quarta-feira, 31 de maio de 2017

Resenha: “Escola de Sabores” (Erica Bauermestier)


O Eliel também já resenhou este livro! (veja aqui)

Tradução por Fernanda Abreu
Por Kleris: Costumo dizer que não gosto de ir a casamentos, mas gosto das histórias; não gosto de aventuras, mas sim das histórias de aventuras. Acho que seria como o Hobbit quando o Gandalf oferece uma jornada: teria uma admiração, mas não a pré-disposição de embarcar de fato em uma. Escola de Sabores não é um livro de receitas e nem propõe que você vá se aventurar na cozinha. Talvez seja por isso que eu tenha gostado tanto dele. Foi um doce achado.

Escola de Sabores é como um ponto de encontro de histórias e pequenas glórias. Não há muito enredo e nem muita ação, então não esperem isso da Erica. É mais para aquele livro sutil, de humor bonito e delicado, como observar um pôr-do-sol e se deixar levar pelo efeito poético. Nuança, doçura e delicadeza são então as palavras certas para o romance. 
Quando estava com ela, ele via que mesmo as experiências cotidianas eram mais profundas, mais cheias de nuances, descobria que a satisfação e a atenção permeavam as camadas da vida como bilhetes de amor escondidos entre as páginas de um livro.

Lilian recebe os alunos toda primeira segunda-feira do mês para lições de culinária. Mais que apenas aguçar o paladar deles ou abrir seus horizontes quando se trata de comida, Lilian quer dar seu toque para fazer a diferença, ela quer transpor isso para o momento do preparo gastronômico. Aqui encontramos o fascínio, a paixão, a dedicação.

Acho engraçado como às vezes, como leitora, eu admiro esse prazer em ler, e admiro mais quando ouço/leio sobre esses pequenos prazeres que a mim são desconhecidos, como o de simplesmente apreciar uma refeição ou descobrir como funciona um motor de... sei lá, um ventilador (quem sabe?). Quer dizer, a harmonia que isso pode oferecer a uma pessoa e como isso a deslumbra tão fácil.

Isso é visto nas passagens que relatam a relação de Lilian com a mãe, uma compulsiva leitora, que não soube passar sua paixão à filha. Lilian acabou descobrindo por si mesma (e pela força da situação em que a mãe se encontrava) que cozinhar era o clic dava sentido à sua vida. Na verdade, foi uma tentativa dela, ainda menina, em trazer sua mãe de volta: cozinhar era sua esperança. 
As pessoas sorriam ao ver aquela mãe estimulando a imaginação literária da filha, mas Lilian sabia que não se tratava disso. Em sua mente, a mãe era um museu de palavras, e ela, um anexo, necessário quando o espaço no prédio principal estava acabando. [...] Talvez, pensava Lilian, os aromas fossem para ela o que as palavras impressas eram para as outras pessoas – algo vivo que crescia e se modificava.

Para o curso da vez, estavam inscritos oito pessoas: Claire, Cloe, Tom, Antonia, Ian, Carl, Helen e Isabelle, cada um procurando um sentido das coisas sem ao menos estarem mais conscientes disso. Gostei muito sobre com a autora segurou cada persona, apresentando-os conforme seus núcleos. Cada capítulo trata sobre um personagem e a maneira como a Erica fez isso me lembrou muito a Lisa Jewell, em Tempo de Mudanças (resenha aqui). A autora foi muito engenhosa nesse sentido, pois os capítulos amarram, em conjunto ao enredo de aulas, recortes das histórias pessoais, fazendo as aulas mexerem nos cotidianos e isso com uma narração muuuito segura.

A escrita é assim carregada de suaves descrições, comparações e vez e outra se utiliza de umas metáforas que envolvem a vida e o próprio ato de cozinhar. Mexe muito com as sensações, as lembranças, as essências... a magia da coisa toda. E não é forçado, é bem fluente. 
Sovar a massa é como nadar ou caminhar: parte da sua mente se mantém ocupada, enquanto o restante fica livre para ir aonde quiser ou precisar.

A edição traz também umas imagens a cada entrada de capítulo, sempre muito a ver ou com a personagem apresentada, com sua história de vida ou como um ingrediente fazia tanta diferença nesse recorte. Como a capa, fica tudo muito fofo. As orelhas são beeeeem confiáveis e se eu pudesse, copiaria o texto da contracapa, porque é tudo verdade hahaha.

Como a própria sinestesia que reviva nas páginas, o livro é um sussurro de noz-moscada com raspas de chocolate que fazem poeira aveludada. Não a toa essa aura me lembrou bastante os filmes Simplesmente Irresistível e Julie & Julia e... ah, the joy <3

Recomendado àqueles que querem desacelerar o tempo e se perder no fitar de uma gota de chuva que desliza no vidro da janela. 
Nem sempre é fácil diminuir o ritmo de nossas vidas. Mas, se precisarmos de ajuda, temos uma oportunidade natural de reaprender a lição três vezes ao dia.

Até a próxima!

Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram


Confira os melhores preços no buscapé:



segunda-feira, 29 de maio de 2017

[Novidades] Novo layout no ar!


Ainda nem chegamos no meio do ano e as novidades não param por aqui, hein? Tivemos a estreia da coluna Interrogação, da coluna Music Trip e agora atualizamos o site. Novo layout, nova ilustração, novos ares!

As responsáveis por esse refresh bem bacana foram a Ana Liberato e a Kézia Martins do D’Amore Design – serviços de ilustração, programação de sites e blogs, capas para redes sociais, banners, logos, dentre outros. Elas foram mega atenciosas, solícitas e comunicativas. Obrigada, garotas! Curtimos bastante o resultado :) 
Para contatá-las e solicitar um serviço, procure o perfil no instagram
D’Amore Design @damoredesign
Valores super acessíveis!

Mudamos a cara, mas não mudamos o conteúdo – na verdade, apenas estamos expandindo a experiência, assim vocês podem conferir de tudo mais um pouco, com conforto e qualidade. Podem deixar que vem mais coisa boa por aí, vale esperar pra ver. Esperamos que gostem. 

Até!
Dear Boss

Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram

Resenha: “Desencontros e Desencantos” (Nathália Batista)


Por Kleris: D&D convida qualquer um à distância pela sua bela capa; parece um magnetismo. O mesmo pode-se dizer da história de amor essencialmente romântica que Nathália nos conta. Como já se entrega no título, a trama é marcada pela mágoa, rancor e muitos enganos. 
[...] mas não poderia negar que guardava trevas dentro de si mesma, e nem fazia qualquer esforço para afastá-las, queria manter o ódio aceso para nunca mais fazer papel de boba com ninguém.

Neste romance de época, Suzanne é uma dama de companhia da família Hampton, que, de uma hora para outra, lhe é dada a oportunidade de debutar, como hóspede agregada da matriarca. A Sra. Hampton sempre teve uma relação difícil com a filha, Veronika, tendo mais respeito e carinho por Suzanne, o que vem a conturbar ainda mais o relacionamento entre as três.

Desde o início, se sabe, Sra. Hampton está adoentada, não aguentará por muito tempo, precisa deixar suas meninas bem amparadas. Veronika, apesar do grande dote, não é uma dama lá muito respeitosa ou de modos, diferente de Suzanne, quem, sem título algum, logo desperta a atenção da sociedade no primeiro baile. Mais precisamente do marquês Alexander Radcliff. Logo está armada toda a disputa, intriga e uma sede de vingança. Veronika não medirá escrúpulos para acabar com Suzanne.

Sob aviso da autora, de que o livro tem erros no texto e revisão, desliguei este tópico de meu criticismo para me deixar levar pela história. De escrita leve e fluída, Nathália se preocupa em descrever o visual, além de pontuar bem os sentimentos em cena; por outro lado, diz muito, a ponto de entregar os pontos da trama, sem mesmo permitir que o leitor tenha tanto suas conclusões. Deste modo, o enredo segue bem aquela ideia de meios para um fim, com diversos segredos e reviravoltas. Por conseguinte, isso é sentido na condução da história, em que ora é súbita, ora se alonga, sem muito equilíbrio de cenas ou fases. 
Naquele dia haviam nuvens, não apontavam para uma tempestade iminente, mas contrastavam com as cores fortes do verão. O verde das copas das árvores, as flores que atapetavam os campos, mas nada disso era o foco da atenção de Alexander. Enquanto escutava o barulho das rodas da carruagem que atritavam com os pedregulhos do caminho, sentia que esse rumor ressoava em seu coração como num borbulhar de sentimentos até então incompreendidos por ele. 
Inesperadamente, os acordes iniciais de uma sonata de Mozart saturaram de harmonia o grande salão de festas. Era Suzanne, graciosa e feliz, percutindo as cordas de um valioso Broadwood. Aos poucos, as pessoas do outro salão começaram a se aproximar do local em que estava o pesado e volumoso piano. Quando concluiu a execução da melodia, aplausos ecoavam demoradamente no ar, expressando o agrado da plateia entusiasmada pela surpreendente performance da jovem instrumentista.

Também, em favor destes fins, aqui reina o maniqueísmo. Não consegui me apegar nem à mocinha, nem ao mocinho. São tão ingênuos que se deixam levar tão por qualquer deslize ou tramoia. Faço uma menção honrosa, no entanto, ao Duque de Underwood :)  

Neste romance de estreia, Nathália nos oferece uma leitura razoável de uma ou duas sentadas e demonstra que tem potencial em sua escrita. Desencontros e desencantos é, assim, indicado para tardes chuvosas e/ou preguiçosas. Curou minha ressaca literária ^^ 
Temia esses pensamentos, porque não tinha certeza de nada, mesmo assim se permitia pensar nisso, em raros momentos. Todavia, ainda que nunca falasse para ninguém sobre seus sonhos, jamais deixaria de sonhá-los.

Confira o booktrailer!



Você pode encontrar o livro no site da editora Chiado ou na Livraria Cultura
Ou diretamente com a autora aqui
Confira os primeiros capítulos no Wattpad
Adicione no Skoob


Até a próxima!

Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram
sexta-feira, 26 de maio de 2017

Resenha: "Morte Lenta" (Matthew Fitzsimmons)

Tradução Fabio Maximiliano

Por Sheila: Oi pessoas! Como estão? Eu hoje vou trazer a vocês a resenha de um estreante, Mathews Fitzsimmons, que, segundo o Washington Post, "criou um sociopata excepcional". Como thrillers são minhas leituras favoritas, devo confessar que minhas expectativas quanto ao livro eram bem altas. 

Para me ajudar com a resenha, vou recorrer à sinopse disponível no nosso querido skoob. 
Dez anos atrás, Suzanne, uma garota de 14 anos, simplesmente desapareceu sem deixar qualquer vestígio. Filha do então senador Benjamin Lombard, agora poderoso vice-presidente dos EUA, o caso continua sem solução e se transformou numa obsessão nacional.
Para Gibson Vaughn, renomado hacker e mariner, trata-se de uma perda pessoal. Suzanne era como uma irmã para ele. No décimo aniversário do desaparecimento da garota, o ex-chefe de segurança de Benjamin Lombard pede a ajuda de Gibson para realizar uma investigação secreta e entrega a ele novas pistas.Assombrado por memórias trágicas daqueles dias, Gibson acredita ter agora a chance de descobrir o que realmente aconteceu. Utilizando as suas habilidades, já em suas primeiras pesquisas descobre uma rede de múltiplas conspirações em torno da família Lombard e se depara com adversários poderosos – e perigosos – que farão qualquer coisa para silenciá-lo. Ao mexer no vespeiro, novas informações e personagens vêm à tona, a identidade de Gibson é revelada, tornando-o igualmente vulnerável.
E enquanto navega por essa teia perigosa de fatos, ele precisa estar sempre um passo à frente se quiser descobrir a verdade… e se manter vivo.

O livro narra exatamente isso: a caçada da equipe de George Abe que, num ato de reparação, resolve tentar descobrir o que de fato houve com Suzanne e, além disso, ajudar Gibson, tendo em vista que seu envolvimento com a família Lombard não se limita à proximidade que desenvolveu com Suzanne.

Na verdade, essa criação "como irmãos" só se deu por que o pai de Gibson era coordenador das campanhas de Lombard, o que o fez praticamente se criar na mansão da família. Acontece que o pai de Gibson se envolveu no desvio de verbas de campanha e, apanhado, optou pelo suicídio para fugir da situação.

Inconformado, Gibson invadiu os computadores de Lombard, para tentar provar a inocência do pai e fracassou, inclusive descobrindo provas contrárias às suas crenças. Assim, na época do desaparecimento de Suzanne, Gibson estava enfrentando o processo judicial que o obrigaria a servir no exército para se livrar da pena e, ao mesmo tempo, entrando para uma lista pessoal de Lombard, que o faria penar muito no futuro para ser contratado em qualquer lugar que fosse, mesmo aqueles considerados muito abaixo de sua qualificação.

Logo, quando George Abe procura Gibson para "acertarem as contas" do passado, ele parece não ter muita escolha: ou ajuda na captura do sequestrador de Suzanne para ter como pagar a hipoteca da casa, onde sua ex mulher e filha vivem, ou se afundará em dívidas e, de quebra, talvez acabe passando fome também.

Há muitos elementos que compõem o livro de Fitzsimmons: a relação complicada de Gibson com George, a sombra do suicídio de seu pai, intrigas políticas, um assassino de elite impiedoso, a verdade por trás do desaparecimento de Suzanne, entre outros. E talvez seja aqui justamente o lugar onde a trama "se perdeu" um pouco.

O título "Morte Lenta" parece não encaixar nem um pouco com a temática da trama, apenas para descrever como me senti ao lê-lo; as coisas parecem terem demorado demais para começar a acontecer e, quando começaram, a se desenvolver num ritmo absurdamente rápido, nos deixando com a impressão de que algumas subtramas foram simplesmente deixadas de lado.

O livro também foi excessivamente focado em personagens que na verdade não tinham muito a ver com o desaparecimento de Suzanne, mas acredito que a explicação para isso, assim como às inúmeras pontas soltas ao longo da história, se deva ao fato de que este é o primeiro livro de uma série. Ou seja, não estávamos acompanhando a resolução do sequestro de Suzanne, mas sendo apresentados a Gibson, o verdadeiro protagonista.

É um livro bom, mas não o classificaria como thriller, seria mais um romance policial bem escrito, com partes densas, outras com mais ação, mas sem aquele suspense intenso e de tirar o fôlego, por isso leia, mas não com este tipo de expectativa. Com essas ressalvas, recomendo.

Confira os melhores preços no Buscapé no banner abaixo 
(ao clicar nele, ganhamos uma pequena comissão)




Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram
segunda-feira, 22 de maio de 2017

Resenha: "A Rainha de Tearling" (Erika Johansen)

Tradução: Cássio de Arantes Leite

Por Sheila: Oi pessoas! Como vocês estão? Eu andei falando por aqui e com uma galerinha sobre a terrível bad literária em que eu estava. Sei lá todos os livros que eu lia eram meio  nota 3 e olhe lá. Juro que chegou um momento em que eu até passei a duvidar do meu próprio julgamento, e a pensar seriamente que eu talvez - horror dos horrores!- não fosse mais uma ávida leitora.

Claro, isso tudo ate conhecer Kelsea, A Rainha de Tearling. E descobrir que não havia nada de errado comigo. Só tinha lido um monte de histórias ruins mesmo. Previsíveis. Forçadas. E com cada clichê de me fazer corar de vergonha pelo autor.

Mas deixem eu contar um pouquinho para vocês a respeito da Kelsea - chamando pelo nome, ao invés de majestade - para vocês verem como eu criei intimidade com essa heroína M-A-G-N-Í-F-I-C-A e a irmã que eu nunca tive! 

Assim como Aurora, ela foi criada na floresta, para fugir de uma terrível feiticeira e de um tio ganancioso que queriam, mais do que tudo, sua morte, para se apossarem de sua coroa e reino. mas, ao invés de três fadas bondosas, teremos um casal idoso formado por um médico e uma dama austera, que criaram Kelsea com menos carinho do que disciplina e lições sobre história e política para que, no momento certo, pudesse governar o reino de Tearling.

Além disso, não era dotada de beleza e encanto, ou de voz angelical, muito menos temperamento delicado e suave. Kelsea se denomina glutona, e sua aparência é descrita como comum. Em momentos decisivos, não esta banhada em uma luz celestial, mas descabelada, suja e com ares de gente do povo. Kelsea não é uma princesa. Kelsea é, até mesmo nos momentos de fraqueza, Rainha.

Vivendo em um mundo com ares de medieval, Kelsea foi preparada para ser Rainha mas, sobre tudo, para ser caçada. E é exatamente isso que acontece quando, ao completar 19 anos, precisa deixar a segurança da cabana onde cresceu para trás e seguir com um  grupo de nove cavaleiros, intitulados A Guarda da Rainha, de volta à sua fortaleza em Tearling para ser coroada e tomar posse de seu trono. Por mais que tenha sido criada na ignorância de alguns conhecimentos chave do reinado de sua mãe, Elyssa, Kelse desde tenra idade sabia o que lhe esperava: uma luta que poderia ser sangrenta pelo seu trono e sua vida.

Várias coisas aconteceram ao mesmo tempo. Um homem gritou, e Kelsea sentiu uma dor cortante no ombro esquerdo. Clava a empurrou para o chão e agachou-se acima dela, protegendo-a com o próprio corpo. Uma mulher gritou na multidão, a um mundo de distância.
Espadas se chocaram ao redor deles. Kelsea se debateu sob a proteção de Clava, tentando pegar a faca na bota. Tateando com a mão livre, descobriu o cabo de uma faca se projetando logo acima de sua escápula. Quando seus dedos roçaram nele, uma dor lancinante percorreu seu corpo inteiro, da cabeça aos pés.

Ao longo do livro vamos sendo apresentados a todas as questões aos poucos, e nossa ignorância é desfeita juntamente com a de Kelsea, sendo que falar muito mais a respeito da trama, na minha opinião, seria estragar a surpresa. Mas a história foi escrita com maestria, e compará-la com Jogos vorazes como fez o USA today na orelha do livro seria reducionismo.

Na verdade, o que fica em evidência neste livro, e que talvez seja o que provoca tanta ressonância, é que o Mal não se encontra personificado em um único personagem que encarna O Vilão. Não que não tenhamos muitos personagens que cometem atos bárbaros, seja por necessidade de prazer, poder ou fraqueza.

A Rainha Vermelha, de Montmesner, parece ser uma dessas antagonistas, assim como Thomas, o tio de Kelsea e regente do reino de Tearling até seu retorno, e que tramou sua morte. Mas, no fim, a autora nos fará ver que a maldade é intrínseca à personalidade humana, e explorá-la não em um sentido moral, mas necessário. Nos acontecimentos de "A Rainha de Tearling" vemos que os vilões em sua maioria são pessoas que fizeram más escolhas, que ignoram que exista outra forma de lidar com a situação, que se orientam pelo que acham, em sua visão distorcida, ser certo e justo.

Chega a ser irônico que Tearling e outros reinos adjacentes tenham sido fundados após o término de uma antiga civilização, que entrevemos ser a nossa, que havia se corrompido. E que, apesar de todos os esforços de seus fundadores, isso volta a acontecer, como se fosse da natureza humana repetir velhos erros quando a história de um povo se perde e a educação não é mais a principal prioridade de um governo.

O que mais posso dizer? Leiam. Reflitam. E, claro, comentem! Forte abraço.

Curta o Dear Book no Facebook
Siga o @dear_book no Twitter e o @dearbookbr no Insta

Confira os melhores preços no Buscapé:



domingo, 21 de maio de 2017

Music Trip #4 – desacelera


Music Trip
Algumas viagens acontecem nos intervalos



Enquanto pensava nas músicas deste post inevitavelmente me lembrei de um psy trance que gritava aceleeeeeeera (Skazi, aqui). Essa postura corrobora muito com o sentimento de mundo que temos hoje: vivemos numa velocidade incrivelmente alta a ponto de perder o controle. Idealmente, para desacelerar, pescamos as músicas mais calmas ou leves – as coldplay soft da vida – e boa parte delas são bem introspectivas.

Se você segue num ritmo alucinante e acha que tá na hora de diminuir, ou já está fazendo atividades antiestresse/anticrise, mas ainda não encontrou o ponto razoável do passo, respire fundo, calce seu tênis e me acompanhe nessa trilha :)

Boy – We Were Here


We were here é um indie super sensorial. Tem traços experimentais, new wave e chillwave – do tipo que relaxam ou mesmo mexem com memórias. É, enfim, uma música que te transporta, que te pede paciência até você parar para realmente ouvi-la. Às vezes parece lenta demais, às vezes apenas na medida certa. Quanto mais a ouço, mais descubro sensos escondidos nela. É bem interessante desacelerar assim nosso ritmo. 
A propósito, fiz um crossover de resenha e música inspirado nela tem um tempinho. Como disse , é de uma catarse viciante. Outra é Drive darling, que tem um efeito muito próximo, embora mais chegado pro progressivo, e Silver Streets também pode compor um belo descanso. Ô músicas pra me colocar num potinho! – como disse na Music Trip #1, Boy é excelente para os momentos introversos.


Emily And The Woods – Helios


Helios só me lembra exercício físico e alongamento, porque é um dos indies que me acompanha quando preciso diminuir o ritmo das pedaladas. Mencionei no meu post do projeto Escrevendo Sem Medo, que sou um tanto viciada em exercícios pra relaxamento e concentração e, pra mim músicas assim, chegadas pro acústico, são ótimos guias. Nesse rumo, Eye To Eye, Steal His Heart e Small Song também possuem uma ótima cadência pra desacelerar.


Alexz Johnson – As Good As It Gets


Quase da mesma maneira que Boy tem uma música pra cada momento introspectivo, Alexz Johnson tem uma de escape – mas basta uma pisada em falso (como a função de reprodução automática do youtube) pra você cair numa música de bads. Vá de You Got Me e Live Like Music pra não se perder dessa trilha.


Anna F. – Too Far


Sabe aquelas músicas que chegam na hora certa? Ainda não superei Too Far desde que tombei com ela no youtube; e não sei dizer até hoje a melhor se a original ou se a acústica. É um pop indie na medida pra nos colocar num potinho. Vale levar Most Of All também, embora mais puxado pro post-grunge, que lembra bastante a Alanis Morissete.


Alanis Morissete – Everything


Falando em Alanis, um caso de amorzinho forever por Everything. You Learn e Ironic também oferecem uma boa vibe de domingo preguiçoso e altas chances de voltar pros grunges alternativos dos anos 90.


Coldplay – Violet Hill


Nos anos 2000 tive mó preconceito com Coldplay, mas hoje curto algumas hypes deles – e preciso, aliás, explorar mais. Violet Hill, assim como Paradise, é um queridinho. Às vezes penso que eles são como o Boy (duo), só que perdidos dentro da minha própria geração.


Margaux Avril – Papaoutai


Caindo em terras francesas pop, Margaux Avril nos leva nessa acústica de Papaoutai (cover do Stromae) com uma boa leveza. Para um descanso mais a cara de domingo, aproveite a preguiça com Toucher Le Soleil, Oxygène, Lunatique e Insatisfaite


Young The Giant – 12 Fingers


Assim como Helios, 12 Fingers é figurinha marcada na minha memória pra diminuir o ritmo de um exercício. I Got e Apartment também são uma ótima pedida. São aquele tipo de indie rock que nos tiram da realidade. Altas são as chances de deixar rolar o dia inteirinho.


Lovelite – The Fullness


Mais uma música chegada pra acústico pra figurar o post ^^ The Fullness, assim como Brevity e Enduring, tem uma pegada mais pra induzir o sono, mas One And Only e There You Are são, como um bom indie rock, só pra diminuir o ritmo mesmo.


Rivers & Robots – One Day With You


Meu escape favorito pra desacelerar, me aconchegar e ficar fora do ar é com Rivers & Robots. One Day With You é sim quase uma meditação (e o lyric video passa bem esse senso), assim como Shepherd Of My Soul <333 Pra um aconchego melhor, pede fim de noite e bebida quente. You Saved My Soul, Who Is Like Our God, Light Will Dawn, You Hear Me e White As Snow são ótimas também pra explorar em caminhadas.  


P.S.: Vale uma passada no vídeo da Anna Shermack, do canal Pausa para um café, que
colocou em pauta o mal-estar dos workaholics


Qual é sua música pra desacelerar?
E se você é team spotify, pode curtir as músicas do post por lá.
Algumas (poucas) infelizmente não tem.


Veja mais music trips aqui

Kleris Ribeiro é beletrista, produtora e agente cultural. Garota dos bastidores, se joga em marketing digital, comunicação e, recentemente, zines. Fascinada pelos mistérios do universo do livro, é administradora do blog Dear Book e diretora do Clube do Livro Maranhão. Fangirl, diz que mantém a cabeça nas nuvens e os pés no chão.


Até a próxima e boa viagem!
#blogdearbook #musictrip #boaviagem


Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram
sexta-feira, 19 de maio de 2017

Resenha: “O Mundo pelos Olhos de Bob” (James Bowen)

Tradução de Falchetti Peixoto
Por Kleris: Lembro-me da primeira vez que vi o ~Bob. Desci as escadas rolantes do shopping e caminhei para a feirinha de livros que estava rolando (a famosa Feira de Livros do Shopping da Ilha). Era 2013 e a feira era bem acanhada, com espaço reduzido, mas aconchegante pelas boas promos de livros. 

Tenho a leve impressão de que fiquei de bobeira ao adentrar, vez que iria esperar as migas, para conferirmos juntas os livros da vez. Então vi ~Bob, aquela coisinha alaranjada empoleirado numa prateleira  e eu soube que tinha que levá-lo pra casa. Ainda rondei bastante por algum tempo e parece que ~ele estava me chamando. 

Não sei bem se comprei no mesmo dia ou logo no dia seguinte, porque, como eu disse, precisava “adotar” Um gato de rua chamado Bob. Já havia visto resenha aqui no blog sobre, mas ~vê-lo ali despertou todo um feeling.


Bob é aquela estrela que nos chama atenção, e é quando nos aproximamos para um carinho e um dedo de prosa, que descobrimos James. Em Um gato de rua chamado Bob, nos conectamos a essas duas criaturas que não tinham muita expectativa de vida, mas ao se encontrarem, fizeram mais que salvar um ao outro; juntos, eles construíram uma história de humildade, compaixão e esperança. Ao adotar James, Bob, por mais que chame atenção das pessoas, dá vez e voz ao seu dono, uma pessoa já esquecida e ignorada pela sociedade. Se seu histórico de vícios e homem sem-teto o apagara das ruas, Bob, em todo seu carinho, zelo e travessuras, deu cor de volta a James.

O primeiro livro conta justamente os percalços da vida, o encontro de almas das duas figuras e como o brilho de Bob os tornou famosos. Já em O mundo pelos olhos de Bob, continuação da saga de vida, James tenta cada vez mais se restabelecer, tornar-se limpo. Com o tempo, vender a revista The Big Issue não é o bastante e ainda há muita violência ao redor dele. A droga já não é uma tentação, mas um assombro daquele passado; James tenta aos poucos reconstituir o que essas drogas lhe tomaram. Bob ali é mais uma vez sua luz ao fim do túnel. James, por certo, gostaria de entender o que é o mundo pelos olhos de seu gato, sempre tão sensível aos perigos, mudanças e brincadeiras. A dinâmica deles é incrível. Melhor, sincronia. 
Quando comecei a sentar no balde, fiquei com medo de que simplesmente não me vissem ali. Entretanto eu devia ter imaginado: Bob cuidou disso.  Talvez fosse porque eu estivesse sentado com ele a maior parte do tempo, mas durante esse período ele se tornou um verdadeiro showman. No passado, geralmente era eu quem instigava as rotinas divertidas. Porém agora ele começava a tomar iniciativa. [...]
Algumas vezes eu ficava convencido de que ele sabia exatamente o que estava acontecendo. Eu tinha certeza de que sacara que, quanto mais cedo ganhássemos uma quantidade satisfatória de dinheiro, mais cedo poderíamos chegar em casa e eu, descansar minha perna. Era assustadora a maneira como ele entendia.

As questões que mais pesam nesse livro são os valores e vínculos pessoais. James está mais próximo do pai, de Belle, das pessoas. Mas, ao mesmo tempo que ele volta a ser visto, nem todas as pessoas o aceitam. Alguns invejam, outros apenas querem escorraçar, ameaçar e denunciar por pura maldade. Muitas vezes James é chamado ou investigado por denúncias malcriadas. Todas as vezes que alguma autoridade averiguava, não encontrava nada de concreto para prendê-lo. Até Bob vira alvo, infelizmente. A ~fama tem seu preço. 
Então me tornei muito cauteloso com as pessoas. Era triste, porém eu ainda me sentia assim em bastante. Os acontecimentos das duas últimas semanas enfatizaram isso. Alguém tinha feito uma acusação fictícia contra mim. Por tudo que eu sabia, poderia ter sido alguém que eu via todos os dias da semana. Poderia ter sido alguém que eu considerava como “amigo”. 
Mais uma vez, comecei a me perguntar se a fama que Bob e eu estávamos ganhando era uma faca de dois gumes. Mas eu sabia o que tinha que fazer. [...] Estava trazendo à tona o pior das pessoas – e, mais preocupante, estava trazendo à tona o pior de mim.

James também descreve como e quando surgiu a ideia de escrever um livro sobre a história dos dois. Achei interessante como ele, apesar de toda vergonha e culpa pelo seu passado, começa a refletir mais sobre o que aconteceu de verdade, o que lhe dá alguma redenção. A partir de seu relato também se põe em questão como ajudar de verdade outras pessoas, o que está ou não funcionando. Por mais que seja difícil encarar esse darkside de sua história, é o que eles precisam para seguir em frente. 
Eu realmente não queria entrar no lado negro da minha vida. Mas, enquanto conversávamos, ele disse algo que me falou ao coração: podia ver que Bob e eu já fomos almas perdidas, que nos unimos quando estávamos no fundo do poço e havíamos ajudado a consertar a vida um do outro.  — Essa é a sua história, que você tem que contar – sugeriu-me.

O ghost foi bem sensível de capturar a essência da história, só algumas vezes que ele soou muito ghost, sabe? Muitas frases de efeito, como no outro livro. Pra mim, parecia forçar um pouco a barra, mas nada possa incomodar tanto. Afinal, James merece um olhar bem generoso para sua história.

Gostei bastante também de como o livro foi uma maneira de James se comunicar melhor. Principalmente nas relações pessoais, onde as mágoas costumam barrar nossa comunicação. Foi um meio pelo qual ele pôde atingir pessoas como nunca.

O mundo pelos olhos de Bob é, assim, um livro para encantar e emocionar; um presente. É uma leitura agridoce: as duras partes estão entremeadas à bondade, amizade e fidelidade de várias figuras. Torcemos, urramos, enternecemos. Para todos aqueles que dedicam sua vida a ajudar os necessitados e os animais abandonados. Recomendado não ler tudo numa sentada só, pois essa é daquelas histórias para ser sentida, daí lida pouco a pouco. Um toque de fofura são as pegadas de Bob no alto das páginas, seguindo o estilo do livro anterior. O volume 3 já é um pouco diferente – veja resenha aqui. 
Assim, enquanto olhava para Bob interagindo com Gillian, uma parte de mim desejava que minha vida pudesse ser tão simples e sincera como a dele. Ele a conhecera em circunstâncias estranhas, mas imediatamente sentiu que poderia confiar nela. Ele pressentia que ela era uma pessoa decente e então a abraçara como amiga. Eu sabia que não ia ser fácil, e eu precisava fazer isso. Eu precisava ter esse mesmo ato de fé. 
Eis a alegria e a frustração de ter um gato. “Os gatos são um tipo misterioso de camarada – há mais passando na mente deles do que podemos imaginar”, escreveu Sir. Walter Scott. Bob era mais misterioso que a maioria. Sob vários aspectos, era parte de sua magia o que fazia dele um companheiro extraordinário.

Recentemente a história foi adaptada em um filme <3 
Confira o trailer (legendado) abaixo:




Até a próxima!

Curta o Dear Book no Facebook
Siga @dear_book no Twitter e @dearbookbr no Instagram


Confira os melhores preços no Buscapé:



 
Ana Liberato