expressão reticente, como um jogo de palavras pra capturar o leitor, porém, quanto ao desenvolvimento do livro, eu não diria o mesmo quando se trata de seus argumentos e/ou o modo como os apresentou. Explico. 
Quando o sofrimento bater à sua porta, é melhor abrir. Resistir ou negá-lo é apenas um jeito de fugir do que mais cedo ou mais tarde você terá que enfrentar.

Quando o sofrimento bater à sua porta... é, claramente, um livro que nos convida à reflexão. A postura do padre ao determinar “é melhor você abrir” é de aceitação, de compreensão do sofrimento e superação. É uma daquelas coisas óbvias que na verdade todo mundo se nega a aceitar – talvez porque pareça, justamente, óbvio demais. E o Padre Fábio vai lá discursar sobre toda a base do sofrimento e humanidade, com sustentação filosofal, psicológica, sociológica e literária.

Acho que o que meu desapontamento se deu justo por aí, pois minha expectativa me fez pensar que o livro seria algum tipo de abraço para os sofrimentos da sociedade, que às vezes não sabe ou não está se conectando bem com Deus, que está meio perdido, algo como um acalanto para aquele que precisa de uma palavra de fé em um momento de angústia... Enfim, o título me deu a impressão que seria uma abordagem mais voltada à espiritualidade, não à humanidade. 
Tudo depende da lente que usamos para enxergar o que nos acontece. Tudo depende do que deixamos demorar em nós.

E, ok, o livro traz, de certa maneira, isso; é o seu tratamento que me pareceu impreciso e indireto demais. Ou seja, ele muito fala, mas pouco apresenta. Capítulos inteiros, por exemplo, poderiam ser reduzidos em poucas páginas. Esse desenvolvimento em oratória é ótimo, em retórica, nem tanto; fica cansativo. Embora os capítulos sejam curtos, o tema em si os tornam maçantes, sempre dando voltas e voltas. A argumentação, nesse sentido, também não ajudou muito, pois em alguns capítulos ele suscita várias coisas, puxando e linkando, e quando nos damos conta, estamos já em um tópico distante, o que possivelmente nos distrai do que ele tinha proposto no início. Senti falta de algo mais... homogêneo. O que pode ser uma questão de estilística (?)

Nesse links de temas, Fábio relata casos e mais casos, alguns pessoais, outros de pessoas que o procuraram para alguma orientação. Ao pautá-los dentro das discussões, essas histórias deixam de ser meros exemplos e, às vezes, tornam-se pequenas lições – eu só não contava com a contradição de algumas delas. Achei complicado ele trazer ao texto situações complexas de um modo tão simplista e até ingênuo. Noutras vezes o particular falava mais alto e o ensinamento se perdia. Enfim, foi um pouco confuso. 
Muitos sofrimentos na nossa vida são resultado de não sabermos perder, não sabermos atravessar a ponte, não sabermos mudar de estação.

Pensando mais a respeito, minha conclusão é de que o conteúdo precisava de mais cuidado para quem ou como está sendo direcionado. Quem quer sentar e passear pelas grandes teorias, desde filosofia à literatura, esse papo é pra você; se você busca algum exercício de fé, sugiro outra leitura. 
Revista-se de humanidade. Descubra nas pequenas coisas o quanto é preciso ser humano. Não queira ser anjo. Cuidado com os pesados fardos que presume serem caminhos da santidade. Não se esqueça que Deus não o quer perfeito. Deus o quer santo. Só isso. [...] Deixe de sofrer pelas metas absurdas a que se propôs. Busque a santidade por meio de caminhos possíveis, simples.

Não por isso o livro é de todo ruim, aqui e acolá há umas reflexões e passagens bem interessantes, como a análise no capítulo 4 sobre uma música popular, ou quando ele avalia as relações interpessoais, que, como ganchos, podem se revelar de maneiras cômicas, a la estilo que vemos no twitter. Há também dúzias de frases de efeito que realmente te dão o que pensar. 
Já encontrei muita gente que semeou limão pedindo a Deus a graça de colher laranjas. Fico pensando se há honestidade nesse pedido. 
Sofremos muito, eu sei, mas também não podemos negar que sofremos por questões insignificantes. Com todo o respeito, sofremos por falta de inteligência. Sofremos por não sermos capazes de analisar com profundidade os problemas que nos afligem. Sofremos por falta de entendimento. Sofremos por falta de iniciativas. Sofremos por falta de perseverança. Sofremos por inércia, por comodismo.

Entre os capítulos, inclusive, há umas pausas com trechos de diversas autorias, resgatando grandes nomes, como Mia Couto e João Paulo II. Leria mais livros do Padre Fábio, só não iria com tantas expectativas. 

A edição é simples, com alguns arranjos (como os citados trechos entre capítulos), guiada por títulos em capítulos. A capa é bacana, te atrai e fácil te faz colocar no lugar da pessoa estampada. 


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Ana Liberato