sábado, 18 de agosto de 2012

Resenha: "A Carne e o Sangue" (Mary Del Priore)

Por Juny: Não é a primeira vez que eu resenho um livro baseado em fatos históricos, devido a paixão que tenho pelo tema, ano passado li o livro “Boa Ventura – A Corrida do ouro no Brasil”.

Quando surgiu a oportunidade de ler esse livro no Kindle não resisti. Muito pouco se ensina nas escolas sobre essa parte da história de nosso país, o período da chegada da família real portuguesa, a independência e o império.

O título “A Carne e o Sangue” se justifica pelo fato que antigamente havia essa divisão no amor, principalmente entre os mais nobres. O “sangue” seria a pessoa nobre vinda de uma família de muito prestigio, num casamento arranjado com intuitos políticos, que serviria para ter os filhos legítimos e continuar a linhagem. A “carne” seria o relacionamento extraconjugal, baseado em paixão e sexo, muito comum entre reis e demais nobres na história, onde eles tinham muitas amantes ou uma “favorita”.

Mary Del Priore nos conta essa história, com base em cartas trocadas entre figuras notórias da época. O foco do livro é o triangulo amoroso: Leopoldina, D. Pedro e Domitila (A famosa “Marquesa de Santos”). O livro vai fundo nos sentimentos vividos pela trio e na repercussão do escândalo.

Conhecemos a jovem austríaca Leopoldina Habsburgo, filha de Francisco I (Imperador do Sacro Império Romano-Germânico, e posteriormente somente Imperador da Áustria), ingênua, muito temente aos princípios da Igreja e cheia de sonhos, que fica cega de um amor de devoção quanto vê a foto do príncipe brasileiro (D. Pedro) que a quer em casamento, acredita que terá um futuro maravilhoso no novo mundo.

Para a jovem noiva, o príncipe era “tão lindo quanto um Adônis, [...] fronte grega, sombreada por cachos castanhos, dois lindos e brilhantes olhos negros, [...] ele todo atrai e tem a expressão eu te amo e quero te ver feliz, [...] já estou completamente apaixonada.”
D. Pedro era um jovem príncipe brasileiro, com dificuldades em “controlar seus hormônios”, que sempre teve muitas amantes e tinha em mente que a carne e o sangue eram coisas que nunca se misturavam. Ele literalmente “pegava geral”. Diziam que os pais escondiam suas filhas, pois tinham medo que o príncipe gostasse delas e eles nada pudessem fazer para salvar sua honra.

Em verdade, a província o idolatrava porque via nele um príncipe ativo, endurecido nos trabalhos, incansável, generoso, amante da liberdade brasileira e quase filho do Brasil (...)
Mais adiante conhecemos Domitila de Castro Canto e Melo, paulista divorciada, que como muitas de suas conterrâneas era uma mulher independente, com espírito empreendedor e dona de uma beleza arrebatadora. Ela conseguirá a paixão do imperador que lhe dará muito poder e a levará ao título de “Marquesa de Santos”.

Ao fazer reverência diante do futuro imperador, Domitila teria dito: “Não é a vós que eu amo, senhor, é a vossa glória”. Possuir Domitila não seria possuir um reino inteiro?
Há muito mais do que se imagina nessa história. Leopoldina é uma sofredora, que aos moldes das mulheres da época atura tudo que o marido apronta, faz vista grossa, sofre calada, o obedece acima de tudo, porque é o que a Igreja diz que se deve fazer. Isso a leva a ruína. Domitila abusa do poder que exerce sobre D. Pedro, ela literalmente manda nele, interfere em suas decisões. E acompanhamos a trajetória de D. Pedro que passa de Príncipe a Imperador, apesar dos muitos problemas políticos pelo caminho, ele triunfa. Porém suas relações amorosas arruínam sua reputação, tanto no Brasil quanto no exterior.

Nenhuma mulher se negava a D. Pedro, não só por ser príncipe mas por ser fogoso.
Confesso que não agüentei esperar até o fim do livro para descobrir o destino dessas três figuras históricas, li spoilers na wikipedia! XD ... Porém isso não afetou a continuidade da leitura, pois Mary sabe levar a narrativa de modo que não conseguimos parar de ler, queremos descobrir todos os segredos.

Enfim, é impossível não ter dó de Leopoldina, uma vítima do poder, numa época onde filhas só serviam para amarrar alianças políticas entre as cortes, sentimentos não importavam. Porém também, em muitos momentos há de se admirar a ousadia de Domitila, uma mulher que escandalizou a sociedade numa época onde era “lei” viver a sombra dos homens. E quanto a D. Pedro, há muito menos glamour em sua história do que mostram nas aulas de história, ele era tão humano e cheio de erros.

A herdeira os aconchegou e ela, apesar de queixar-se de melancolia, concluía: “Desfruto de uma perfeita felicidade, em minha perfeita solidão que eu amo infinitamente”.
Embora em alguns momentos se use da linguagem da época na narrativa ou nos trechos das cartas, a leitura flui muito bem e é extremamente interessante. Recomendo!


10 comentários

  1. Ao contrário dos demais, eu adoro a história brasileira! Com certeza esse livro vai estar na minha estante. Cara, já ouvi falar a tal Marquesa de Santos, coitada da Leopoldina ;/

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  2. Opa que eu gostei. Amo esse estilo de livro, linguagem mais fina etc e tal. Gostei desse livro mesmo. Ah caramba, onde vou arrumar um desses?!! D= eu quero agora! *-*

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  3. Não gosto muito de romances históricos no geral, no entanto sendo do Brasil fico um pouco mais com o pé atrás, já li romances bons, mais alguns, meu Deus, me pergunto como foram publicados. Mas nunca digo não a uma leitura, então quem sabe?

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  4. Não gosto muito do genero desse livro, sempre que começo ler um livro assim eu acabo ficando com um sono (não me pergnte o porque ) e dessisto da literarura.

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  5. Engraçado que não gosto muito de romances de época. Mas, em se tratando da nossa história - mal contada - brasileira, o triângulo amoroso merece atenção. Tanto pela ousadia da amante - moderna demais - quanto pela dor da esposa traída. O homem é apenas um repetidor da mania masculina de achar que precisa de mais de uma mulher. O brilho está nas duas.

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  6. Não me interessei pela trama, apesar de ser baseada em fatos reais.

    Bjoo.

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  7. Li o título do livro e já ia passando direto para outro post. Aí vi o nome da autora. Mary Del Priore! A Mary é uma diva! Escritora, historiadora (e mais um monte de coisas) brasileira muito inteligente, bonita e com uma escrita que desbanca qualquer estrangeiro. Leio qualquer obra dela sem medo. A Mary faz o assunto histórico mais chato se transformar numa trama que você quer acompanhar. Divertida, crítica e sem nunca sair dos fatos. A professora que qualquer aluno sonha ter! E qualquer leitor procura!

    Li o livro "Histórias Íntimas" dela. Fantástico! Folheei "O Príncipe Maldito", mas não consegui emprestado da biblioteca para terminar (quem consegue ler um livro repleto de conhecimento em menos de duas horas?! Não eu).

    Gente, leiam as obras da Mary! Os livros de história de nossas escolas (e mesmo das faculdades) estão tão errados em vários pontos da história do Brasil! A Sra. Del Priore escreve o que há de mais novo na pesquisa histórica. Ela escreve o mais próximo da verdade, afinal ela está bem no meio dos grandes pesquisadores!

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  8. Gizeli Regina Meisterterça-feira, agosto 21, 2012

    Não sou muito fã de livros históricos mais gostei do que li na resenha. Se surgir uma oportunidade, quem sabe...

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  9. Eu estou de olho nesse livo já faz um bom tempo, mas é a primeira resenha que leio sobre ele, e fiquei com mais vontade ainda de ler. Você foi ver o final da história antes de ler só de curiosidade e eu às vezes fico admirada por pessoas que perdem o interesse pela leitura de um livro só por saber o final, mas para mim mais importante que o final é como o autor chegou lá e a maneira que ele escolheu para contar a história, spoilers não me assustam, o que me afasta da leitura de um livro é quando ele é previsível demais ou repetitivo.

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  10. No momento não seria o tipo de livro que leria. Mas, amei a forma de divulgação, ainda mais sendo sobre a história do Brasil.

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Ana Liberato