sábado, 28 de fevereiro de 2015

Resenha: “A Vez da Minha Vida: E se você tivesse a chance de mudar a sua vida?” (Cecelia Ahern)

Por Kleris: Estou seriamente me perguntando se muito de nós leitores sofrem/sofreram do mesmo preconceito ao se depararem com Cecelia Ahern. Eu, por exemplo, só de ouvir falar de P.S. Eu Te Amo já cogitava que iria chorar horrores (embora ainda não tenha lido) e como alguns sabem, corro de livros assim. Quase literalmente. Aí dar de cara com um livro chamado “A vez da minha vida” foi fácil pensar em algo como autoajuda. Não que eu ache terríveis os livros autoajuda, mas somar drama, impressão ruim e autoajuda, é outra história. É, infelizmente, uma nova impressão má-concebida.

Pois então, quando se encontrarem com Cecelia Ahern em mãos, ABORTEM AS CAIXINHAS DE LENÇOS!

A Vida de Lucy Silchester literalmente começa a chamá-la para um encontro. Liga, manda recados, manda cartas para a família, chama atenção de tudo que é jeito, até Lucy topar se encontrar com o moço. Sim, sua Vida é um moço, funcionário de uma empresa focada em fazer as pessoas darem melhor atenção às suas vidas, cuidar de seu bem- estar, mental, pessoal, profissional, familiar...

Para ser chamada assim com tanto afinco, a vida de Lucy devia estar um desastre, não? Errrr... estava, por assim dizer. Ela não estava de bem com os amigos, não tinha disposição com o trabalho, evitava a família, ainda pensava no ex, Blake, tinha um estúdio minúsculo como moradia e isso e tudo mais ela “levava com a barriga”, não fazendo nada a respeito porque Lucy aceitava sua realidade. Tinha lá acolá suas raivas, suas decepções e frustrações, mas tomar atitude, ela não tomava. Até surgir Vida.

— Que emocionante! Você acha que continuar a viver como robô realmente vai me fazer ir embora?

— Eu não acho que tenho vivido como um robô, mas, independentemente do que faço, é muito óbvio que você não está indo embora. Trouxe meu carro para a oficina hoje e Keith, o mecânico, me entregou uma carta sua, que ele já havia aberto e, em termos inequívocos, sugeriu que sexo com ele poderia resolver meu problema. Obrigada por isso!

— Pelo menos estou ajudando você a atingir os homens.
— Eu não preciso de ajuda para encontrar homens.
— Talvez para mantê-los então. 
Vida é um serzinho implicante... para o bem de Lucy. Pega no pé, discute com ela, puxa a orelha, joga baixo, todo um processo pra chamar atenção dela e fazê-la ver que ela poderia ser mais se se permitisse. Mas Vida também se engana se pensa que conseguirá atenção na base do grito de “apontar os erros”. Assim que ele vê que Lucy não é má pessoa ou mal intencionada, Vida propõe uma nova abordagem de ajuda: passar um tempo juntos para que pudesse ver o lado dela fora dos testemunhos e arquivos que ele tinha – sim, para cada situação ruim, Vida guardava uma documentação e comentários de amigos e familiares sobre o comportamento de Lucy.

— O que você está aqui para corrigir?

— Não sei, é uma cirurgia exploratória. Eu examino todas as áreas e vejo qual é o problema.

— Então, você é o endoscópio retal.  Ele fez uma careta.
— Mais uma vez estamos tendo problemas de metáforas. 
Era uma forma de Lucy se reconectar com sua Vida, pois Vida era um reflexo que literalmente pedia socorro. Quanto pior fosse a imagem daquele homem, queria dizer que pior era de fato a vida de Lucy; então quanto mais Lucy trabalhasse em prol de resolver pendências de si, mais saudável e bom seria Vida. Agora imagina uma personagem que mente tanto, mas tanto, que até na hora da narração fica difícil saber se ela fala a verdade ou não. O estado de Vida é péssimo mesmo! 

— O que aconteceu com seu rosto?

Vida olhou para mim irritado e terminou de comer.

— Não é apenas meu rosto, é meu corpo inteiro! – Puxou a gola da sua camiseta nova para baixo e vi que as manchas vermelhas estavam por todo o peito dele.
— É brotoeja! — respondeu. — Que merda!
(...)
— Tudo isso por causa de Blake?
— Blake, seu trabalho, seu pai, sua família... 

Cecelia trabalha essa história de maneira sensacional. Falo pela maneira escrita, pelo jeito que leva a história, como ela liga pontos e faz isso com uma simplicidade admirável. Descobri também um humor incrível, daqueles que me faz querer gritar por aí COMO ASSIM NINGUÉM ME AVISOU?, porque Cecelia é maravilhosa desse jeito. Ela tem essa singela forma de se expressar, que se aplica tanto na escrita quanto na construção da história e isso eu há muito buscava em livros. 

— Você sabe dirigir?

Ele enfiou a mão no bolso interno e pegou mais papelada. Ofereceu-me. Nem quis olhar, estava cansada demais para ler.

— Isso me permite dirigir qualquer veículo, desde que esteja de acordo com a assistência e o desenvolvimento de sua vida.
— Qualquer veículo?
— Qualquer um.
— Até motos?
— Até motos.
— Tratores?
— Até tratores.
— Quadriciclos?
— Até quadriciclos.
— E barcos, você pode dirigir barcos?
Ele olhou para mim com exaustão, então, desisti. 

Mais que não abusar de situações-drama, desenvolver uma história crível e dar muitas personalidades para se apegar, pontos que pelo que já vi de resenhas aqui no blog, da Mary e da Sheila, pontos esses que nos dão um parâmetro de estilo da autora, captei também um que foi o que mais me impressionou: mesmo se utilizando do óbvio, Cecelia foge ao lugar comum. Tanto que nem sei que rótulo literário dar, já que ela se faz num meio-termo de muita coisa.

A trama é ligeira, bem equilibrada entre o absurdo e o trágico divertido, me fez sentir ora em episódios de Gilmore Girls (principalmente no quesito sobre a família e aceitação), ora em páginas com a Becky Bloom (enquanto esta fugia do Sr. Smith rs). Além de Vida, personagens como Riley, irmão de Lucy, e Don, "o cara do tapete", eles nos arrancam boas risadas com as invenções de Lucy nos seus bolos de mentiras e verdades. Não dá pra não torcer por Lucy melhorar de vida. Por ser assim uma história ágil, as cenas se dão melhor pelas conversações, altamente etiquetáveis e colecionáveis! É quando a autora revela melhor seu humor, nada de frases de efeito.

Notei apenas uma incoerência inocente na história, nada que incomode muito. A autora só me deixou com uma pulguinha atrás da orelha sobre como funcionava a Agência Vida e como é possível uma pessoa ser a personificação, ou se conectar fielmente ao estado de vida de outra pessoa. É algo a se pensar. 

Tal como o jeitinho da autora, a edição é simples, com uma capa que conserva bem esse encontro com a vida. Gostei mais da capa da Novo Conceito do que da original. Do título eu só dispensaria o complemento, pois “A Vez da Minha Vida” já reserva uma boa surpresa. É uma leitura leve para qualquer hora e altamente recomendada!

Espero que também pulem o preconceito com a Ahern e se joguem nessa história.


Até a próxima o/





2 comentários

  1. kkk Nossa foi exatamente assim que aconteceu comigo!

    Muito preconceito com P.S eu te amo (que comprei agora) e desconfiança com "A vez da minha vida" mas FELIZMENTE ganhei um exemplar num sorteio do blog Doces letras e puder experimentar a escrita deliciosa da Cecelia (de quem também tinha preconceito rs Já leu o perfil dela nos livros? Aquela foto de mulher linda, o texto falando como ela ficou famosa aos 20 anos -acho - com livros e fazendo roteiro para um seriado...super desconfiei. Sei lá, foi machismo demais de minha parte. É claro que uma mulher pode ser linda, inteligente, bem sucedida mesmo cedo na vida).

    Esse livro foi divertido de ler até minha mãe leu! E adorou! Com certeza vou querer todos os livros dessa moça na minha estante.

    T-rex kisses ^^

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    1. E eu que amava Samantha Who (a série) sem saber que ela era criadora? Quase caí pra trás quando descobri! Quero mais dessa moça sim tbm!

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Ana Liberato