quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Resenha: "Apátrida" (Ana Paula Bergamasco)

Por Sheila: No interior da Polônia, no período após a 1ª guerra mundial, vive Irena, a mais nova de 8 filhos de humildes agricultores. Toda a história é narrada por esta mulher, desde sua infância até a meia-idade, suas crenças, lutas, dissabores.

Ainda pequena, aos 4 anos de idade, é visitada pela morte quando sua irmã Anna falece. No entanto, o enterro e a despedida dolorosa e difícil de entender a uma menina tão pequena, é também o momento de encontrar a pessoa que terá papel fundamental nos próximos anos de sua vida: Jacob, um menino judeu vindo de uma família que parece ter sérios conflitos com a sua, o que é evidenciado pelo comportamento reticente de seu pai.

Mesmo assim, seu interesse pelo menino acaba suplantando estas desavenças, tornando-se este um grande amigo e, mais tarde, um grande amor. Por questões culturais e ideológicas - a família de Jacob é judia e a de Irena católica ortodoxa - acabam não ficando juntos, casando Jacob com a também judia e refinada Ewa, deixando Irena sentindo-se miserável e preterida por ser apenas uma simples camponesa.

Parece que eu contei toda a história não? Mas este é apenas o início da trama. Irena, que debatia-se pelo desencantar de suas pretensões frustradas, não sabia que algo muito pior ainda estava por vir: a eclosão da 2ª Guerra Mundial, a caça Nazista aos judeus e - o que muitos as vezes esquecem - a miséria do povo Polonês, rendidos aos Alemães e levandos a vidas tão paupérrimas e miseráveis, se não nas ruas de sua pátria, em campos de concentração.

Logo no início, a autora fala sobre as agruras da Guerra pela voz de sua personagem Irena - que tem no livro a publicação de suas memórias:
Ainda não consigo entender o grau de loucura com que uma pessoa se reveste para, segundo ordens de seus superiores, matar seu igual ou atentar contra a vida de alguém, não importa o quanto este outro seja diferente. Autodefesa? Duvido. A maioria das guerras foram decididas por interesses econômicos. Então quando há o primeiro ferimento e a primeira morte não importa se de um soldado ou de um civil, as partes envolvidas se tornaram perdedoras. A vida tem um preço inestimável, imensurável. Nada justifica a sua perda. Desse modo, desconheço qualquer vencedor na segunda Grande Guerra. Todos tiveram baixas. Todos sofreram muito.
E é justamente dos sofrimentos e pesares vividos por esta mulher e seus familiares - pais, irmãos, sobrinhos e filhos - que trata a estória deste livro. Em meio aos sonhos destruídos, as lágrimas, traições e abandonos, a luta de alguns poucos por permanecerem HUMANOS apesar do status de menos que ratos infligidos pelo sistema Nazista, que além de lhes tirar a casa, afetos, dignidade, também lhes transformou em seres sem lugar: Irerna será uma Apátrida.
- Acho que tem alguma coisa errada no meu documento. Nasci na Polônia. Meus pais e avós, por séculos, são poloneses. No passaporte, na minha nacionalidades esta escrito: Apátrida. O que quer dizer isso?

O moço suspirou irritado. Parecia uma pergunta recorrente.

- Quer dizer que a senhora, daqui para diante, não tem pátria.
Eu não entendi. Como assim não ter pátria? A gente não nasce com ela? Inquiri o senhor, já quase em lágrimas. Ele suavizou a fala, um pouco mais condescendente.

- Sinto muito. Estas são as regras.
A narrativa é bem construída e amarrada. O livro possui capítulos pequenos, e é contado alternando entre o passado e futuro de Irena - os fantasmas do pretérito e sua influência na vida presente, chegando num ponto em que os dois acabam por culminar em um só e mesmo relato. A linguagem é clara e objetiva e, por mais que tenha-me feito emocionar mais de uma vez, em nenhum momento tende ao piegas ou ao sentimentalismo.

A par de outras obras existentes que tem por pano de fundo a Segunda Guerra, Apátrida mostra-se uma narrativa surpreendente, que emociona e também nos faz pensar. Mais do que falar das agruras do passado, vem para nos ajudar a refletir sobre o presente: quais são nossos valores? Por que temos tanta dificuldade em aceitar o que é diferente? Quem somos nós para julgar o Outro em sua singularidade? Dizendo que os ricos, os magros, os heterossexuais são o "normal", não criamos estigmas que fazem sofrer milhares de pessoas?

Por mais que o regime Nazista seja um exemplo extremado de até onde vai a intolerância pelos que são considerados "diferentes", é interessante nos perguntarmos o que temos feito para que a sociedade em que vivemos seja mais justa, e as pessoas possam viver em maior equidade ... Apátrida, vem para nos mostrar, mais uma vez, o quanto a literatura Nacional vem crescendo nos últimos anos, e nos brindando com obras tanto belas como bem escritas como esta. Super recomendo!

13 comentários

  1. Gostei e muito da sua resenha, me fez ter uma curiosidade e até mesmo uma necessidade de ler esse livro. Sempre gostei de livros que me transmitisse uma mensagem e me ajudassem a refletir algo. Esta ja esta na minha meta de leitura. Bju

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  2. Ei Sheila, quando li realmente fiquei emocionada com a história da Irena, e o jeitinho que autora escreveu ajudou ainda mais fazer-nos sentir essa emoção.

    Ótima resenha!
    Beijosss

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  3. Capa linda!
    Resenha muito bem estruturada! AMEI


    Beijo Beijo, Espero sua visita
    Modaeeu.blogspot.com
    Blanc

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  4. Vai pra minha lista de desejados com toda certeza. Adorei a resenha, muito interessante a ideia de repensar nosso valores... Antes odiava esses livros em torno da 2° gerra, quando li O menino do pijama listrado, saí catando quase todos que fazia parte desse 'tema'. E esse parece ser surpreendente também.
    Beijos.
    @MarcinhaCS_

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  5. Muito bem escrita essa resenha, parabens! Me convenceu a adquirir o livro!

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  6. Já ouvi falar bastante desse livro.
    A capa é linda e a história parece ser emocionante.

    bjs
    Tais
    http://www.leitorafashion.com.br

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  7. Já faz tempo que estou querendo ler este livro.
    Bjs, Rose.

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  8. A capa é extremamente linda, so que eu acho que tem que gostar bastante do assunto para ler, pois é uma historia a ser levada a seria, nao para relaxar e por diversão

    xx carol

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  9. Este comentário foi removido pelo autor.

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  10. Eu sou apaixonada pelos livros assim, com uma história que nos fazem repensar as nossas atitudes, os nossos princípios, e acima de tudo, saber valorizar o que temos. E amei a resenha. Vou comprá-lo, com certeza! ;)

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  11. Oi gostei muito da resenha, dessa autora li o livro João & Maria e gostei bastante, quero muito ler Apátrida, só vejo resenhas boas, e isso me deixa bem animada para ler...
    BjOs!!!

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  12. Adoro livros que ocorrem em um cenário, em um tempo de guerra, e com pessoas judias. Aparentemente, o livro já é lindo! A estória deve ser ótima! Todas as resenhas são positivas (:

    Espero poder ler. Ficou ótima sua resenha!

    Beijos

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  13. Parece ser realmente um bom livro, estava vendo esses dias e havia me interessado. O cenário judeo é bem bacana.

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Ana Liberato