sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Resenha: “Samba” (Delphine Coulin)

Tradução: Julia da Rosa Simões

Por Yuri: Quando você faz resenha de livros, muitas vezes recebe alguns que se fosse por livre e espontânea vontade acabaria não comprando, mas que quando lê fica muito feliz por ter o livro em mãos. Este livro mesmo eu demorei muito para desandar, pois quando eu li o primeiro capítulo logo entendi o quanto mexeria com as minhas emoções. O quanto me faria pensar em coisas que eu não queria e a angústia que eu sentiria com a vida sofrida do personagem. Confesso, demorei pra retomar a leitura e quando o fiz, fui dormir com os pensamentos tumultuados, pois não conseguia deixar de pensar naquilo que tinha acabado de ler.
“Sentiu o coração bater mais forte dentro do peito. Finalmente conseguiria se inocentar. Compreenderiam todo o mal-entendido de que era vítima. Tinha ido por conta própria à prefeitura, para pedir informações e perguntar sobre os documentos, pois acreditava que obteria o visto de residência. Ele não queria mal a ninguém, apenas trabalhar regularmente.”



O livro “Samba” narra a história de Samba Cissé, imigrante africano nascido em Mali, que entrou na França ilegalmente para viver sob o mesmo teto do tio Lamouna. Após dez anos vivendo na França, ele foi preso injustamente ao tentar solicitar o visto de residente no país.
Com a ajuda de Manu (uma estudante de direito), evitou ser deportado, mas teria que sair da França rapidamente.
Com uma fiscalização mais rigorosa, a França já não era aquele país da igualdade, liberdade e fraternidade. O novo governo se mostrou muito mais intolerante com aqueles que buscaram na França uma nova pátria. 
Quando Samba finalmente entendeu esse novo mundo, decidiu que valia qualquer coisa para continuar na França, mesmo que para isso tivesse que viver na clandestinidade. 



“Desde o primeiro segundo ele soube que só sairia de perto dela a contragosto. Ele não sabia por quê. Talvez Jonas tivesse falado tanto a respeito dela que ele idealizara aquele momento. Talvez fosse a força que emanava dela. Talvez fosse a calma do rosto puro e da voz grave de Gracieuse. Acima de tudo, era a estranha convicção de que tinha percorrido todo aquele caminho para encontrá-la: a arbitrariedade de seu nascimento e de toda a sua viagem ganhava um sentido, naquele dia, na soleira de uma porta em Paris. Ele tinha a crescente impressão de que era isso que viera viver na França: uma grande história de amor.
Estava apaixonado, apesar de ainda não ter se dado totalmente conta. Ela personificava tudo o que ele tinha ido buscar ali: o gosto pelo diferente, a liberdade, um horizonte. Ela era tudo o que ele não teria encontrado se tivesse continuado lá. Um outro lugar.”
Desde o início é possível perceber que o livro não é só alegria. O mocinho é também o vilão e a França chique e opulenta é também pobre. Este livro poderia ser facilmente a biografia de alguém, pois o personagem, o cotidiano, as coisas pelas quais ele passou são tão reais que devem existir vários Sambas que vivem e viveram nas mesmas condições.
“A esteira rolava à sua frente.
Ele fazia a triagem do lixo infecto e sua raiva crescia, ele dizia consigo mesmo, ao ritmo do som mecânico das engrenagens, que aquele país engolia seus habitante e as vezes os cuspia de volta. Ele tinha tomado consciência disso e hoje era mais lúcido. Ali, sua vida mal era realidade. Ele era definido por uma série de negativas: não tinha documentos, não era francês, não era branco. Ele era o oposto do que queria ser. Mas também era um espelho: olhando para ele, era possível ver o que a França tinha se tornado.”
Como não torcer por um personagem que adota um novo país como a sua própria pátria. Como não torcer por um personagem forte que não quer apenas continuar vivo, mas que deseja VIVER uma vida normal em um lugar que ama tanto.
O sonho de Samba é tão intenso que é impossível não se apegar ao personagem e esperar que a vida só lhe traga coisas boas.

Eu recomendo muito esta leitura, pois a história é simples, mas muito rica em detalhes. A tradução para o português ficou muito boa e muito agradável de ser lida. Apesar das partes tristes e chocantes, acredito que retrata muito bem como pode ser a vida de um imigrante. 

Espero que vocês curtam!

Até a próxima!

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Ana Liberato