segunda-feira, 24 de outubro de 2016

Resenha: “O menino no alto da montanha” (John Boyne)

Tradução de: Henrique de Breia e Szolnoky

*Por Mary*: Olá, pessoinhas! Hoje não vou enrolar, não. Vem comigo, que tem livro bom pra gente conversar.

Meu primeiro – e, até então, único – contato com este autor foi com O Menino do Pijama Listrado, que é um livro que indico para todo mundo. Fiquei impressionada, tocada e sem palavras com a narrativa inteligente, sutil e incisiva de Boyne.

John Boyne, aliás, parece ostentar a habilidade de arrancar distintas emoções de seu leitor. Se, por vezes, a gente sente raiva, em outras somos tomados pela sensação de impotência, para logo depois ficarmos chocados com as ações de seus personagens e, muito frequentemente, sem palavras, olhando para o nada, sem saber como reagir a alguma de suas mais impactantes cenas. 
O que aconteceu com você, Pierrot? Era um menino tão doce quando chegou. É fácil assim corromper os inocentes?
Com O menino no alto da montanha não é diferente.

Pierrot é um garotinho parisiense de sete anos, filho de mãe francesa e pai alemão, que tem como melhor amigo Anshel – um judeu com deficiência auditiva – e vive a efervescência do nazismo. Após a perda dos pais e uma temporada no orfanato das irmãs Durand, Pierrot se muda para Berghof, onde mora a tia Beatrix, em uma bela mansão no alto de uma montanha alemã próxima à divisa com a Áustria.

O senhor de Berghof é Adolf Hitler, líder do Partido Nacional-Socialista e fundador do crescente movimento nazista; um homem sisudo, de bigode estreito e com ideias distorcidas sobre as coisas, que logo se torna seu protetor. Constantemente vítima das piadas e violência dos mais fortes, Pierrot experimenta pela primeira vez, ao lado do Führer, o viciante sabor do poder. Seduzido pelo futuro glorioso vislumbrado para o Reich, Pierrot trai não apenas as pessoas que ama, mas, principalmente, a si mesmo. 
Me apavora pensar no tipo de homem que ele vai se tornar, se isso continuar – disse Breatrix. – Alguma coisa precisa ser feita. Não só por ele, mas por todos os meninos como ele no mundo. Se não for impedido, o Führer vai destruir o país todo. A Europa toda. Ele diz que está iluminando a mente do povo alemão, mas é mentira. Hitler é a própria escuridão.
Com uma narração em terceira pessoa, John Boyne desenha de modo muito delicado os fatos que compõem sua trama, impondo em sua escrita impressões e marcas tão sutis que somente um leitor mais atento não deixará passar despercebido. Não é nenhum demérito, muito pelo contrário, porque o leitor desatento, apesar de perder parte da maestria deste grande escritor, ainda poderá se deliciar com uma história bem contada, envolvente e fundamentada com uma pesquisa minuciosa acerca do corte histórico a que se propõe contar.

E por falar em leitores atentos, aposto que estes terão notado breves participações literárias, já conhecidas, entre as páginas de O menino no alto da montanha. Mas não posso contar o que é, afinal, estragar a surpresa não tem graça nenhuma.

É muito difícil não encarar O menino no alto da montanha de uma tacada só – eu mesma não consegui fazer isso. Contudo, eu aconselho uma leitura com calma, pois, francamente, Boyne é uma leitura que precisa ser apreciada, curtida, refletida. Sabem como é, façam o que eu digo e não o que eu faço. Embora nada os impeça de ler várias vezes, claro. 
[...] Sempre odiara qualquer forma de violência, e se afastava instintivamente de conflitos. Alguns meninos na escola de Paris começavam uma briga por qualquer provocação – e pareciam gostar daquilo. [...] Pierrot nunca via; não entendia o prazer que certas pessoas tinham em machucar os outros.
Merece um adendo o desfecho desta história, que foi escrito no curso de uma disciplina de escrita criativa ministrada pelo autor a mestrandos da Universidade de East Anglia, Norwich. Já queremos cursar escrita criativa com o John Boyne pra ontem? Queremos! Urgentemente!

Enfim, vou ficar por aqui deixando a minha mais sincera indicação aos leitores que se interessam por temas históricos, especialmente a Segunda Guerra Mundial. Portanto, se você deseja um romance interessante, uma trama envolvente e reflexiva, inteligente, bem amarrada e com mil outras qualidades, não deixe de conhecer Pierrot, O menino no alto da montanha.
- Olhe para mim, Pieter. Olhe para mim.
Ele levantou os olhos cheios de lágrimas.
- Não finja que não sabia o que estava acontecendo aqui – disse Herta. – Você tem olhos, tem orelhas. E esteve naquele escritório inúmeras vezes, tomando notas. Você ouviu tudo. Viu tudo. Sabia de tudo. E sabe também das coisas pelas quais foi responsável. – Herta hesitou, mas era algo que precisava ser dito. – As mortes que carrega na consciência. Você ainda é jovem, tem só dezesseis anos. Tem muitos anos pela frente para ficar em paz com sua cumplicidade no que foi feito. Mas jamais convença a si mesmo de que não sabia. – Ela soltou o rosto dele. – Seria o pior crime de todos.
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Ana Liberato