terça-feira, 24 de janeiro de 2017

Interrogação #5 – Uma jornada de expectativas

Com Patrícia Yuri, resenhista da casa


Interrogação é uma coluna do Dear Book que recebe convidados para refletir o nosso momento enquanto ideias, hábitos, panoramas e manifestos culturais. A cada post, uma pergunta e uma opinião. Todo o conteúdo de resposta é de responsabilidade dos convidados. Sem periodicidade fixa, a coluna é organizada pela dear boss, Kleris Ribeiro.


Quando se trata de leitura, pilha de livros ou mesmo de algum tipo de escrita,
o que são as expectativas pra você?

Y: Antes de responder a pergunta da dear boss, eu tentei entender a razão de ter recebido essa pergunta. Me disseram no amigo do desapego do blog (aqui) que eu sou uma pessoa muito difícil de se dar livros (como assim???) e confesso que eu fiquei um pouco encucada com isso.

Pensei comigo mesma: Será por causa de alguma coisa que escrevo nas minhas resenhas??? Não pareço satisfeita com os livros??? Ou será apenas porque eu não tenho um skoob para facilitar a busca pelo meu gosto literário?

Por um momento achei que as minhas expectativas parecessem um pouco altas e por isso era difícil me agradar com um livro. Então quais são as minhas expectativas para com os livros? O que espero deles? Quais me agradam e quais não me agradam?

Eu escrevi em uma resenha que percebi a delicadeza de dizer que um determinado livro é ruim. Acho que na minha vida pré-blog eu não tinha realmente consciência do peso dessas palavras. Quando você faz resenhas que são publicadas em um site, você percebe que às vezes não gostou de um livro porque não faz o seu estilo, ou o personagem não agradou, mas isso não significa que o livro seja ruim.

Uma vez conversei com a resenhista Kleris sobre um livro que eu estava lendo e do quanto estava achando ruim. Eu percebi que ela foi reticente em continuar com esse assunto. Um tempo depois eu lembrei que a Kleris também se aventura no mundo da escrita e que talvez quando você está nesse outro lado (o lado do escritor), acaba vendo os livros de uma outra forma (por exemplo: ver as pessoas criticando seu livro) e que isso também não deve ser legal.

Associei esse episódio a um livro que tinha resenhado, sobre uma garota que virou crítica de bandas musicais e não poupava o humor negro e as pitadas ácidas nas críticas que fazia, sem pensar no quanto isso influenciava as pessoas.

Então resolvi procurar outras resenhas do mesmo livro que eu tinha detonado e por incrível que pareça tudo o que eu tinha odiado no livro, outros resenhistas haviam elogiado. Percebi então que eu devo tomar cuidado com aquilo que escrevo e não passar para os leitores que as minhas ideias sobre um livro não são verdades absolutas. E aprender alguma lição que eu posso aplicar e/ou melhorar na minha, me motiva ainda mais a continuar lendo.

Então acho que as minhas expectativas mudaram com o blog. Antes eu só lia livros que queria ler, mas agora eu leio de tudo um pouco e me permito conhecer coisas que se dependessem unicamente de mim, eu nunca leria.

Se vocês leitores me permitem, quero responder a pergunta da dear boss através da minha jornada com os livros.

Eu gosto de acreditar que o meu gosto por livros está na minha genética. Quando meu pai construiu a casa dele no Brasil, ele projetou inúmeras estantes para acomodar seus livros. Devia ter no mínimo uns 10 metros quadrados de parede para guardar toda a coleção.

Eu compartilhei essa história para que vocês entendessem o meio no qual eu cresci. Uma casa cheia de livros por todas as paredes, logo, desde criança eu fui incentivada pelos meus pais a entrar nesse mundo da leitura. Mesmo quando ainda não era alfabetizada, a minha irmã mais velha lia para mim as famosas revistinhas da Turma da Mônica antes de eu dormir.

Quando eu comecei a ser alfabetizada, alugava livros com muita frequência na biblioteca da escola: Marcelo Marmelo Martelo; coleção “Quem tem medo” e “Bruxa Onilda”.

  


Eu amava a Bruxa Onilda!!! Durante a faculdade, estava andando por São Paulo quando vi um vendedor ambulante com uma caixinha cheia de livros. A minha querida Onilda estava à venda por apenas R$ 5,00. Lógico que eu comprei!
 
À medida que eu fui crescendo, fui descobrindo também os Caras de Pedro Bandeira, a coleção Vagalume e os detetives Sherlock Holmes e Hercule Poirot.

Cheguei no final do Ensino Fundamental indo a biblioteca diariamente para alugar “O Diário da Princesa”, a coleção “Primeiro amor” até finalmente conhecer o famoso bruxinho Harry Potter.

Lembro que desde que o primeiro filme foi lançado e os livros finalmente fizeram sucesso, todas as minhas amigas decidiram que seriam witches, wiccas, bruxas e qualquer outra coisa do gênero. Elas começaram a fundar os próprios grupos com pactos de sangue (na verdade era só um furinho no dedo com uma agulha).

Desde essa época eu já era metidinha e nojentinha para me aderir a modinhas (então as minhas reclamações em resenhas sobre modinhas não é uma coisa de agora... eu já era assim quando criança XD) e me recusei a ler Harry Potter só porque todo mundo estava lendo.

Só consegui ler a coleção uns 3 anos mais tarde, e que surpresa, eu amei!!! Me encantei com o mundo criado pela autora, por cada livro, cada história, o desfecho, tudo. É uma história muito perfeita, escrita de uma forma simplesmente genial. Desde então eu tento ler todos os livros de HP pelo menos uma vez por ano para nunca me esquecer o quão ela é uma ótima escritora e para continuar buscando livros escritos por autores como ela não importando se ela vendeu a alma pro demônio ou que se lido de trás pra frente J. K. Rowlling significa Alo Diabo rs

Acho que esse foi o fim de uma fase. Por que eu lia? O que me motivava a ler? Quais eram as minhas expectativas?

A verdade é que eu sempre fui uma criança antissocial, ler era simplesmente meu mundinho. Se os meus amigos tinham novos interesses como ir pra balada e namorar, eu sempre preferi ficar em casa lendo no sossego. Essa era simplesmente a minha forma de distrair e relaxar.

A minha segunda fase começou logo na adolescência. Durante o Ensino Médio eu comecei a ler livros com personagens mais jovens, lembro principalmente da Série Cris e Série Selena. Quando eu li esses livros por volta dos meus 15 anos, lembro de querer ter a mesma vida das personagens. E por um tempo, até mesmo depois de finalmente fazer uma faculdade, eu lia como um escape, um refúgio pra esquecer dos meus problemas de verdade.

Acho que a fase em que me encontro atualmente começou por volta dos meus 22 anos. Eu passei a buscar livros diferentes, autores novos (pra mim), histórias mais profundas e personagens mais complexos. Foi assim que começou a minha paixão por Jane Austen, Cecelia Ahern, Ender’s Game, livros que viraram filmes, filmes que tem livros, livros de culinária... acho que deu pra entender. São livros que me fazem sentir alguma coisa.

Então eu passei de ler como uma forma de escape para ler como uma forma de catarse. Eu queria/quero ler para refletir e para entender as coisas pelas quais eu passo. Eu quero chorar com o personagem, eu quero rir do personagem, quero sentir raiva e no fim quero extrair alguma coisa boa que eu aprendi.

Uma vez estava conversando com a resenhista Mare sobre um livro que ela estava lendo para o blog, Diga aos lobos que estou em casa (resenha aqui). Eu gostei tanto do livro que quando achei na feirinha do shopping por R$ 10,00, comprei na maior felicidade do mundo.

Quando eu li o livro, me identifiquei muito com o jeito da personagem principal e o relacionamento dela com a irmã mais velha. Eu indiquei o livro para a minha irmã e disse que ela ia gostar de um dos personagens.

No começo ela ficou confusa e não entendeu porque eu achei que ela ia gostar e se identificar com o livro de uma cara que morreu de AIDS. Mas curiosamente ela se identificou muito com a irmã personagem principal e ouso dizer também que ela percebeu que eu entendo como ela se sente em relação a mim.

Sem precisar dizer em palavras, eu usei um livro que descreve exatamente como me sinto para que ela pudesse me entender também.

Hoje eu posso dizer também que a minha expectativa é descobrir essas pequenas preciosidades que tenham personagens psicologicamente bem desenhados e complexos, mas que de alguma forma eu consiga entendê-los.

Claro que para encontrar essas pequenas preciosidades, nos deparamos também com livros “ruins” (ou que consideramos ruins). A minha grande crítica e que sempre faço questão de mencionar nas minhas resenhas são aqueles estilos que ficam saturados, banalizados e vulgarizados.

Isso aconteceu com Jogos Vorazes, Divergente, Maze Runner e depois vários livros com temas pós apocalípticos foram lançados. Depois todo mundo começou a lançar livros hot e as vezes você se interessava por alguma história e percebia que na verdade era mais um livro com duas cenas de sexo ardente com as outras 100 páginas cheias de coisas mal escritas, quase que subestimando os leitores. O mesmo aconteceu com Nicholas Sparks, que inicialmente publicava livros legais, que mostravam um amor puro, até cair nas graças de Hollywood e criar uma receita para fazer dinheiro transformar livros em filmes.

Mas por que eu continuo lendo livros e livros incansavelmente, com grandes expectativas ainda que me frustrando com alguns e odiando outros?

Porque eu estou sempre buscando algo novo, algo que me surpreenda, algo que me toque, alguma coisa realmente boa ou bem escrita. Alguma raridade que ninguém que você conhece já tenha lido e acaba sendo um segredo seu. Não precisa ter tudo isso junto, só basta uma coisa para superar e muito as minhas expectativas.

Patrícia Yuri Kuriyama prefere ser chamada de Yuri. Engenheira Química por formação, analista por profissão e leitora por paixão. Adora “perder um tempo” com livros. Não é muito fã das redes sociais, mas de vez em quando se aventura em resenhar algumas das coisas que lê.


Rede social de Yuri



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Até a próxima interrogação!
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Ana Liberato