segunda-feira, 20 de agosto de 2012

[Minhas Palavras] "Reformas" (Sheila Schildt)


A coluna "Minhas Palavras" apresenta textos originais, de diversos temas, produzidos pela equipe do Dear Book.
"Reformas"

Por: Sheila Schildt, Psicóloga Clínica e Resenhista do blog.


Créditos da imagem aqui
Para que as pessoas mudem, é necessário que elas assim o queiram; para que compreendam, é preciso que estejam preparadas para isso. Nenhuma flor desabrocha antes do tempo, por que sabe que o tempo certo é aquele em que seu botão estiver pronto a abrir-se, e não há nada no mundo mais sábio e perfeito que a natureza.

Querer forçar uma compreensão é o mesmo que tentar - em vão! - ensinar cálculos matemáticos complexos a uma criança pré-escolar. Além de infrutífero, será uma agressão por parte daquele que sabe, e soube em seu próprio tempo, sem conseguir respeitar o do outro.

Por mais que se diga que o advento das modernas tecnologias, aliada ao desenvolvimento do capitalismo e globalização transformou o mundo em uma grande “aldeia”, ele em nada se assemelha a uma.

As pessoas estão cada vez mais voltadas para dentro de si mesmas, entrechocando-se diariamente com milhões de desconhecidos – seus semelhantes – nas grandes metrópoles, sem os ver ou saber de suas dores ou sofrimentos, não só por que não andem estes a reparti-los, mas principalmente pela falta de ouvidos dispostos a escutá-los.

Tudo vira um produto do capital. Tudo vira moeda de troca por bens perecíveis. Até mesmo aqueles que não deveriam tornar-se bens de consumo – nós mesmos, os relacionamentos, a própria escuta especializada da psicologia – acabam por subverter-se aos ditames do consumo desenfreado, do querer sem o concurso do desejo, que se torna assim esvaziado de sentido.

O homem moderno acumula riquezas que não lhe trarão mais que novos dissabores em mantê-las e guardá-las (ou vigiá-las, constantemente, de invasões externas) por que não possui mais ideais pelos quais lutar. Se não se sabe para onde se quer ir, qualquer caminho serve – mas isso não significa que alguns não sejam muito mais difíceis e tortuosos que outros.

Tentar encontrar o desejo cindido, extraviado, fragmentado, manipulado, mercantilizado, deveria ser a missão que move aqueles que propõem conhecer e (re) visitar os recônditos de si mesmos para, ao encontrá-lo, poder soltar-se das amarras imaginárias que nós mesmos construímos para amordaçar os fantasmas que em nos habitam. Só assim (talvez) um pouco da pretensa felicidade poderá ser um dia alcançada.

13 comentários

  1. "As pessoas querem, precisam mudar, mas elas por mais que tentem não mudam." House

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  2. Gizeli Regina Meistersegunda-feira, agosto 20, 2012

    Uau seu texto retrata bem o mundo de hj.
    Parabéns!!!

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  3. A sociedade em que vivemos cultua o individualismo e o coletivo fica em último plano. Para mudar esse quadro depende de cada individuo, pois a mudança só ocorre gradativamente, mudanças ditas radicais não permanecem.
    Se cada um almejar e tentar a sua mudança interior, com certeza ao passar do tempo teremos uma sociedade melhor. A questão é que hoje em dia estamos bitolados no imediatismo e esquecemos que tudo tem um tempo, é um processo sistemático.
    Uma boa reflexão para começar a semana!

    Bjoo.

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  4. As pessoas estão cada vez mais voltadas para dentro de si mesmas e Tudo vira um produto do capital. Frases que retratam bem essa nossa realidade de hoje =/
    Isso é triste sabe...
    Ótimo texto u.u

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  5. Adoro a maneira como vc escreve.
    Parabens!!
    Concordo e discordo em partes. Não sei ao certo se o individualismo é assim tão ruim.
    Convivo no meio de pessoas tão complicadas, que sei lá, as vezes, prefiro passar batido e nem dar bom dia.
    Sou errada?
    Não sei exatamente...pq se sei respeitar as diferenças, pq não conseguem me respeitar??
    Seria melhor se fôsse diferente, se todos nós fôssemos realmente um conjunto...mas não é bem assim e temo que nem nunca seremos.
    Mas...

    Beijos

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    1. OI! Na verdade, a palavra individualismo no contexto em que tentei elaborar nao diz da tendencia ao isolamento - até por que o mundo as vezes mostra-se inóspito e nós precisamos, sim, nos precaver contra ele - mas no sentido de "não se importar com o outro", passar por alguém caído na rua e seguir seu caminho por que nao é problema seu, mais ou menos por ai.


      abraços

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  6. Estamos na época do 'parecer ter', pra causar impressão, ter status, impressionar. E se adequar às regras dos outros, q só julgam pelo q possuímos. Não há o olhar fraterno. E nessa confusão toda, o antagonismo da busca pelo autoconhecimento. O exercício passa pela relação com o outro. O eu-comigo não quer dizer alheio ou 'nem aí'. Quer dizer resolver-se, conhecer-se, respeitar-se. E é praticado na relação com os outros.

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  7. WOW, adorei esse texto guria, ta de parabens, atualmente é isso mesmo que veem acontecendo com as pessoas.

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  8. Seu texto tem muito do mundo atual. Mas as pessoas tem a liberdade de escolha e se não fizer a opção certa, certamente vai ver e sentir a resposta. Há uma frase que diz: Se queres saber o que fizestes no passado observe sua vida atual, mas se queres saber o que será sua vida, também observe o que fazes no presente.
    Tudo depende do que fizermos agora. Se for bem feito, os frutos serão muito bons. O egocentrismo, a achismo, as relações eu-comigo mesmo e eu-com os outros, depende unica e exclusivamente de nós mesmos.

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  9. Adorei seu texto, realmente precisamos de reformas na nossa vida. Isso acontece muito na nossa vida... Queria poder ter esse dom, de escrever assim tão bem!


    Beijos

    Beatriz - Blog Escrevendo Mundos

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  10. Muito bom para refletir, o que é de suma importância em relação a tudo o que você colocou. Suas palavras, abertas, parece como pequenos traços de coletividade e ajuda.

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  11. Sempre ótimo o que leio aqui. Palavras para refletir, palavras inteligentes.

    Sempre bons pensamentos.

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Ana Liberato