quarta-feira, 14 de setembro de 2016

Resenha: Uma história de solidão (John Boyne)

Tradução: Henrique de Breia e Szolnoky

Por Marianne: John Boyne é meu queridinho de outros carnavais. Acolhido e adorado pelos leitores pelo seu sucesso O menino do pijama listrado, Boyne já nos mostrou que essa foi apenas a porta de entrada pra sua imaginação incrível e sua criatividade que vem conquistando cada vez mais leitores. Dessa vez John Boyne volta a abordar temas polêmicos e toca sem medo na ferida da igreja católica falando sobre a pedofilia dentro da igreja no seu mais recente romance Uma história de solidão.

Na Irlanda dos anos setenta somos apresentados a Odran Yates. Conhecemos a história de Odran desde a sua infância que foi marcada por um acontecimento trágico na sua família e que fez com que a mãe de Odran se transformasse numa fanática religiosa. Ainda quando era criança, sua mãe determinou que seu destino era ser padre e ele entrou no seminário assim que alcançou a idade adequada. 
‘Você é um homem mau, não é, Odran?’, ele perguntou baixinho. ‘Esse seu rosto’, ele acrescentou com um suspiro e sua mão se levantou para me tocar, os dedos acariciando minha bochecha com delicadeza. ‘Eu sei que você sofre. Todos nós sofremos. Mas estou aqui para ajuda-lo com seu sofrimento, menino adorável.

Apesar de a escolha pelo seminário ter sido algo imposto pela mãe, o rapaz aceitou com naturalidade a vida de sacerdócio e encarnou a ideia de que sua vocação era mesmo ser padre. Dentro do seminário Odran fez seu primeiro amigo, Tom Cardle. Tom também entrou para o seminário por uma imposição do pai, mas ao contrário de Odran, Tom vivia totalmente infeliz com a perspectiva de dedicar sua vida a igreja e não escondia a insatisfação de ninguém. Mesmo com suas diferenças os dois se tornaram grandes amigos e mesmo após o seminário — cada um seguiu seu caminho para cumprir suas obrigações com a igreja — eles mantiveram a amizade.

O personagem não é representado nem como herói ou mocinho da história. Odran é apenas um bom rapaz que faz o seu trabalho sem olhar pros lados. E talvez seja esse seu maior problema. A quietude por parte dos envolvidos —diretos ou não— resultou nos milhares de casos de pedofilia envolvendo membros da igreja e numa desmoralização geral dos padres com a população.

O protagonista vive essa oscilação no comportamento das pessoas e sofre as consequências da desconfiança que paira sobre a Irlanda em relação aos padres. O livro critica fortemente a vista grossa que a igreja católica fez/faz pros casos de pedofilia e Odran é a personificação da negligencia cometida pela igreja. 
’É um monte de asneira’, ele disse, reclinando-se na poltrona e jogando as mãos para cima. ‘Um moleque falando umas coisas, inventando umas histórias. Quer aparecer nos jornais, só isso’.‘Do que ele foi acusado?’‘Eu não preciso soletrar pra você, Odra, preciso? Pelo amor de Deus, você é um homem inteligente.’

É incômodo, e acho que essa foi a intenção do autor, a quantidade de situações que acontecem bem na cara do Odran e que ele percebe e ignora de uma maneira bem sutil, alegando pra si mesmo que nada aconteceu. E como Odran poderia levantar suspeitas de uma situação tão grave baseado apenas nos seus achismos?

Há uma crítica forte também, ainda que não tão descarada, em relação ao endeusamento que os fiéis da igreja católica atribuem? atribuíam aos padres. Como se estes fossem criaturas divinas enviadas diretamente dos céus. Aos olhos de John Boyne fica clara a intenção de mostrar que padres são pessoas comuns como todos nós, podendo ser criminosos ou não, o fato de serem pessoas que dedicam sua vida a igreja não os isenta das falhas que atormentam a todos os seres humanos.


Espero que tenham gostado da resenha e até a próxima!


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Ana Liberato