quarta-feira, 18 de junho de 2014

Resenha: “A Cidade dos Segredos” (Sasha Gould)

Por Kleris: Olá, leitores. Hoje vamos de romance histórico com uma trama intensa e misteriosa na sociedade veneziana. Embarquem na gôndola que aqui passa e vou guiar vocês por essa cidade de segredos.
– Veneza é uma cidade de segredos. – diz ele. – Todos parecem ter um. Penso no patrimônio de meu pai, que está se dilapidando; no fingimento de Beatrice perante Vincenzo; na doença do duque. 
Nada poderia deixar Laura mais feliz que deixar o convento a que foi jogada e voltar para casa, onde reencontraria sua irmã mais velha, Beatrice. Mas se achou a instituição rigorosa e exigente, é porque não sabia do que as pessoas eram capazes em Veneza. Eis que finalmente o pai a manda buscar, só que não pelos anseios da garota. Beatrice estava morta. Foi um baque e tanto para Laura, principalmente por esse afogamento da irmã deixar muita coisa no ar.

Nisso, a garota deveria tomar seu lugar quanto aos interesses e ordenações do pai autoritário, que seria de se casar com o ex-noivo de Beatrice e salvar a família da miséria iminente. Por resposta de uma educação rígida, só restava a Laura acatar e obedecer. E o faria se o noivo não fosse um velho desprezível.

Mas havia quem a ajudar, se possível. Allegreza, uma das damas da sociedade, apresenta a Laura um grupo secreto que atuava naquela comunidade veneziana, o Segreta, constituído por mulheres que, por seus segredos, controlavam o real traçar daquelas vidas e agia por debaixo dos panos de todo o teatro social. Só que para Laura conseguir qualquer ajuda, como se livrar desse destino trágico que o pai lhe lançou, ela precisava pagar um preço de entrada: revelar um segredo válido àquele grupo.

Era apenas o começo da peça social em que se metia. Na verdade, pode-se dizer que Laura foi socada ali quando a gôndola (embarcação comprida, graciosa e ligeira, peculiar para navegação nos canais de Veneza) já havia traçado muita história pelos cursos dos rios e das vidas daquelas pessoas.
Apanho uma gorda azeitona verde de uma bandeja que um criado me oferece. Do outro lado da sala, vejo Allegreza num vestido preto com ranhuras brancas na saia e penas pretas no cabelo. Animada, ela conversa com um grupo de mulheres mais velhas. Imagino que esteja sussurrando para elas o segredo do duque [...] Laura, endireite sua postura – alerta meu pai. 
Dotada ainda por muita inocência, não era acostumada com festas, com falsidades ou mesmo dramas intensos. Assistiu hostilidade entre famílias inimigas, viu-se como moeda de troca e interesse na mão do pai e ainda teve essa morte da irmã, dentre outros acontecimentos, que faziam uma teia de perdição na sua cabeça. Enquanto devia se rearranjar novamente perante a sociedade, mais dessas histórias começam a se revelar.

Mas claro, Laura também deu tempo ao seu coração, com um amor daqueles do tipo “impossível”, por causa das diferenças sociais. É com Giacomo, um pintor que atende encomendas dos mais abastados, que Laura se permite baixar mais guarda e seus dias parecem melhores, assim como ao lado de Faustina, ama e fiel escudeira.
– Eu adoro a Veneza que você descreve – digo. – A Veneza que conheço se resume a dinheiro, poder e conforto para o corpo. Que eu saiba, nunca tem nada relacionado à beleza ou à alma.
– Se esta é a minha Veneza, então também pode ser a sua.
Por um instante sublime e maravilhoso, penso que ele pode ter razão.
Com umas 250 páginas, “A Cidade dos Segredos” (Cross My Heart) é o primeiro de uma série e é uma introdução intensa. Tenho pouca experiência de leitura com enredos históricos, fora uns clássicos mesmo, então por toda narrativa me vi em filmes de época e noutros livros (como Jane Eyre, Romeu e Julieta e até Lisístrata, lá dos gregos). A escrita ajudou bastante nesse quesito, pois, de linguagem bem trabalhada, muito rica em detalhes, com alguns floreios e de traços góticos e realistas, ela nos suga para o enredo. É tudo muito tenso!

Quando Laura se vê metida num jogo de interesses e que deve lutar por sua “sobrevivência”, senão fugir das intrigas, ela tem que abdicar de sua inocência e conhecer mais desse jogo de não confiar em ninguém. Personagens como Carina, Paulina e Allegreza me fizeram sentir como a própria Laura, perdida entre histórias antigas e decisões preciosas. Assim, gostei bastante em como o caráter da protagonista foi se remoldando à nova realidade e como a história respeitou os valores da época.
– Eu não preciso fazer o que meu pai me pede, preciso? – digo, deitando na cama. Faustina estende o suave lençol sobre mim e então se senta a meu lado, me acariciando a testa.
– Querida, devemos fazer como nos mandam. A longo prazo, é melhor para nós. Os homens é que governam o mundo.
Os capítulos são curtos, o que quebra bastante a tensão e dá um segundinho para respirarmos as “deixas”. É garantido que, enquanto você não alcançar o próximo, parece que não sossega. Então se preparem, pois quando sentarem para ler, não vão querer fazer pausa alguma. Li em dois dias sofrendo com as interrupções!

Confesso que não dei muito pela capa ou pela sinopse. Mesmo ao finalizar fiquei achando que a capa ainda não fazia jus, isso até a história descansar mais. É a mesma da edição original e espero que reproduzam aqui a do segundo livro. Ambas têm muito a ver com a história.

Como toda apresentação de séries, a história tem muito o que explorar dos personagens e seus passados. O que não falta é pano pra camisa.

Recomendo para quem gosta de intrigas, mistérios e conspirações sutis. Já quero ler de novo com os segredos fresquinhos na cabeça e já quero o próximo (Heart of Glass, sem título no Brasil ainda). 

comentários

  1. Uau! Logo de primeira impressão, o nome e a capa do livro são bem impactantes, e a história, pela sua resenha, não deixa a desejar! Gostei bastante, já está na minha lista pra ler :D

    xx Carol
    http://caverna-literaria.blogspot.com.br/

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Ana Liberato